Queremos namorados, mas não aprender a... Israel Habib Elsuffi

Queremos namorados, mas não aprender a namorar.

Depois de um certo tempo sozinhos nos tornamos observadores de tudo e todos. O capim do vizinho na adolescência parecia mais verde, mas agora você descobre que poucos relacionamentos são realmente saudáveis - e estes relacionamentos são quase sempre os que não estão expostos nas vitrines das inúmeras redes sociais.

Tudo começa com as nossas idealizações: nós queremos a pessoa perfeita, esquecendo-nos que somos incapazes de presentear a mesma perfeição. Conhecemos alguém legal que se encaixa em um ou outro requisito e, pronto, é a perfeição esperada. Então gradualmente surgem os defeitos e você tem dois caminhos: amá-los tanto quanto as qualidades ou ficar se perguntando se a frustração foi com quem a pessoa é ou com quem você achava ser.

Se você chegou aqui sem idealizações errôneas ou se escolheu amar os defeitos tanto quanto as qualidades, parabéns! Já há algo de saudável nesta jovem relação amorosa.

Porém ainda há um problema: não se saber se o "eu te amo" é um sentimento dotado de reflexos no dia a dia ou uma simples emoção que, como porta dos fundos, serve de escape para diversos problemas quanto estão a dois. Ter em alguém a saída para o caos não é procurar nela um ponto de paz, mas sim encontrar pra onde fugir. Quando surgir, entre vocês, tempestades, possivelmente você fugirá para outras montanhas. Passará a vida fugindo, pois o problema não está nos problemas, está em você.

É, mas você é inteligente emocionalmente. Encontrou o ponto de paz, mas encarou o mundo lá fora de maneira a não descontar no seu precoce amor o peso que carrega e nem encarregá-lo a missão de ser sempre a cura pra suas dores, pois as vezes ele ou ela também machucam assim como algumas rosas tem espinhos. Não fugiu, se permitiu amar em tempos de cólera. Você está preparado para as tempestades, por isto aproveita cada dia da primavera.

Ah, a primavera! Você dizer "eu te amo" é antes sustentado por mínimas ações que tornariam dispensável as palavras. Mesmo com todos os gestos e iniciativas, estas saem de você quase que espontaneamente. Ah, amo! E durante a primavera todo amor parece ser mais amor. Flores não tem espinhos, frutos não tem caroços, bagagens não tem pesos e no céu sequer há nuvens.

Você pode não ter idealizado a pessoa, mas idealizou que primaveras fossem eternas. Terrível erro, quem dera. Então surge a tempestade e você foge achando que a relação deu errado. O problema não está no problema, está em.. ah, já falamos disto, né? Aprendeu. O que importa aqui é saber que está chovendo, mas ainda é amor. Parece estar frio, mas o desafio está em saber lidar com o frio e não com o frio em si. A vida é feita de estações. Nos dias frios, devemos estar prontos pra acender lareiras.

O tempo passou e vocês estão intimamente ligados um ao outro. Não é preciso ser saudável para se colonizar um amor. Há quem goste de prender e se prender a relacionamentos doentios por estarem também doentes. As frustrações geraram acidez e ainda sim você empurra com a barriga. Não decidiu amar os defeitos, mas imagina que todos eles se consertarão com o tempo, com o noivado ou o casamento. Quando chegar lá talvez você descubra que a maior parte das coisas se consolidam, não se consertam.

"Colonizar". Amar é verbo, não pronome possessivo. A sensação de posse gera ciúmes e o ciúmes desconfiança. A desconfiança traz a existência a injustiça - as vezes disfarçada nas acusações, as vezes escancarada nas suas vinganças sem fundamento. Viver um relacionamento doentio traz consigo o risco da traição, da mentira, dos maus tratos e de tantas outras coisas ruins que fazem você descobrir que poucos relacionamentos são realmente saudáveis.

É, há outras lições, mas o facebook é para postagens, não para publicar livros. Não sou o especialista do que é certo e errado, saudável e doentio, mas acabei aprendendo que em meio a tanta carência, ainda mais próximo a um dia como amanhã, queremos namorados, mas não aprender a namorar. E se não sabemos, melhor estarmos sozinhos do que ser má companhia e estar mal acompanhados. Até que o amor gere primeiro em nós mudanças para sermos os casais que felizes, não estão nas vitrines.

De todas as lições aprendi que aqueles casais velhinhos felizes, aparentemente perfeitos e que duram uma vida inteira não são melhores que outros casais, mas fazem a relação de um modo diferente. O segredo é que as pessoas bem sucedidas em seus relacionamentos pensam diferentes das que não são. Isto significa que se você fizer diferente do mundo doentio assim como elas fazem, alcançará os resultados que elas alcançam: a felicidade.