A fonte eterna e a fonte terrena Do... Monica Campello

A fonte eterna e a fonte terrena

Do poço para verdades elevadas: do mundo para a salvação eterna.

Jesus, o nosso Deus, é o Homem que revela a nossa identidade.

“Venham ver um homem que me disse tudo que eu já fiz na vida! Será que não é ele o Cristo?” (Jo‬ ‭4:29‬)

Como conhecer a nossa identidade em Cristo?

Cristo é onisciente. Ele conhece os nossos pensamentos, nossas palavras e ações antes mesmo de nós os manifestarmos. Isso é um indicativo da magnitude do seu conhecimento. É ele como Deus e Logos — o Verbo divino, i.e., a Palavra, a sua palavra escrita, as Escrituras Sagradas — que nos leva a conhecermos a nós mesmos.

É verdade que as pessoas sem Cristo entendem que elas se conhecem a si mesmas, mas isso não é verdade. Note-se que, muitas vezes, quantas pessoas se surpreendem com suas próprias reações a determinadas ações após as quais julgariam ter comportamento diferente.

A mulher samaritana que pronunciou a frase do versículo acima falava de um monte, mas Jesus se voltou para o seu coração. Como muitos, ela esperava pelo Messias e acreditava que ele significava uma esperança futura. Jesus era o Messias esperado e ele se colocou diante dela face a face como Cristo (que significa Messias, o Ungido).

Seu encontro com Jesus elucida o trajeto espiritual que ela percorreu até o momento em que ela reconheceu a sua divindade, vendo-o primeiramente como um judeu (v. 9), em seguida como um profeta (v. 19) e finalmente o reconhecendo como o Messias.

Jesus não precisou recomendar que ela espalhasse a boa nova, pois sabia que ela mesma se encarregaria de fazê-lo após ter lançado em sua vida a semente da verdade eterna que naturalmente brotaria independentemente de técnicas humanas como as de evangelização entre outras. Note-se que ela Ela não recebeu aulas para essa missão espiritual porque recebeu o aprendizado diretamente do próprio Deus.

E o que se viu na sequência daqueles dias e que se perpetuaram até os dias atuais é justamente o homem pretendendo ensinar outros homens acerca de coisas que só Deus pode revelar. É necessário, sim, o ensino nas igrejas, mas isso jamais poderá suplantar o aprendizado espiritual que vem de Deus mediante uma comunhão pura e verdadeira. Isso nenhum professor de escola dominical, nenhum professor de seminário, nenhum pastor, seja lá qual for o ministério que ocupe na igreja, poderá jamais ensinar para ninguém. Trata-se de uma experiência indizível que somente a pessoa e Deus, em uma intimidade relacional de Pai e filho, podem compreender.

Quando a mulher samaritana sai de perto de Jesus, deixando o seu cântaro, isso significa que ela já não se importava mais com as coisas materiais, com as coisas insignificantes da vida, com as pequenezes que o mundo oferece. Ela tinha encontrado algo muito maior; por isso, ela deixou para trás o que era de menor valor: a água da fonte terrena, pois encontrara a água da fonte eterna.

Ela despertou para a necessidade de adorar a Deus de modo verdadeiro; então, perguntou a Jesus sobre qual lugar Deus aceitaria adoração, se em Jerusalém ou em Samaria, onde viviam, respectivamente, os judeus e os samaritanos. Quer dizer, ela pontuou dois locais onde havia disputa acerca de questões de fé, mas Jesus lhe respondeu que Deus, o Pai, procura verdadeiros adoradores, independente do lugar onde se encontrem.

O local de adoração não importa desde que as pessoas o adorem em espírito e em verdade, demonstrando um despertar para um desejo sincero pelas coisas espirituais concernentes a Deus. Isso quebra com todo o legalismo relacionado à adoração imposta por pregadores em igrejas, templos e megatemplos onde eles a julgam devida. Todavia, isso contraria a verdade divina quanto à adoração que ele requer de seu povo a qual independe de grupos religiosos, ajuntamento congregacional etc. Deus não olha o coletivo, mas o individual; em meio a uma multidão, ele enxerga cada filho seu. O que Deus quer de fato é um relacionamento genuíno conosco.

“Mas está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. O Pai procura pessoas que o adorem desse modo. Pois Deus é Espírito, e é necessário que seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo ‭4:23-24). Em espírito e em verdade, ou seja, de maneira verdadeiramente espiritual.

"Em espírito" significa a atitude da mente e do coração que agrada a Deus em vez de práticas legalistas que agradam a homens que delas se ocupam, como os ritos praticados nos ambientes religiosos — dízimos, ofertas, sacrifícios, obrigações eclesiásticas, compromissos ministeriais, obras assistenciais, pregações deturpadoras do texto escriturístico, incitação à crença em teologias divergentes da doutrina de Jesus, tudo feito com interesses escusos, pelo que responde o Senhor:

"Quando aquele dia chegar (o Dia do Juízo Final), muitas pessoas vão me dizer: 'Senhor, Senhor, pelo poder do seu nome anunciamos a mensagem de Deus e pelo seu nome expulsamos demônios e fizemos muitos milagres!' Então eu direi claramente a essas pessoas: 'Eu nunca conheci vocês! Afastem-se de mim, vocês que só fazem o mal!'” (Mt 7:22,23).

"Em verdade" denota a revelação dos atributos de Deus, como a sua vontade e o seu caráter, através das palavras e ações de Jesus e da manifestação e atuação do Espírito Santo:

"A lei foi dada por meio de Moisés, mas o amor e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo" (Jo 1:17);

"Quando o Espírito da verdade vier, ele ensinará toda a verdade a vocês" (Jo 16:13);

"Aquele que Deus enviou diz as palavras de Deus porque Deus dá do seu Espírito sem medida" (Jo 3:34);

"Conhecerão a verdade, e a verdade os libertará" (Jo 8:32).

De acordo com João 4:24, “Deus é Espirito" o que significa que ele é espiritual e não físico, ou seja, Deus não se limita a espaço e tempo; ele é onipresente, ou seja, ele se encontra em todos os lugares de modo que a adoração devida a ele pode ser feita em todo lugar e em todo o tempo. Além disso, a oração pode ser elevada a Deus onde quer que o fiel esteja. O modo como adoramos a Deus importa mais do que o lugar onde o fazemos, i.e., não é onde adoramos, mas como adoramos a Deus - com que mente, com que coração, com que intenção.

Jesus demonstra por suas palavras que a adoração devida a Deus ultrapassa dimensões terrestres, materiais, físicas, vencendo as intenções egoístas daqueles que pretendem aprisionar os fiéis às quatro paredes de um templo, como um confinamento de sua fé. Logo, o que impota realmente é uma adoração legítima que se eleva aos céus, revelando-se celestial e não terrena.

Adorar a Deus implica também o comportamento digno, agradável e aprovado por ele. Nesse contexto em questão, comparando com os religiosos legalistas dos templos, há pessoas que agem como os judeus hipócritas que desprezavam os samaritanos, mas os judeus verdadeiros não agiam assim. É pelas reações que se conhecem as pessoas e não pelas suas ações, pois as ações podem ser mascaradas, mas as reações revelam até o que não se deseja revelar.

Interessante observar que os discípulos de Jesus que eram judeus e tinham todos os motivos para desprezarem os samaritanos não o fizeram, o que significa que eles não eram hipócritas, pois eles até entendiam essas questões, mas não questionaram Jesus sobre isso, sobre o fato de ele receber a samaritana e conversar com ela; eles sabiam da problemática entre esses povos, mas respeitaram a atitude de Jesus, que, sendo judeu, não desprezou a mulher samaritana, e seguiram o seu exemplo.

O chamado de Deus ao povo no Antigo Testamento, o chamado de Jesus à mulher samaritana, o chamado de Deus a nós hoje sempre foi e sempre será para o adorar em espírito e em verdade em primeiro lugar, dando a ele a glória devida, independente de tempo ou espaço, mas com a verdade do coração, e nisso podemos encontrar a nossa identidade em Cristo, em que agindo assim nos fazemos à sua imagem e semelhança, correspondendo à sua vontade.

“Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas. Eis que faço coisa nova, que está saindo à luz; porventura, não o percebeis? Eis que porei um caminho no deserto e rios, no ermo” (Is 43:18-19).

Assim que conheceu Jesus, a mulher samaritana deixou seu passado no passado e se tornou uma missionária voluntária no reino de Deus onde seu cântaro de Água viva estava sempre cheio pelo derramar da sua fé e convicção da vida daquele que a oferecia de graça. Ela, para exemplo de muitos cristãos, produziu frutos abundantes com o seu testemunho de fé e experiência com Jesus, o próprio Deus, o Logos encarnado. Sejamos como ela para que tenhamos uma vida frutífera não apenas para nós mesmos, mas também para os outros a quem Jesus quer salvar e lhes dar uma identidade que os identifique com o Rei da glória. Emunah. Shalom.