Nasci no ventre do eco, onde o tempo... Alexsander Noah

Nasci no ventre do eco,
onde o tempo não ousa entrar.
Ali, o mundo me olhou de costas,
e eu tive que ser meu próprio espelho.
Trago os ossos do pensamento à flor da pele,
mas ninguém ouve a dor que não sangra.
Tudo em mim é vidro —
mas cortante, não frágil.
Chamei a ausência pelo nome,
ela respondeu com o meu silêncio.
E no frio do sentido negado,
vi que até Deus evitava meus olhos.
A mente, em espirais de pedra,
caminha sem chão,
mas insiste em buscar
uma saída onde não há porta.
Sou o cárcere que se nega a abrir-se,
sou a chave que teme a liberdade.
Ser é um verbo afogado —
mas ainda respiro.
E se tudo isso for o belo?
Essa dor sem forma,
esse grito contido,
essa esperança disfarçada de exílio?
Pois talvez o belo more
não no alívio,
mas no gesto de seguir
mesmo sem horizonte.