Os privilégios ⁠ Em um país onde... Renato Jaguarão

Os privilégios ⁠ Em um país onde milhões de brasileiros vivem com um salário mínimo que mal cobre as despesas básicas, é revoltante saber que existem servidores... Frase de Renato Jaguarão.

Os privilégios ⁠

Em um país onde milhões de brasileiros vivem com um salário mínimo que mal cobre as despesas básicas, é revoltante saber que existem servidores públicos recebendo salários que ultrapassam em muito o teto constitucional. O que era para ser uma exceção se tornou uma regra não escrita: a de burlar a lei com criatividade, penduricalhos e benefícios disfarçados de indenizações.

A Constituição Federal é clara: o teto salarial do funcionalismo público está limitado ao valor recebido pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. No entanto, na prática, esse teto virou uma ilusão. Auxílios diversos — como moradia, alimentação, transporte, e até mesmo o "auxílio livro" ou "auxílio creche" — são usados como artifícios para inflar os contracheques. Não são salários? Sim, são. Mas são mascarados para escapar da regra.

Esses penduricalhos são verdadeiros insultos à população. Em muitos casos, juízes, procuradores e outros altos servidores recebem mais de R$ 100 mil por mês, enquanto professores, enfermeiros e policiais convivem com salários baixos, jornadas exaustivas e pouca valorização. O mais absurdo é que esses benefícios muitas vezes não são taxados, o que representa uma distorção fiscal ainda mais grave.

Trata-se de um privilégio institucionalizado, sustentado por uma elite burocrática que legisla, interpreta e se beneficia. Não há como falar em justiça social ou em equilíbrio fiscal enquanto os maiores salários da República são pagos com dinheiro público e em total desrespeito à lei maior do país.

Enquanto isso, governantes pedem "sacrifício" da população, promovem cortes em serviços essenciais e dizem que "não há dinheiro" para áreas como saúde, educação e segurança. A realidade é que o dinheiro existe, mas está mal distribuído — concentrado no topo de uma pirâmide de privilégios inaceitáveis.

E o mais grave é que os mais penificiados por esses privilégios, são aqueles que deveriam fazer cumprir a lei, a constituição.


Se queremos um Brasil mais justo, precisamos começar por respeitar a Constituição. E isso inclui cumprir, com rigor, o teto salarial. Acabar com os super salários não é apenas uma questão de economia, mas de justiça, decência e respeito ao povo brasileiro.


Renato Jaguarão.