Cresci em meio a omissões. Algumas... Nanda Ribeiro

Cresci em meio a omissões. Algumas inocentes, outras um pouco necessárias. Desde que nasci aprendi que de certa forma devemos esconder os problemas da sociedade, trancados e guardados dentro da alma. E que ignorância daqueles que me ensinaram isso, mal sabem que ao trancafiar e deixar o nó na garganta, e dentro da alma, o tumor da angústia só crescia.
Então eu cresci em meio à omissões. E me acostumei a esconder e me esconder dentro do quarto, apenas desabafando coisas da alma numa folha digital, onde meus dedos ficam dormentes de tanto que há aqui dentro. Ninguém sabe dos meus medos, anseios, angústias e tristezas que carrego aqui no peito. Ninguém sabe a rotina dura que engole a minha alma. Ninguém sabe da minha vida. Se não Deus! Mas também pouco importa. As pessoas também tem lá seus problemas, e eu respeito. Até tento ajudar, confesso. Guardo meus fantasmas pra tentar aliviar a dor alheia. Tenho essa mania de me importar e sofrer demais. Mas tem dia que é difícil oferecer o ombro amigo, pois sinto que o meu já se encontra dolorido demais de tanto carregar essa minha dor nas costas. O fardo anda pesado, e eu não posso reclamar.
Certo dia permitir-me chorar, deitar ao chão frio e tomar uma dose daqueles remédios pra adormecer a dor da alma. No escuro ninguém me veria. O peito doeu. Dói. Assusta. Adormeci. Acordei com a sensação de ter sido esquecida. Lavei o rosto e saí pela rua. Topei com um conhecido, e ele por educação perguntou: “Olá, tudo bem?” E eu com um sorriso que já tanto ensaiei em frente ao espelho, respondi: “Tudo sim, e com você?”