Um sopro atravessa a sala, sem som, sem... Teilor Lopes

Um sopro atravessa a sala,
sem som, sem pressa,
como quem toca sem tocar.
A luz muda de tom.
Nem laranja, nem ouro —
apenas o que resta quando o dia
esquece de terminar.
As paredes não dizem,
mas sentem.
O relógio não marca,
mas para.
Por vinte minutos,
algo maior do que o tempo
resolveu ficar.
Venceu a etapa de quando dois ventos sopravam dentro de ti —
um a busca, outro um sussurro,
divididos entre desejo e vazio.
Venceu.
Minha força é chama viva: não queima, apenas ilumina —
e assim, dissolve o que não encontra raízes.
Ares que vieram, regidos pela leveza e pela dualidade,
ressentidos em dança, curiosos, sem fundação, também logo se foram.
Mas eu — inteiro, com mil facetas convergindo —
sou o eixo que o vento não pôde partir.
Temos mar dentro do peito,
íntimo, sussurrante, lento.
Nessa maré que nunca se cansa,
há compaixão, há dádiva, há dom.
Não existe solidão tanto quanto
a paisagem seca de quem desconhece o mar —
e contempla isto em silêncio.
Observa, mas não compreende.
Tenta tocar, mas a água escapa.