É realmente incrível como a gente se... Lucas Pires

É realmente incrível como a gente se esquece de como coisas boas acontecem inesperadamente e que o inesperado acontece quando não se espera. Óbvio, mas nem tanto. Isso significa que quando eu já estava cansado depois de um longo dia na faculdade esperando vê-la, me cansei de esperar que o destino trabalhasse a meu favor e me fui. O cansaço das leituras densas que o curso de direito provoca derrubaria qualquer um àquela hora da noite, e eu já estava no chão. Me dirigi a saída e, como que quem dá o último suspiro, olhei para trás uma última vez com a esperança de que assim como nos filmes ela estaria à minha retaguarda, mas o fato é que por mais linda que fosse a moça que estava atrás de mim, não era ela. Avistei a parada de ônibus e pensei, ora, meu coração me prega as melhores peças. Eu e a minha mania de me apaixonar à primeira vista por quem só vi uma vez. Eu e a minha teimosia de gostar de quem já tem alguém que lhe goste. Mas o fato era que eu não importava. Ao caminhar para a parada eu me lembrei de seu sorriso e parei, no meio do caminho, sim o sorriso dela era daqueles que param as pessoas. Com certeza o objeto de mais sorte no mundo era a sua escova de dentes. Cheguei à parada. A outra me mandou mensagem, como não havia ninguém a respondi, carinhosamente como se ela fosse a única, senti uma sombra se aproximar por trás de mim ao mesmo momento em que dei dois passos ao lado e sai do campo de visão para mandar um áudio, mandei. Para minha surpresa me voltei e defronte a mim estava ela. Como que um anjo daqueles aparecem nas horas ruins. E foi incrível porque ali naquele momento eu acreditei que realmente havia algo que fizesse com que a gente se atraísse. Ela estava curiosa para saber de mim e ansioso para saber dela. Meu dia havia sendo uma bosta, tinha acabado de derramar manteiga na minha camisa e ficado “aoreu” por umas 12 horas, só queria que aquele maldito ônibus chegasse logo para que eu me entranhasse nele e fosse me embora, mas ela estava lá. E ela carregava consigo seu sorriso. Provavelmente todos são apaixonados pelo sorriso dela. Sem exceções. Todos. A vi e disse, - ué- ela disse oi, e logo a perguntei onde morava, mas tanto faz o que eu perguntava, minhas perguntas e vossas respostas não me interessavam. Eu gostava mesmo era do jeito como ela falava e de seu sotaque. Era algo parecido com o barulho mar. Se o mar falasse com certeza ele teria a voz dela. Me despedi e ao entrar no ônibus, me surpreendi, pegávamos o mesmo ônibus. Estava sendo até então o melhor dia da minha vida, e hoje, novamente está sendo o pior pois não a vi. Fomos embora conversando, acho que me apaixonei por ela. Provavelmente ela vai ser o motivo do meu próximo livro. Escreverei não sobre o que conversamos no ônibus, mas sobre tudo o que não nos dissemos. Ao vê-la pela primeira vez a disse sem dizê-la que ela era a mais recente tragédia da minha vida. A disse sem pronunciar uma palavra também, que se pudesse beijá-la naquele mesmo instante, a beijaria. Sem medo, sem pressa. Escutei tudo que os seus olhos me disseram, e concordei com cada palavra não dita. Ela também me beijaria, foi o que eu ouvi. E ao passar esse mesmo milésimo de segundos, novamente ela se foi pela primeira vez.