"Eu queria ser engraçada. Dizem... Camila Costa

"Eu queria ser engraçada. Dizem que as pessoas se apaixonam por quem é assim. Eu queria saber falar melhor das coisas que você provoca em mim, desde os medos até as curiosidades. E queria, principalmente, me admitir fraca sem a menor culpa, mas você não precisa saber disso. Eu queria ser o melhor, para mim, para ti, para nós, mas acontece que eu sempre escapo da estrada boa, tenho mania de precisar passar por muitos buracos até entender que nem tudo precisa ser tão difícil e dolorido. Quando eu escrevo, falo alto demais, e nessas de gritar pode ser que você se ensurdeça ou enlouqueça quando não entender nada. Eu queria, também, poder entender melhor, mas não entendo nada, por isso, não se esforce, eu quase não valho a pena. Talvez eu valha a pena nos dias pares, porque sempre gostei mais deles, mas nos dias ímpares nem a minha sombra vale. Ou vice-versa, não sei se isso é uma regra, ainda não decidi. Eu queria escutar mais música alternativa, essa que as pessoas dizem que é pura cultura, ou ler os clássicos que todo mundo leu enquanto eu gastava tempo com livros desconhecidos. Saber dançar melhor é outra coisa que eu queria, esse tipo de gente também leva lá as suas vantagens. Ter um gosto refinado para vinhos, ser boa em arquitetura , um sorriso menos torto e menos cara de quem sempre perde. É, eu queria ter o ar dos vencedores, quem sabe isso te prendesse mais em mim, demonstrasse confiança, mas eu só sei tremer de medo em silêncio. E você dorme, não vê tudo isso e mesmo assim me vê de um jeito que o espelho não me conta. Eu queria ser metade do que você vê. Metade do que as revistas dizem que devemos procurar em alguém. Metade do que os meus sonhos pedem. Eu queria ser quem te falasse ao invés de te escrever. Mas o que sou, entre linhas, entre erros e acertos, sorrisos tortos e gostos trocados, é tudo teu.”