Fomos além das correntezas, batendo... Rafael Aguirra

Fomos além das correntezas, batendo contra as represas com canções tocando ao fundo, como símbolo profundo de todas as incertezas. Uma sucessão de estradas, paralelas e asfaltadas com dores pisoteadas. Um desejo de voltar, um instinto de chegar, dando passos, dando voltas, falando sem revelar. Tão perto e tão incerto, como bicho no deserto sem água e sem alimento esperando anoitecer, devorado pelo abismo que se espalha pelo ser. Como pode o pensamento voar tanto em pouco tempo? Como pode o momento passar rápido ou lento? Como podem as paredes reforçar a ilusão de que estamos protegidos pela nossa construção? Como podem as mudanças revirarem as lembranças? Como pode a esperança nascer fácil na criança e depois na vida adulta dissolver em confusão?
Como escudo de defesa, como caça, como presa, servido por sobre a mesa, tal qual fosse refeição. A humanidade assola, oferecida como esmola, impregnada como cola, corpo de imperfeição. O questionamento irrita, a necessidade grita, mas não dá o braço a torcer. Confunde-se o que é correto com vaidade e ganância, com vontade de vencer. Este mundo passará, passará como poeira, passará como besteira que foi dita sem pensar, como ofensa inconsequente de quem não soube calar.