Eu sempre falhei em falar, minha... Alana Mohr

Eu sempre falhei em falar, minha garganta dava nós e minha mente não sustentava uma só frase, arames se agarravam como colares no meu pescoço e qualquer palavra se desfazia rapidamente, minha incapacidade de contar com a boca me deu o nobre talento de escrever, eu escrevia bíblias sobre coisas banais, enciclopédias sobre histórias de amor e dicionários sobre o mais simples acontecimento, redações não eram pra mim, eu queria escrever poemas e poesias, textos lindamente trágicos e tragicamente lindos, a caneta era arma, e o que saía não eram só palavras, eram sentimentos, partes de mim, quase como gotas do meu sangue e pedaços do meu cérebro, eu colocava partes da minha alma em cada sílaba e uma doze de humanidade em cada letra. As noites eram as mais barulhentas, quando todos estavam quietos, era quando o papel gritava cada pensamento meu, cada carta, cada música, poema e textos nunca e jamais lidos eram como discursos, palestras e sermões jamais e nunca ouvidos, eram segredos encantadores, vozes medrosas silenciadas, pensamentos impuros e inquietantes, suspiros quase sussurrantes, e tudo isso em um pouco de tinta e papel