Meu último amargo. São meus últimos... RENATO JAGUARÃO

Meu último amargo.




São meus últimos amargos,
acostado nesse catre.
Nem é lugar pra mate,
o certo é no galpão.


Mas já me tremem as mãos
e meu dorso impede andança.
Me lembro ainda criança,
rotoçando por esse racho.


Mas a vida é feito um desmancho,
feito cavalo em carreira:
passou levantando poeira,
se foi sem pedir permissão.


Falam em encarnação,
numa volta à existência.
Se for, rogo a coincidência
pra voltar pro mesmo chão,


pro rancho, mangueira, galpão,
pros pagos dessa fronteira,
pra velha lida campeira:
pelego, catre, chergão.


Não há outra que queira.
No mais, esse é meu ofício:
a doma, o mate, meu vício.
Já nasci enfurquilhado,


e um gaúcho bem montado
nada mais pede a Deus,
só que volte donde nasceu,
onde minha alma se acampa,


pra voltar a ser estampa
da herança farroupilha,
domando e gastando encilhas
nas estâncias dessa pampa.




Renato Jaguarão