Ás vezes a saudade bate com tanta... Jorge Nicodemos

Ás vezes a saudade bate com tanta força que diante da veemência dos estragos deixados durante a sua passagem, dificilmente alguém se atreve a definir com propriedade quem – até o presente momento - foi a sua maior vitima; se o olhar, que na incerteza de um reencontro se vê incapaz de esconder as marcas do seu descontentamento mais sincero, ou se a pele, que de tão acostumada com as tantas e tão intensas entregas sempre bordadas com fios de cumplicidade, já não sabe expressar com clareza se o que mais sente é a falta ou uma falta de sentir.

Abraços costumam ser genuinamente aceitos e compreendidos, não importa o idioma de quem materialize um sentimento. Mas quando se tem pele com alguém, estando aninhado(a) no (a)braço do outro como se logo adiante a eternidade estivesse à nossa espera, percebemos, sem equívocos, que aquele lugar foi especialmente criado para acalmar nossas dúvidas mais traidoras, bem como para acomodar nossas certezas mais doces.
Que ali, dentro daquele gesto, só há espaço para a conjugação do verbo ser. E então somos. Nós. Sós.

E naquele breve instante onde os nossos olhares se encontram preenchendo o espaço deixado pela (agora, dispensável) fala que se perdeu pelo caminho, nada mais importa tanto quanto estarmos ali, em silêncio. Ambos em unidade. Dois corações numa única batida. Ritmada. Intensa. Criteriosa. Tendo o silêncio como nosso aliado, permitindo que a nossa respiração agora se vista de trilha sonora. A nossa. E nela pegamos carona com destino à certeza mais aconchegante. Embalados pelo cheiro mais apaziguador. Guiados pelos toques mais verdadeiros.

Como é bom estarmos juntos para sermos, pura e simplesmente, nós.