É tarde. O mundo dorme. E eu estou... Mikaele Rocha
É tarde.
O mundo dorme.
E eu estou aqui,
olhando pro teto,
como quem espera
uma resposta que nunca vem.
Tem dias que parecem semanas.
Tem noites que duram uma vida.
E mesmo quando tudo está quieto,
aqui dentro
continua gritando.
Me disseram, por tanto tempo,
que ser eu era errado,
que eu comecei a acreditar.
Fui apagando pedaços de mim
pra caber em lugares pequenos
demais pra quem só queria existir.
Olhar no espelho
e não reconhecer nada:
nem os olhos,
nem o nome,
nem a história.
Não saber quem sou.
Não ser o que esperam.
Não ser nada que baste.
Só esse lugar nenhum em mim.
Viver tentando lembrar
de quando foi que começou a doer tanto,
e não achar o começo.
Não saber se ainda sente,
ou se está só copiando emoções
que aprendeu a demonstrar
pra não parecer
vazia demais.
É dizer “tá tudo bem”
porque é mais fácil
do que explicar
o que nem se entende direito.
Pensar em desaparecer,
e depois se sentir culpada
por pensar nisso
como se até a dor
fosse um erro.
Queria ter coragem.
De gritar.
De não me calar.
De admitir que está difícil.
Mas, ao invés disso,
eu só fico aqui,
escrevendo pra ninguém,
deixando que o papel segure
o que eu não consigo mais
carregar sozinha.