Fiz de Mim o que Nao Soube
O quereres e o estares sempre afim
Do que é em mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitamente pessoal.
E eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim.
Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri.
Vou procurar um amor bom para mim - no qual me reconheço e me reencontro, me refaço e me amplio, me exploro, me descubro.
Cada Pedaço de Mim
Cada pedaço de mim sabe o inferno que é ser sol em noites de chuva, ser cor nos cinzas dos edifícios, ser luz na escuridão das manhãs.
Cada todo de ti sabe a delícia que é ser flor nas asas do vento, ser cristal nos olhos das fadas, ser azul no fundo do mar.
Cada suspiro de nós sabe a angústia que é ser só um na multidão dos dias, ser muito na pobreza da esquina, ser ninguém na roda da vida.
Enquanto isso os relógios se vão e veem aqueles que sabem o que é apenas ser na ausência do nada.
Fica combinado assim: você louco por mim, eu louca até o fim.
Procura-me
Quando eu partir,
se deres falta de mim,
procura-me, nas flores do jardim.
Escolhi assim
para enfeitar de perfumes e cores
as paixões.
Procura-me, na madrugada,
quem sabe posso estar até calada,
falando de amores, nas canções?
Procura-me,
nas estrelas e constelações,
é bem certo que eu esteja,
em qualquer universo,
cintilando emoções.
Procura-me, nos encontros,
nas ternuras da vida,
estarei vibrando, em cada abraço,
serei até sentida:
nos olhos, nos beijos, na despedida,
fugindo das solidões.
Quero cruzadas e martírio. O mundo é demasiado pequeno para mim. O mundo é pequeno demais. Estou cansada de tocar guitarra, fazer malha, passear, parir crianças. Os homens são pequenos e as paixões são curtas. Irritam- me as escadas, as portas, as paredes, irrita-me o dia a dia que interfere na continuidade do êxtase. Existe pois o martírio - tensão, febre, da continuidade da vida - firmamento em perpétuo movimento e brilho total. Nunca se viram estrelas empalidecer ou cair. Nunca adormecem.
"Para mim há uma loucura racional aceita pela sociedade e uma loucura irracional condenada por ela."
(O futuro da Humanidade. - Página: 55)
Eu tenho medo da força absurda que eu sinto sem você, de como eu tenho muito mais certeza de mim sem você, de como eu posso ser até mais feliz sem você.
E logo vai amanhecer. Os trabalhadores vão se levantar e vão procurar por mim no estaleiro, e dirão: ele tá bêbado de novo.
Nada é mais dessemelhante a mim mesmo que eu mesmo; daí por que seria inútil tentar definir o meu caráter por qualquer outra coisa que não a variedade; a mutabilidade é uma parte integrante de minha mente de um modo tal que minhas crenças se alteram de um momento para outro: algumas vezes sou um sombrio misantropo, em outras me sinto intensamente feliz em meio aos encantos da sociedade e aos prazeres do amor. Há momentos em que sou austero e piedoso[...], então subitamente me torno um franco libertino. [...] Em suma, um protéico, um camaleão e uma mulher são todos criaturas menos mutáveis que eu.
Acho que seus amigos estão com raiva de mim por eu ter roubado você. Eles vão sobreviver. Mas é possível que eu não a devolva.
(...) e vou definitivamente ao encontro de um mundo que está dentro de mim, eu que escrevo para me livrar da carga difícil de uma pessoa ser ela mesma.
Em cada palavra pulsa um coração. Escrever é tal procura de íntima veracidade de vida. Vida que me perturba e deixa o meu próprio coração trêmulo sofrendo a incalculável, dor que parece ser necessária ao meu amadurecimento – amadurecimento? Até agora vivi sem ele!
É. Mas parece que chegou o instante de aceitar em cheio a misteriosa vida dos que um dia vão morrer. Tenho que começar por aceitar-me e não sentir o horror punitivo de cada vez que eu caio, pois quando eu caio a raça humana em mim também cai. Aceitar-me plenamente? é uma violentação de minha vida. Cada mudança, cada projeto novo causa espanto: meu coração está espantado. É por isso que toda a minha palavra tem um coração onde circula sangue.
Tudo o que aqui escrevo é forjado no meu silêncio e na penumbra. Vejo pouco, ouço quase nada. Mergulho enfim em mim até o nascedouro do espírito que me habita. Minha nascente é obscura. Estou escrevendo porque não sei o que fazer de mim. Quer dizer: não sei o que fazer com meu espírito. O corpo informa muito. Mas eu desconheço as leis do espírito: ele vagueia. Meu pensamento, com a enunciação das palavras mentalmente brotando, sem depois eu falar ou escrever – esse meu pensamento de palavras é precedido por uma instantânea visão, sem palavras, do pensamento – palavra que se seguirá, quase imediatamente – diferença espacial de menos de um milímetro.
