O poder das palavras é tão forte que... Gustave Le Bon

O poder das palavras é tão forte que bastam alguns termos bem escolhidos para que as coisas mais odiosas sejam aceitas. Taine refere precisamente que foi invocando a liberdade e a fraternidade, palavras então muito populares, que os jacobinos conseguiram «instalar um despotismo digno do Daomé, um tribunal semelhante ao da Inquisição, hecatombes humanas idênticas às do antigo México». A arte dos governantes, como a dos advogados, consiste principalmente em saber manejar as palavras. Arte difícil porque, em qualquer sociedade, palavras iguais têm sentidos diferentes para as diversas camadas sociais, que empregam aparentemente as mesmas palavras mas não falam a mesma língua.

O tempo pode ser fator de mudança, bem como, por exemplo, a raça e crenças, no sentido das palavras.

Democracia e liberdade são precisamente as palavras mais usadas as que variam de sentido de povo para povo, como por exemplo as palavras democracia e socialismo, tão frequentemente utilizadas hoje em dia.

Na realidade, estes termos correspondem a idéias e imagens completamente opostas na alma dos latinos e dos anglo-saxões.

Para os Latinos, democracia significa sobretudo o anular da vontade e da
iniciativa do indivíduo diante do Estado, o qual cada vez mais tem a seu cargo dirigir, centralizar, monopolizar e produzir. Para ele apelam, constantemente e sem exceção, todos os partidos, radicais,
socialistas ou monárquicos. Para o Anglo-Saxão, nomeadamente o da América, a mesma palavra democracia significa, pelo contrário, um desenvolvimento intenso da vontade do indivíduo, a diminuição
do papel do Estado, ao qual, além da polícia, do exército e das relações diplomáticas, nada se deixa para dirigir, nem sequer o ensino. Deste modo se vê como a mesma palavra possui, para estes dois povos, sentidos totalmente contrários.