"Lembrei daqueles olhos miúdos,... Anaíza Durval

"Lembrei daqueles olhos miúdos, verdes como o mar, que representa o caos e o mal. De fato, havia algo de diabólico naquele par de olhos que me encarava. Ha... Frase de Anaíza Durval.

"Lembrei daqueles olhos miúdos, verdes como o mar, que representa o caos e o mal. De fato, havia algo de diabólico naquele par de olhos que me encarava. Havia também ali melancolia e solidão que reconhecia em meus próprios olhos. Pensei que ele era igual a mim, que me entenderia. Sempre gostei de olhos, de desenhá-los... Como resistir ao convite de encará-los? Oh, que tolice foi ter aceitado.
Se eu não tivesse me atrasado naquele dia, se não tivesse escovado os dentes no ônibus, se não tivesse corrido com fones de ouvido junto com os gatos malucos da universidade, para evitar dizer a hora e dar bom dia as pessoas entediadas nas mesas, que aguardavam a primeira refeição do dia, por medo de ter creme dental no rosto.
Se não tivesse visto a silhueta dele no meio dos arco-íris, formados pelos malditos irrigadores, como se tivessem sido abertos para aquele encontro, em que me dei conta da existência dele pela primeira vez.
Se ele não tivesse implicado comigo durante a aula, se eu não tivesse me gabado disso no banheiro e ao sair pedido mentalmente para morrer, por vê-lo com sua camiseta estúpida do Black Sabbath, de braços cruzados aguardando uma resposta.
Se eu não tivesse pegado dois ônibus quebrados, perdido meu cliente e fortuitamente o encontrado na parada de ônibus da forma mais bizarra possível.
Se não tivéssemos nos tornado amigos e não tivesse encarado seus olhos e sentido que precisava me afastar.
Se não tivesse sido convidada para sair e ao me despedir não tivesse recebido meu primeiro beijo com vinte e um anos de idade.
Oh, que tola fui Cecília Meireles, compreendo seu epigrama n.8, agora. Oh, Van Gogh, se eu tivesse me atentado aos detalhes dos discursos babacas e revolucionários dele, teria percebido que ele não era uma pessoa séria. Oh, Jane Austen, se não tivesse sido persuadida por seu conselho em "Persuasão", porque minha querida, às vezes o amor não é suficiente, às vezes deixamos a vida nos pregar peças e é bom demais pra ser verdade.
Mas compreendo o valor do conselho de Austen, o problema foi minha escolha de aplicabilidade."