Esses dias, revirando minha caixinha de... Amanda Sanches

Esses dias, revirando minha caixinha de lembranças com fotos, recadinhos, e todas essas coisas que a gente guarda pra sentir saudade do passado, achei algo em especial que chamou minha atenção. Era uma foto, a menina era nova, devia ter uns 15, 16 anos, tava naquela idade que queria curtir a vida, se divertir. Parei no tempo olhando aquela foto, quantas lembranças. Ela era feliz, dava pra perceber só pelo sorriso, nada forçado, sorria porque ela tinha outro jeito de ver e sentir as coisas, sem apego, ela sabia que não valia a pena sofrer. Seus olhos tinham um brilho diferente, não dava para decifrar, ela só queria ser feliz, e era. Fiquei ali, por minutos olhando aquela fotografia, me olhando à alguns anos atrás. Eu era tão diferente, não fisicamente, emocionalmente mesmo, por dentro eu era outra, completamente diferente de quem eu sou hoje. Por Deus, como eu pude ter deixado as coisas me afetarem tanto assim nos últimos anos. Eu era mais intensa, sofria na hora, depois passava, consequentemente eu era mais feliz, mais leve. Desapego era minha palavra de ordem. Eu me aceitava exatamente como eu era, sem medo de julgamentos, meu amor próprio gritando alto dentro de mim. Precisei me rever e sentir saudade de mim, para me olhar com outros olhos. Foi olhando a menina daquela foto, que é tão parecida comigo e ao mesmo tempo totalmente diferente, que eu entendi que eu não preciso de ninguém para ser feliz. Finalmente eu me reencontrei, achei meu amor próprio amassado e esquecido em algum canto. Fiz as pazes comigo, e me amei. Fiz questão de deixar nessa mesma caixinha, quem eu levava comigo com tanta devoção. Lugar de passado é lá, peso morto eu não carrego mais. Foi me olhando no espelho que eu encontrei o amor da minha vida, quem eu nunca deveria ter deixado para trás, esquecida, presa em uma foto. Eu senti pela primeira vez que eu tenho sim, um caso de amor, verdadeiro, duradouro e recíproco. Eu me amo, e não preciso de mais nada, nem ninguém. Aprendi à conviver com os meus defeitos, acho eles um charme. E se alguém não acha, que se retire por favor, porque eu não mudo por ninguém. Mudo só por mim, no meu tempo, no de mais ninguém. Desapeguei de tudo o que me prendia, seja pessoas, julgamentos, conceitos podres da sociedade. Faço de mim o que bem entender, não devo satisfações. Exorcizei todos os meus demônios, mandei embora todos os fantasmas do passado. Só fica agora quem me faz bem, quem quer o meu bem, sem exceções. Não aceito mais metade de ninguém, porque eu sou inteira, metade pra mim é pouco, é nada, é migalha. Não preciso disso. Liberdade e desapego, é tudo o que eu mais quero. Liberdade pra sentir, pra viver, sem me prender no que me faz mal; liberdade de sentimentos bons. Desapego de tudo o que me fez e possa vir me fazer sofrer. Aprendi a me bastar, e isso eu devo àquela garota da foto, devo à mim mesma.