NU Da forma que veio ao mundo, das... Walace Miguel
NU
Da forma que veio ao mundo, das formas de andar no mundo, olhar cheio e desnudo, o arrepio na pele obriga a língua cavar profundo.
Profanos seres que julgam como viemos ao mundo, como estamos no tempo, como nos devoramos agora, quando incontáveis ao tempo, quando o amor sussurra saudade de fora pra dentro, mas o que é infinito é minúsculo a vontade que esmurra o peito de dentro pra fora.
Sou pele, pelo, cor, sei de cor, em cada dedo, pra cada nó, segredos de nada, do lado de algo que nos faz companhia na estrada fechada de um passo só.
Sem vestes, sem pudor, sou perfeição, sou testes, aluno e mestre, sou parte sua, nuanças de sombra nua, sou teu servo, teu escravo, teu senhor.
Me traga um trago amargo do estrago que deixou um olhar vago, doce amargo, poema de Saramago, criação sem plágio, embriagando em saliva, em cais de sol e sais, meu refúgio pra naufrágio.
Frágil, quebradiço, fez de mim cortiço, sem cortina sem janela nem parede com chão de ouro maciço, fez de mim presença, sumiço, nus como viemos ao mundo, esse verso é sobre isso.