Fernando Pessoa Desistir

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Se tiver aprendido lições (amor é pedagógico?), até aproveito e não faço tanta besteira. Mas acho que amor não é cursinho pré-vestibular. Ninguém encontra seu nome no listão dos aprovados. A gente só fica assim. Parado olhando a medida do Bonfim no pulso esquerdo, lado do coração e pensando, pois é, vejam só, não me valeu.

O cruel vinha de que o silêncio também seria inábil e farposo,
contudo educado, então feria, e não pense que vou esclarecer
quem, facilitando a cegueira, pressa ou tontura: O cruel era a
palavra verbalizada, e o verbo era o mal? Mas o silêncio idem ...

Eu estava parado no patamar da escada quando ele me disse: — Tenho sete formas. Navegue. Abraçou-me. Tinha cheiro de mar. Do mar que não há nesta cidade. Pedi que ficasse, como não ficou o outro. Mas não o suportaria, acrescentei a seguir. Sorriu, como se nada do que eu pudesse dizer fosse capaz de modificar sua partida. Ainda chove, tentei dizer. Não importa, será melhor assim, repetia sua mão estendida. Passou-a devagar na minha face. Eu era uma coisa pequena, rastejante e sem Deus, caminhando no escuro lamacento à procura apenas de qualquer gesto como o toque de uma mão humana, devagar na minha face. Ele tocou. Calçou os sapatos, apanhou o chapéu. Eu quis dizer que poderia ocupar o segundo quarto — a segunda cama, a segunda vida — talvez para sempre. Eu estava tão vivo que qualquer outra coisa também viva e próxima merecia minha mão estendida, oferecendo. Estendi a mão. Ele não podia aceitá-la. Eu não devia estendê-la.

Fiz fantasias. No meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio. Até o último momento esperei que você me chamasse pelo telefone. Que você fosse ao aeroporto. Casablanca, última cena. Todas as cartas de amor são ridículas… E eu estava só começando a entrar num estado de amor por você. Mas não me permiti, não te permiti, não nos permiti.

Não sei se chegamos a nos abraçar, mas sei que falamos. Não havia nada para fazer lá em cima, a não ser falar. E nós tínhamos tão pouca experiência disso que falamos e falamos durante muito e muito tempo, e entre inúmeras coisas sem importância você disse que me amava, ou eu disse que te amava - ou talvez os dois tivéssemos dito, da mesma forma como falamos da chuva e de outras coisas pequenas, bobas, insiginificantes. Porque nada modificaria os nossos roteiros.

‎"Assustada com o amor? Ah, não.
Tanta gente querendo, tanta gente sentindo falta.
E você de repente abençoada - e confusa? Fica não."

Minha lâmpada de cabeceira está estragada. Não sei o que é, não entendo dessas coisas. Ela acende e, sem a gente esperar, apaga. Depois acende de novo, para em seguida tornar a apagar. Me sinto igual a ela: também só acendo de vez em quando, sem ninguém esperar, sem motivo aparente. Para a lâmpada pode-se chamar um eletricista. Ele dará um jeito, mexerá nos fios e em breve ela voltará a ser normal, previsível. Mas e eu? Quem desvendará meu interior para consertar meus defeitos?

Eu já tive vontade de colocar o pé na estrada. Assim, meio sem rumo. Tirar as coisas do guarda-roupa, colocar de qualquer jeito dentro da mala e ir. Sem destino, sem hora para voltar.

Quanto a ti, já reparastes como o mundo parece feito de pontas e arestas? Já chamei tua atenção para a escassez de contornos mansos nas coisas? Tudo é duro e fere. Observo, observas como ele se move sem choques por entre os gumes. Te parece dócil, assim sinuoso, evitando toques que possam machucá-lo? Pois a mim parece falso, conheço bem suas tramas e sei de todas as vezes que concedeu para que o de fora não o ferisse. Olha, ouve, repara: essas sinuosidades são de cobra, não de ave.

Quando acordo já não existe um passado ou um futuro apenas existe um presente...

E não ter nada além deste amplo vazio que poderei preencher como quiser ou deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total.

Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração é teu.

Penso e repenso e trepenso em você.

Eu disse que sim, claro que sim, muitas vezes que sim

Sonhei que você sonhava comigo. Depois que sonhei que você sonhava comigo, continuei sonhando que você acordava desse sonho de sonhar comigo.

"Chega um momento em que você não quer mais saber o que vai acontecer, chega um momento em que você consegue se libertar de todo esse formalismo e rigor, e consegue, finalmente, arriscar-se pensando somente no agora.... por isso o agora chama-se, literalmente, presente..."

Seja como for, continuo gostando muito de você - da mesma forma...

O mundo foi-se tornando aos poucos um enorme leque escancarado de mil possibilidades (…). Aprendi o jeito de também ser lindo.

O Direito só premia aqueles que o valorizam. Basta precisar dele para entender seu valor. É intrínseco ao viver em sociedade

Portanto a idade que tenho agora, ou que tinha naquele sábado, deveria ser exatamente o dobro da idade contada a partir daquela perda. E de alguma forma, por ser justamente naquele sábado de chuva, em novembro, na tarde, essa perda — ou partida, ou ausência, ou separação, ou como queiram chamá-la — atingia seu justo dobro.