Por tanto querer bem... Meu melhor... Múcio Bruck

Por tanto querer bem...

Meu melhor amigo, que desconfio ser feito de amor
Brinca de ouvir o silêncio, corre por entre as matas
Sobe pelas encostas de serras que nascem serenas
E em milagre, festejam nascentes de águas límpidas


Sorri do canto das aves e da esperteza dos bichos da mata
Que fogem dos perigos, sem deixarem trilhas nem rastros
Ali onde insiste a caça planejada, o voar das flechas atiradas
Disparadas pelos guerreiros de minha aldeia encantada


Ele corre à sua cama simples, colchão de capim seco
Quando no céu é chegada na noite, a primeira estrela
E antes de dormir, fala da passagem do rio e do vento
Que refrescava-lhe corpo e face, da admiração pelas cores


Incomodava-me quatro feridas que trazia em seu corpo
Uma em cada palma das mãos, uma em cada pé
Feridas expostas que, não raro, sangravam lentas
Jamais se queixou em tê-las, dizia ser graças de sua fé


Curioso, perguntei-lhe de tal chagas
E com os olhos brilhando, sem cerimônia
Me contou, como quem fala de esperança e encanto
"São marcas que ganhei dos homens e reis que amei!"