Filhos Martha Medeiros
As vezes por comodismo
ou mesmo por ingratidão
outras vezes por racismo
ou falta de compreensão
quantas falas tem cinismo
que o tamanho do egoísmo
é maior que o coração.
CURVAS!
Cada curva do destino
tem um pouco de amargura
que transforma em peregrino
todo ser que se aventura
mas a crença no Divino
faz de cada nordestino
um ser dotado de bravura.
SINA!
Já chega de preconceito
respeite nossas vontades
temos o mesmo direito
dessas tais celebridades
como ninguém é perfeito
para cada um defeito
nós temos mil qualidades.
TRISTE FIM
verde grama que adorna o triste jardim
aqui no fim o drama contorna e assiste
à dama com jasmim que torna e insiste
enfim em ver de novo que a rama orna
ESPELHO
olho para o espelho
e nada vejo, nenhum reflexo
um mundo negro, complexo
o plexo circunflexo
e dele, nenhum conselho
de ninguém conexo
pois tudo é reflexo
desse mundo desconexo
ESCURIDÃO
Perdido na escuridão da minha própria mente
perambulo entre meus infinitos pensamentos.
Nada vejo e nada ouço, mas sinto a presença.
E assim vagueio, desprovido de sofrimento.
Mesmo que inerte em tal febril momento
anseio um alento para esta travessia.
Em vão, procuro sua cálida alegria.
Sequer uma centelha de esperança.
Nada alcança ou acalma esta alma.
Caminho sem destino certo
e desconheço se está perto.
Tudo parece assim distante
e ainda foge num instante.
As palavras se consomem.
Os versos somem.
Chego, enfim
a este fim.
ESTE MUNDO ME ENCOLHE
é certo que muito está errado
não importa onde se olhe
quer pra frente
quer pra trás
quer pro lado
neste mundo que me encolhe
normal é quem escolhe o diferente
é igual a toda gente, mas atrás
um ser pungente e dissimulado
TERRAPLANISTAS
eles têm um plano
tão plano como a mente
que perdeu a curvatura
planificar a pobre Terra
e enterrar a nossa esfera
eliminar o meridiano
e soterrar o paralelo
mas haja paciência!
depois do cogumelo
acabar com a ciência?
cadê o fundamento?
não existe coerência
e falta embasamento
é triste ver o sapiens
voltar ao neandertal
parecem todos aliens
em meio ao carnaval
POEMA PARA NÃO SER ENTENDIDO
a polícia fez uma visita
por causa
de areia e pouca brita?
e este mato ao meu lado
impregnado
com cobras e lagartos
que cresce assim desenfreado?
cadê a viatura, seu polícia?
eu quero a roçadura
e não quero só notícia
FRAÇÕES HUMANAS
o tempo se sucede em frações humanas
sem volta, envolto em revolta, ele avança
e não se cansa das medições mundanas
de feições lineares e intenções circulares
ascende paulatinamente a outros lugares
CLARO QUE SÃO LOUCOS
- Albumina, é claro!
- É clara.
- Claro que é.
- Não, é clara... feminino.
- Sim... claro!
- Clara, caramba!
- Quem é Clara?
- Que Clara?
- Você falou várias vezes.
- Do ovo.
- Que ovo?
- A clara do ovo.
- Mas não tem nenhum ovo aqui.
- Claro que não, só a albumina.
- E cadê a albumina?
- Lá em cima.
- Em cima de onde?
- Na primeira linha.
- Mas lá não tem albumina.
- Do diálogo, Zé Mané!
- Ah, claro!
- Clara, meu! Não existe claro do ovo.
- Claro que não!
- Poxa, finalmente concordamos!
- Claro que sim!
- Ih, de novo não.
Certo de que acertaria o acerto com meu patrão, acertei-o na cara por não ter acertado os cálculos da minha rescisão.
Minha sina!
Tenho orgulho deste chão
minha terra, meu celeiro
meu cavalo, meu gibão
minha fama de vaqueiro
eu sou filho do sertão
sou nordeste brasileiro.
A seca quando demora
deixa a planta ressecada
a semente não aflora
falta palma pra manada
o nordestino vai embora
contando minuto e hora
pra voltar a terra amada.
Os sinais estão por toda parte. Eles me dizem claramente se devo continuar ou desistir. Mas há momentos em que fico na dúvida entre ficar ou seguir. É quando o sinal está amarelo.
