MEU MUNDO AOS 40. "Nunca soube ao... Miguel Caparelli Neto

MEU MUNDO AOS 40.
"Nunca soube ao certo o que queria, e talvez por isso tenha sido mediano em tudo. Fui um médio filho, médio irmão, médio amigo, médio marido, médio profissional e um médio Alagbê. Mas ser mediano, no meu caso, nunca foi uma zona de conforto, era a saída da zona ruim. Meu esforço sempre foi diário, a busca por ser melhor do que eu fui ontem, e isso, ao longo do tempo, me levou à mediocridade. Uma mediocridade que eu precisei aprender a amar.
Aos 40, passei a entender melhor o amor fati, de Nietzsche, no qual se passa a aceitar, ou melhor, a amar, os desafios do destino, por mais dolorosos que sejam. Para um ser mediano como eu, essa filosofia se traduz num esforço motriz de uma usina nuclear, pois é preciso manter-se no patamar mediano, mesmo já com 40 anos.
Antes, a mediocridade não era o meu aspecto principal de vida. Aliás, sequer achava que um ser mediano poderia ser bom, pois sempre me cobrei pela excelência. Mas hoje, aos 40, a minha excelência é ser mediano. E por isso celebro minhas médias colunas, médios joelhos, médios pensamentos, média visão e a minha privilegiada calvície.
Ao final desta jornada, ao chegar do lado de lá, caso ele exista, não aceitarei os dizeres, 'você não tentou'. Pois briguei muito para ser mediano. E essa foi a minha maior luta. Bem-vindo aos 40."