Eu queria algo para me segurar quando o... Sergio Carpegianni

Eu queria algo para me segurar quando o navio afundasse

Algo para chamar de meu e que me passasse segurança…

Sozinho eu já estou, mas queria me enganar por um dia

Por um instante achar que pertenço ao local que estou

Não achei.



Continuei distante e insignificante para mim mesmo

Chegava meia noite

Nada podia me fazer feliz e garantir que um novo ano seria “novo”

Resolvi deitar e me embriagar

Deixar o escuro e a coberta esconderem minha vergonha

E minha solidão

Sabia eu que acordaria sozinho e frio novamente no próximo dia

Onde estava o meu ano novo?



Mesmo assim, peguei um bom champanhe

Brindei comigo mesmo minha derrota e meu fracasso

Foi saboroso e libertador

A melhor parte foi me aceitar como derrotado e infeliz

Para quem sabe, recomeçar



Recomeçar?

A sofrer, a tentar, a chorar, a pensar

O importante agora seria recomeçar, certo?

Errado. Era mais um ano desperdiçado

Alguém, a cada segundo, precisa mais do que eu, permanecer vivo

Então, brindava eu, ao desespero, à carência e ao medo



Em questão de segundos, largado sobre a cama

Pensando na merda da vida

Ri de tanto azar, pessimismo e retomadas súbitas a superfície

Chegou meia noite

O mesmo ciclo de sofrimento se recomeçava

365 dias de pura escuridão de órgãos

De sangue não oxigenado

E do sabor doentio e amargo da própria língua



Chegava eu, incrivelmente de branco em um “novo” ano

Instantaneamente, o ano ficou preto e cheio de marcas de expressão

Eu percebi que acima de tudo, oxidava o mundo

Foi um conforto para minha certeza

E um fim para meu engano,

Estava só.