Vinte e Dois de Lucas (Ou: Minha Última... Zeta

Vinte e Dois de Lucas
(Ou: Minha Última Canção Desesperada)
A noite está andando.
E com ela, tudo vai cessando.
Mais um dia, mais um ciclo,
mais um momento em que —
como sempre —
eu ainda te procuro.
Te procuro como quem espera,
em noite minguante, uma lua cheia.
Não te escrevo com raiva,
nem com aquela febre romântica dos meus 16.
Te escrevo como quem ainda olha pro lado esquerdo da cama
e tenta aceitar que ali não esteve ninguém —
e talvez nunca tenha havido.
Já passou o tempo em que eu esperava te ver por aí.
Mas mesmo assim, às vezes, ainda imagino:
Você, sentada num bar qualquer,
conversando com uma amiga...
ou, quem sabe, rindo com algum desgraçado
que me faria querer dar um soco na barriga,
como se isso fosse me trazer você de volta.
(Mas que ilusão essa minha...)
Às vezes te imagino triste,
com os olhos cheios de mim —
mas sei que isso é mentira bonita,
pra não admitir que fui o único a não ter fim.
A verdade é que nós de agora
já não somos os de antes.
E os de antes… já não voltam a ser os de agora.
O tempo passou, e com ele passou você.
Passaram também meus versos dramáticos,
meus discursos sobre destino,
meus pedidos pro universo te trazer de volta
em alguma manhã chuvosa de domingo.
Hoje, te escrevo menos por saudade,
e mais por hábito.
Talvez seja esse o meu jeito de dizer adeus:
escrevendo até secar.
Mas… quando seca?
Sinceramente — não sei.
Não é mais paixão.
É só memória cansada de se repetir.
Por isso, encerro aqui
os Vinte e Dois de Lucas —
o meu "Neruda de fim de curso",
o meu testamento piegas,
o meu lamento que virou rotina.
E prometo (pela milésima vez):
não vou mais te escrever.
Mas se eu voltar,
é só porque doeu de novo.