PENSEI QUE FOSSE VOCÊ Acho que, lá no... Rafael Magalhães

PENSEI QUE FOSSE VOCÊ

Acho que, lá no fundo, bem lá no fundo mesmo, toda mulher sonha com isso, sabe? Com aquele cara que será diferente dos outros, aquele que vai fazer a gente sentir coisas que nunca sentiu, aquele que um dia chegará para não mais partir. Pois bem. Certa vez, achei que havia acontecido comigo. E a certeza foi tamanha, que tenho tido problemas para me reencontrar. Talvez você ache bobo o que vou dizer aqui, mas às vezes sinto como se antes de nascer cada uma de nós recebesse uma moeda de ouro e a missão dessa vida seria então escolher a fonte certa em que arremessá-la. E olha que eu sempre guardei minha moeda com muito zelo, treinei a mira, calculei o vento, esperei a hora certa de jogá-la e, mesmo assim, quando decidi arremessar, saiu tudo errado. Na verdade, ainda não sei se errei de fonte ou se foi no arremesso, mas o fato é que depois disso tem sido difícil recomeçar. Tudo porque, quando se erra uma vez, e esse erro deixa uma marca profunda, é difícil se permitir tentar novamente. É quando a gente perde a fé nas pessoas. É quando desacredita no sentimento. E aí se isola, se fecha e não se entrega mais. Desde então, tenho achado todas as fontes por aí tão sem graça. Às vezes, o formato chama a atenção, mas a água é suja. Outras vezes, passo direto, sem nem mesmo reparar. Quase sempre me pego pensando na minha moeda, naquela fonte, no meu arremesso, no que poderia ter feito diferente. Tolice a minha. Moeda lançada não volta atrás. Vez ou outra o pessimismo me deixa respirar e acho que lá no fundo, bem lá no fundo mesmo, toda mulher tem uma força que às vezes desconhece. Por isso, de vez em quando uma fagulha de esperança se acende aqui dentro. Esperança de a moeda arremessada ter sido de bronze. De um dia estar mexendo numa bolsa antiga e encontrar minha moeda dourada perdida lá no fundo ou, quem sabe, uma hora, andando distraída, eu tropece e caia, de roupa e tudo, de corpo inteiro, com a bolsa e todas as moedas, dentro da tal fonte. Talvez assim as coisas possam dar certo. Esta sou eu, tentando acreditar de novo. Para dizer a verdade, talvez eu nem saiba o que realmente faz uma fonte ser melhor que outra, ou uma moeda valer mais. O que sei é que ainda me dói aquela moeda que perdi. A dor do rigor de uma lei que eu mesma criei. Vejam vocês que bobagem. Como se na vida cada um de nós só tivesse uma chance de ser feliz.