A mesa do sol Num tempo de sol... André Luiz Zanata

A mesa do sol
Num tempo de sol inclinado,
quando as sombras chamam pelo nome,
um homem cruzou a rua de si mesmo
e entrou em casa.
Lá fora,
copos reluziam como promessas,
vozes antigas sopravam risos
com o gosto da repetição.
Mas ele —
fez silêncio.
E no silêncio,
descascou a raiz da terra,
ferveu o feijão da memória,
temperou a carne com coragem,
e ardeu, na pimenta,
tudo o que ele não queria mais engolir.
Fez chá.
Amargo, como são os recomeços.
Com limão, como são os limpos.
Bebeu devagar —
não era cura instantânea,
era rito.
E ali,
sem altar,
sem plateia,
sem aplauso,
ele venceu.
Não o mundo.
Não os outros.
Mas a si —
e isso, o vento levou como segredo,
para semear em outros corações
que também estão quase voltando pro bar.