Ciclos que Não Cabem no Relógio Não... ceicapearce
Ciclos que Não Cabem no Relógio
Não é no calendário que a vida se escreve,
É no impacto daquilo que a alma recebe.
Há anos que duram segundos, sutis,
E segundos que abrem abismos sem fim.
Nem todo ciclo começa em janeiro,
Alguns se iniciam num olhar verdadeiro.
Outros nascem quando tudo desaba,
E a alma despida só sente e não fala.
Há despedidas que marcam começos,
E encontros que duram só por excesso.
Há primaveras que brotam no luto,
E invernos que chegam sem aviso e sem escuto.
O tempo real não vive nos ponteiros,
Mas nos suspiros contidos, nos travesseiros.
É no corpo que chora sem saber por quê,
É na alma que insiste em permanecer.
Os ciclos da vida não seguem o relógio,
Eles vêm com amor ou partem com ódio.
São ondas internas, marés do sentir,
Nos puxam ao fundo, pra depois emergir.
Tem dor que é mestra, tem medo que guia,
Tem perda que limpa a alma vazia.
E quando parece que tudo é ruína,
A alma, em silêncio, germina.
Assim, seguimos — sem saber quando ou por quê,
Mas sentindo que algo em nós quer nascer.
Não somos linha reta, somos espiral,
Vivendo o eterno num tempo sem igual.
CONCEIÇÃO PEARCE