Sofro de baixa tolerância ao medo em... Arcise Câmara

Sofro de baixa tolerância ao medo em geral

Esse sentimento é vivido na gratuidade, tenho medo de tudo, de não conseguir memorizar a fórmula, de deixar meu namorado à vontade e ele me deixar, de flores desabrochando num dia e morrendo no outro.
Tenho medo de segredos, de coisas escondidas, de esquecimentos, de perda da confiança entre o casal, de espírito não evoluído, de emoções insanas, de esforços não coroados e de duas pessoas que jamais se entrelaçarão.
Tenho medo de não qualificar o pensamento na plenitude, das influências, de deixar a oportunidade escapar pelos dedos, de tragédia alheia, do sofrimento, de pessoas olhando para mim de todas as direções.
Tenho medo dos sonhos da alma e dos conflitos com os instintos, da noção irreal da minha capacidade física, da falta de concentração, do cansaço constante, de quem valoriza muito as aparências.
Tenho medo de achar normal irmãos se socarem de vez em quando, de fazer das emoções sentimentos mesquinhos, de perder meu filho, de parar de refletir sobre tudo que me cerca, de assumir o papel de mulher submissa.
Tenho medo da dor mais aguda, da morte das pessoas que mais amamos, de comprar sem nenhum planejamento prévio, de não ver a diferença marcante no relacionamento abusivo, de casamento como uma convenção externa, por birra ou por farsa.
Tenho medo de amar simplesmente por amar, de desconfiar da felicidade, de me deixar levar, de ser a adulta insegura e queixosa, de vivenciar tristezas, de não dar o melhor de mim.
Tenho medo de histórias racistas, de ignorar quem sofre ao meu lado, de contribuir para a glamourização da vida perfeita que não existe, de ser marcada por falta de afetividade, de querer tudo agora.
Tenho medo de perder o desejo genuíno da simplicidade, de mostrar palavras e não atos, de querer me dar bem em quaisquer circunstâncias, em transformar-me numa pessoa pior, de perder a decisão sobre meus atos.
Tenho medo de macular as evidências essenciais e divertidas, de ser obrigada a me adequar, de relacionamentos tensos e perturbadores onde eu ainda luto acreditando ser a melhor coisa.
Tenho medo de mandar pessoas as favas e não lembre que eu preciso tolerar e viver as virtudes que não tenho.