PURA ILUSÃO Revelei-me teu amante Na... Renan Peres Ferro

PURA ILUSÃO

Revelei-me teu amante
Na fachada do meu sobrado
Bem do alto, feio palanque
Lá de baixo você se esconde,
Preservando-se para os meus braços.

Após dois meses nos casamos
E fomos morar em Santa Maria
Numa casinha de sapé
Que apesar da simplicidade,
Esbanjava alegria.
Com seus moradores da cidade
Mas que tinha humildade,
Compaixão e simpatia.

Foram cinco anos de trabalho duro
Até a reforma se acabar.
Era uma casa luxuosa,
De paredes cor-de-rosa,
Bonita de se acabar.

Mas então, após um ano
Sua esposa foi mudando.
Pois ao vê-la passar pano
Reconheceu que estava aos prantos;
Não avistei sua aliança
Foi então que perdi a esperança
De tornar a beijá-la pelos cantos.

Passou pano e saiu
Com pisadas que me assustaram.
Sua aliança então caiu.
Seus calcanhares a chutaram;
Parou diante de mim.
Gritei: – Por que saíste assim?
Eles nem haviam se abraçado.

“Meia hora depois ouvi motores
E barulhos de gatilho
Fui olhar com muitas dores
Em meu coração totalmente ferido.
Avistei então três homens e dois senhores
Que as escadas vinham subindo;
Minha cabeça foi se explodindo,
Minha visão foi sumindo,
Desmaiei sem ver as cores.”

“Acordei ouvindo gritos
Dos crápulas que me levaram.
– Me tiraram de junto aos grilos,
me jogaram num viaduto fedido,
e ainda escaparam?”

“Mas antes de partir
Conseguiram me avisar
Que depois de eu sumir
Minha mulher estava a casar.
– Com meu irmão?
Aquele filho de um cão...
Ah! Ele há de me pagar!”

“Não sabia onde estava
Mas informação logo fui ajuntando
Até que em Santa Maria cheguei,
E em meu quintal fui adentrando.
Encontrei a casa em cinzas
E meu pai no canto chorando.”
– Pensava que tinha morrido
que mais um filho havia partido.
Suas lágrimas para si eram um manto.

– Por que mais um filho, pai?
Perguntei-lhe então.
– Num acidente morreu seu tio,
sua mãe e seu irmão.
Mas pensei que já soubesse
E que em cinzas estivesse.
Respondei seu pai, chorão.

“E o que me aconteceu?
Foi pura encenação?
Minha mulher me abandonando
Para ficar com meu irmão.
– Era mentira da canalha!
E que morra com tuas falhas
Toda tua geração!
Pergunto-me como pude
E o que foi que aconteceu”
Foi só pura ilusão.