As vezes fico ouvindo o chilreio dos... Wilton Lazarotto

As vezes fico ouvindo o chilreio dos grilos pela manhã em meio ao quintal e nas andanças de uma observação notei o quanto nos acostumamos com as coisas. Notei o quanto nos acostumamos a odiar o despertador, a não olhar pela janela, a passar um final todo de semana em casa e ainda nos sentimos bem, pois temos muito sono acumulado. Fui revendo algumas experiências e vi o quanto perdemos de viver. Aceitamos passar a vida estagnados por medo de sofrer, por medo de arriscar, de tentar, de buscar algo melhor com medo de perder o pouco que nos resta. A gente se acostuma a não sofrer, a ter pequenas doses de sofrimentos, para não percebê-la, assim não aprendemos a suportar a baioneta do destino, do desgosto, da tristeza. Trocamos a luz do sol que brilha radiante pelo dia e lhe contempla pela janela, mas o seu brilho ofusca os olhos, por isso fechamos as janelas, cortinas e ligamos as luzes. Fechamos as portas, nos cercamos de grades e nem conhecemos nossos vizinhos, esquecemos que viver é trocar. É troca experiências, alegrias, histórias, é olhar para as pessoas e sorrir. Nenhuma conversa começa sozinho, nenhum beijo acontece sozinho, precisamos de gente, muita gente, somos sociais e esquecemos disso. Tentamos poupar a vida, poupar o tempo e isso não é possível, o tempo é o agora, o ontem passou e o depois é muito incerto para esperá-lo chegar. Decidimos não gastar o tempo em vão, esperamos tanto algo que valha a pena, que nos acostumamos a esperar, e que acaba gastando de tanto se acostumar a esperá-lo, quando vê ele se perde de si mesmo... Assim a vida passou, a barba cresceu, o sorriso amarelou, as costas doem, os pulmões fadigam, os cabelos tornaram-se longo, calvos e brancos e você compreende que ficou velho, triste, sem história e fez da sua vida exatamente o que temia que acontecesse.