Fui criança com todas as letras. Todos... Cleonio Dourado

Fui criança com todas as letras. Todos os cortes, quedas, brincadeiras e perebas que uma criança deve ter. Criança crescida na rua, poeira, sol, carreiras, pipas, bilocas, enfincas, bolas e besteiras do tempo de menino. Criança que adorava correr, subir, esconder, sumir, sorrir, se jogar pra vida que nem sabia que tinha. Já passei tardes abraçado num cachorro, já achei carrapato na perna, já tive verrugas e tiririca. Fui criança do dia, daquelas do cabelo grande, do joelho ralado, dedão estourado, sempre ao sol, bronzeado. Fui criança da noite, da lua, do pique-esconde, do pique-pega, do policia x ladrão. Já me apaixonei pelas amiguinhas, já escrevi as primeiras linhas, nas agendas e diários. Fui daqueles de chutar bola no portão, tocar campainha e correr, fazer fogueira, contar histórias, ter amigos. Muitos. Já fui um dia escritor, sonhador, cantor, astronauta, polícia, bombeiro, jogador. Já fui He-man, Thundercats, já dei o pulo do Daniel-San, já fui Zico, já fui Socratés, Já fui Senna. Um dia me lembro, já fui Rambo, Chuck Norris, já fui Comandos em ação, já fiquei preso na Caverna do Dragão, já odiei o Mestre dos Magos. Já dancei Menudo, balão mágico, trem da alegria, já gostei da Xuxa, já assisti muito filme de terror no Super Cine, não perdia Sessão da Tarde, já vi escondido o Cine Privê. Já tive walkmam, bamba, kichute e conga. Já fui muito corajoso e atrevido, comia melancia com ovo e bebia leite com manga, mas amava mesmo era pão-doce com baré. Fiz primeira eucaristia, comunguei ainda criança. Sim! Sempre tive muita fé! Sempre amei Jesus! Já quis cantar igual Renato Russo, já quis correr igual Joaquim Cruz, já quis dar o saque nas estrelas do Bernardo, já dei drible igual o Bebeto, eu era moleque, moleque esperto. Eu tive infância como acho que infância deve ser. Fui criança como acho que criança deve ser. Tempo bom, que não volta nunca mais. Mas, nem precisa carrego comigo a lembrança de toda essa época boa, muito boa, boa até demais!