O Sol se pôs e a Lua ainda não... Rhavena Sabino

O Sol se pôs e a Lua ainda não apareceu no céu tão escuro quanto um café coado na hora.
O Crepúsculo se inicia e é nesse momento em que meu coração remendado e atrevido começa a latejar. Perco todo o sentido. Saio de mim por alguns instantes neste cômodo vazio, mas cheio de lembranças. Cada canto desperta-me uma memória. Cada canto traz saudade de você.

Você não está aqui, mas ao fechar os olhos eu te vejo, te sinto.
Minhas mãos tocam as suas, seus lábios tocam os meus.
Nossos corpos se unem, se entrelaçam, se grudam.
Nossos suspiros ofegantes entram em sintonia.
O desejo de torna um só.
A carne se torna uma só.
O coração bate ao mesmo ritmo.
A calmaria nos alimenta.

Você não está aqui, mas a janela entreaberta, o vento frio, a luz apagada e o silêncio desta cidadezinha, também fazem com que eu te veja, com que eu te sinta.
O coração não está remendado por acaso, a perca de sentido não é à toa. Você feriu-me, magoou-me, desapontou-me e por fim, matou-me.

Feriu-me quando percebi que já não era mais o mesmo. Já não tinha mais aquele calor, aquela paixão. Magoou-me quando trocou meu nome, quando minhas narinas sentiam aquele cheiro de flores de figo que não eram seus. Desapontou-me quando não mais se lembrava de nossas datas, quando recuava na tentativa de meus lábios tocarem os seus, quando meus abraços passavam despercebidos para o seu corpo. Quando já não mais segurava em minhas mãos, quando já não mais me chamava por aquele apelido. E matou-me quando disse num sussurro, quando as águas de março caiam do céu, que seu amor não era meu.

Permaneci em pé, mas queria jogar-me num rio e deixar com que a correnteza me levasse.
Tudo desabou dentro de mim. Eu sabia, mas tapava os olhos, porque era impossível de acreditar que o amor da minha vida não mais sentia amor por mim. Eu sabia, mas tapava os olhos porque era impossível de acreditar que aquele que fez-me tantas juras de amor, estaria fazendo para outra. Eu sabia, mas não queria acreditar... Eu sabia, meu coração sabia, mas meus olhos não queria ver, meu corpo não queria sentir.
Você era o meu apoio e com a sua retirada desfiz-me. Você era tudo o que eu tinha e com sua ida, nem mesmo as migalhas sobraram. Você matou-me.

Mas embora eu sinta dor, amor, minha essência continua. Você pode ter ido, pode ter levado consigo minha confiança...
Você despiu-me por inteira, não restou uma pétala sequer, entretanto, as raízes ainda estão neste coração que perfurou, mas não tão profundamente.
Embora leve estações, sou capaz de florescer outra uma vez com sua ausência.