A Travessia do Ser Há um tempo que não... ceicapearce

A Travessia do Ser
Há um tempo que não se mede em horas,


É o tempo da alma, que vem e demora.


É quando a vida exige sentido,


E o coração cansado grita sem ruído.


Crescer não é subir, é afundar primeiro,


É encarar o escuro, o próprio travesseiro.


Revisitar memórias, desatar os nós,


Ouvir a infância ainda gritando em nós.


A família — o primeiro espelho partido,


Amor e ferida no mesmo tecido.


Nos laços que curam também há dor,


Mas é nesse emaranhado que nasce o amor.


Despertar não é se iluminar inteiro,


É acender um canto por dia, por inteiro.


É morrer um pouco pra enfim renascer,


É escolher-se, mesmo sem saber.


A alma não grita, mas sussurra forte,


Guia nossos passos, muda nossa sorte.


E no silêncio entre um trauma e a cura,


Ela encontra a chave da ternura.


Não há mapa certo pra quem quer voltar,


Só o impulso interno de se reinventar.


A dor é mestra, a queda é semente,


E amadurecer é sentir conscientemente.


Então sigo, sem pressa, sem disfarçar,


Aprendendo que sentir é forma de estar.


Que viver não é vencer nem fugir,


Mas se permitir — e prosseguir.


CONCEIÇÃO PEARCE