Faz de Conta Qu eu Acredito
Eu vi cair do Céu
Uma Estrela cadente
Eu tinha lido
Num pedaço de papel
Que algumas delas
Atendem pedidos
Mas que o pedido
Precisava ser sincero
Mais sinceridade
Que meu desejo exprimia
Não pode existir
Pedi que ela deixasse
Que o vento levasse
Um pensamento assim
antigo
distante
flutuante
e trouxesse na volta
Qualquer tipo
de resposta
Mas que ao menos
respondesse
Se nesta vida
eu ainda teria
A imensa alegria
de ver brilhar
na escuridão
da noite fria
A tocha do fogo
Que o fogo acendeu
A chama na noite
Que no tempo
se perdeu
E me deixou assim
Sem saber se eu
Sou mesmo Eu
Se meu próprio
coração
Jamais me pertenceu.
Hoje eu acordei sem saber ao certo
Se eu pertenço mesmo a este mundo
Ou fazia parte de um sonho
do qual fugi, do qual eu desertei
Recordando a mim mesmo,
nos últimos anos
ficou ainda mais difícil saber
Se estava certo
se aquela sensação
era somente um triste engano
Abro a caixa do correio
Nenhuma mensagem
Saio à rua e me sinto
Como se eu fosse apenas
Um despercebido pedaço da paisagem
Em casa, há tempos sou um móvel
Um quadro na parede
Patética imagem imóvel
Minhas mensagens poéticas
Carecem de estética, de forma, justeza
Minha vida, há muito tempo
vou vivendo sem certeza
Mesmo os sonhos mais sem lógica
Como mágica me fazem sentir
Como se eu fizesse parte
daquele mundo distante aonde vou
sempre que a inconsciencia vem buscar
e parece me dizer
Não acorde, filho
fique aqui com a gente
pois aqui é teu lugar
Ontem eu escrevi alguma coisa
Não sei se você gostou
Espero que tenha gostado
Porém;
"ontem" é passado
Hoje eu preciso escrever de novo
E é escrevendo que me movo
O homem que vive e nada cria
Nem ter nascido devia
Há criações melhores
muito melhores que as minhas:
Um roçado de feijão
Laranjas, tangerinas, maçãs
Eu cultivo apenas poesia
Uma vez comido o feijão
Eu posso vir aqui todas manhãs
E, talvez, criar uma canção
E quem sabe, alegrar seu dia
Se você não gostar...
eu tentei
pretendo voltar amanhã
e escrever novamente
a vida é algo que não pára
Nuns dias não dá certo
em outros a gente erra
por querer
Nem todo mundo
gosta de tangerina
Um poema é só um poema
Mas, se procurar
talvez encontre uma mensagem
Mais linda que imagina
Nem tudo que os olhos te mostram
são do jeito que enxergou.
Eu queria voar todo dia
ao seu redor,
quando acordasse
Porém Deus não deu-me asas
poderia ser pior
Talvez minhas asas se cansassem
antes que meus olhos te vissem
Eu queria voltar pra casa todo dia
e te encontrar
Mas Deus não me deu uma casa
poderia ser pior
Talvez eu voltasse pra casa
e você tivesse se cansado
de me esperar
Eu queria saber escrever
poesia todo dia pra você
Mas Deus não me deu talento
pra satisfazer tua exigência
mas mesmo assim ainda tento
Juntando palavras
que ouço do vento
e o pouco de inteligência
que Deus me deu
Poderia ser melhor
Poderia acontecer
de o vento me trazer
o beijo misterioso
que trouxesse o alívio
de me levar para um lugar
aonde não existisse
qualquer lembrança
de você
É manhã e eu sou criança
minha mãe mandou-me ir
buscar o pão e depois
servir café para meus irmãos
há fila para comprar o pão
e eu entro na fila
então eu me lembro
que ontem
eu não era mais criança.
há anos nem pisava nesta vila
Eu voltei a ser criança?
Arfa, então, meu peito:
Meu Deus, isso é perfeito!
Meu coração Jubila
meus olhos brilham tanto
de alegria e de encanto
que reluzem, da retina à pupila
meu peito rejubila
olhando a luz do dia
que no Céu cintila
inesperadamente
estupidamente
minha razão oscila
então
eu penso:
Será que isto é um sonho?!
maldito pensamento!
aquele breve e feliz momento
era tão frágil quanto a argila
Eu volto a ser quem era
acabou-se o esquecimento
aquela sensação
deixa alegria e sofrimento
trocaria este dia
por apenas um momento
um momento que havia
recebido
como grata cortesia
por tão feliz que era
fui me perguntar
se era apenas fantasia,
deveríamos sempre aceitar
e nunca questionar
aquilo que nos faz felizes
quem duvida da felicidade
torna-se infeliz
por toda a eternidade
Eu queria só saber
o que é que havia
Há muitos e muitos anos
Antes de a vida
Estar nos planos
do Divino
Que criou os Oceanos
Será que Ele dava importância
Pros sentimentos
Inclusos em nós
Que com o tempo
Se tornaram arrogância?
Será
Que o conhecimento
da verdade
Nos faria então
dar mais valor àquilo
que a nossa ignorância
chama de humildade?
Haveremos de encontrar
um dia
Nas cinzas mortas
Levadas pelo vento
profanadas
da Biblioteca de Alexandria
das raizes mortas
de árvores milenares
sob a lama que existe
no fundo dos Mares
na poeira cósmica
na energia telúrica
nos conselhos da minha mãe
no tempo e na madeira
que nos traz o champanhe
na areia que traz os cristais
Tomaremos então
A bebida no cristal
comemoraremos o fracasso do mal
e não seremos infelizes
Nunca mais.
O Sol queima meu rosto
é final do mês de Julho
Quando é noite
Eu tento dormir
Porém os meus sonhos
me acordam
O silêncio no meu quarto
ressuscita barulho insondável
O sono, outrora tão amável
hoje é inefável falso amigo
A minha alma não encontra
Abrigo em meu corpo cansado
A desordem em que se acham
Meus pensamentos
A cada dia e a cada hora
cada vez mais lentos
A cada hora mais tementes
de novos tormentos
Me fazem duvidar
Que o Sol de agosto
Haverá de trazer-me
Qualquer qualidade
de alento
Procuro e não encontro
Motivos para as coisas
Que me acontecem
Se os há, não me lembro
Não há motivo que me leve a desejar
Que a vida continue acontecendo
Quando o Mês de Setembro chegar
Primeiro o tijolo
tijolo por tijolo
E eu faço a parede
depois ponho um gancho
no gancho eu ponho a rede
depois vem o cansaço
e ali me desmancho
e faço meu ninho
o sono vem devagarinho
no sono tem sonho
viagem sem tamanho
e eu posso sentir a alegria
de me ver
vivendo um lindo dia
Um dia de Sol
Brilhando no Céu
No Céu tudo se move
As nuvens de algodão
então precipitam
E gotas prateadas
na terra tilintam
escorrem na terra
terra e água formam barro
alguns fazem jarro
e outros tijolo
eu olho o tijolo
e questiono
Será que sonhamos a vida
que vem antes do sono
ou será que a vida
é um sonho?
Se Deus me permitisse
e prometesse ser atendido
eu lhE dirigiria hoje
um único pedido:
Pediria somente que somasse
os dias que ainda me restam
E dividisse ou doasse
Entre as pessoas que ainda precisam
ver prolongados seus dias
Neste mundo
E que depois me recolhesse
Agora, neste segundo
A outro lugar, aonde eu sentisse
Necessária a minha presença
Pois eu ando
tão cansado desta vida
Cansei-me
e meu cansaço ultrapassa
as ilusões desmedidas.
escondidas sob imensas
cortinas de fumaça
Te peço hoje, Meu Pai
Escute teu filho
e se eu merecer
Por favor
Faça.
Assim como as pedras
Não podem ser chamadas
de cidade
Minhas palavras eu sei
Que não dizem nada
Meus pés não fazem a estrada
Minha alma
há muito desenganada
já sabe que asas
Não significam liberdade
Palavras no alto da montanha
Ecoam
Há muito eu estou lá
gritando à toa
Saber escrever
Em linha reta
Não faz, nunca fez
e nem fará jamais
de mim um poeta
Silêncio e nem dinheiro
trazem paz
A luz do Sol
não faz o dia
Tentar achar a paz perdida
Não traz mais
Harmonia
em minha vida.
Outrora em minha vida
Anjos reais eu via
Outros tempos
Tempos melhores
Eu ria, nem ligava
Sabia que estariam
sempre ali
De tudo que se esquece
enquanto a gente cresce
esqueci de sorrir para a vida
hoje não os vejo mais
talvez tenham eles me esquecido
Fim de tarde
O Sol de vermelho tinge o Céu
Meu rosto arde
Não de calor
é só saudade
Queria apoiar-me nos joelhos
e pedir um só sorriso
Sôfrego que fui da vida
Deixei-a passar, despercebida
Não há mais valsas
Nem mesmo fados
Acabou-se a melodia desta vida
Há apenas dias que correm
Esperanças que se perdem
Sonhos dos quais a gente
acaba sempre desistindo
Mas ainda tenho uma certeza
De algum lugar eles me olham
E estão rindo das lágrimas
que molham meus dedos trôpegos
Pois sabem qua há sempre
a parte amarga que vivemos
No silêncio da noite
falam comigo, ainda
e pedem que eu persista
pois um dia tudo finda
E a Estrada novamente
Será larga e linda
E eles vão me levar
pra escorregar num papelão
por sobre um barranco gramado
Nos jardins da casa de Deus.
Quanto mais, em minha vida
Eu procurei descobrir
O valor, o sentido e também
Uma forma de viver sob a Luz
Tanto mais eu descobri
Que não decido meu destino
Há uma força maior
Muito superior a mim e a tudo
E então, simplesmente me leva
Me serve de escudo
Me afasta das trevas
Mas me fez viver a vida toda
sob a cruz
Cruzou meu destino
Com pessoas
A quem eu não queria conhecer
Fez-me cruzar
Com projéteis ogivais
de ponta em cruz
Levou-me a cruzamentos
sem saída
apenas para ver me decidir
e conduzir-me novamente
a caminho de outra cruz
A Cruz que carreguei
Se chama vida
Lugar de pouca Luz
Se fui feliz
Este não era meu destino
Não nesta vida
Aonde já se encontrava
escrita e decidida
Espero ao menos
Que algo tenha valido
Nesta escura busca
Aonde me parece
Ter sido apenas eu
A entender o sentido
da Cruz que Deus me deu.
Você olha pro Céu
de vez eu quando
e a claridade
a vista ofusca
há coisas que a Luz oculta
e depois nem vai saber
Se foi rápida ou lenta
essa busca
Senta-se em frente
a um pedaço de papel
não sabe se desenha
ou escreve
viver
simplesmente tornou-se
uma espécie
de doença sem cura
Uma empreitada sem ganho
Uma janela onde se olha
e a paisagem é muito escura
Não há mais
porque prosseguir
na infinda procura
pela alegria sem tamanho
que sabes não existir
assim como a busca
Pelo lugar
onde nascem os sonhos
levou-te então a encontrar
apenas e tão somente
O ponto
Aonde morre a esperança
Você olha para o Céu
e descobre simplesmente
haver chegado finalmente
ao dia
Em que novamente
nasce o Sol
Porém
Não nasce alegria.
Ontem eu comecei
a cultivar um jardim
Um roçado
Ou algo assim
Plantei verdades
das mais diversas
variedades
Nasceu discórdia
em formato de pimenta
A terra onde plantei
Não era boa
As pessoas se alimentam
de ilusão
Verdade dá indigestão
E hoje de manhã
Plantei meias-verdades
Qual não foi minha surpresa
Ao ver que ao final da tarde
Havia brotado tristeza
Com cheiro de hortelã
Mas o formato
daquilo que nasceu
Tinha assim,
Uma certa beleza
Que nem sempre
A gente enxerga na franqueza
As pessoas não gostam muito
do sabor da sinceridade
Preferem viver à toa
Uma vida vã
Pra amanhã
Já deixei aqui separado
Vou plantar
Um monte de mentiras
Com sementes
da pior qualidade
que encontrei
Vai nascer felicidade
Com aroma de canela
e sabor acentuado
de Glória vermelha
As abelhas virão ajudar
E então vai dar
Favos
Com gostinho de ilusão
Daqueles que a gente
tanto quer
e sonha
Um dia mastigar no pão
O triste pão da vergonha.
Talvez seja verdade
Que eu e você sejamos
Apenas mais um
Apenas um, num Mundo cego
Ou, quem sabe
Eu não chegue nem ao menos
A Ser Um
Antes, Metade
Mesmo assim
Eu não me entrego
Pois eu sou Um
do qual se pode, realmente
Extrair tão somente a verdade
Não sou uma gota d'água na chuva
Uma areia na praia
Ou mais um Inseto na Terra
Eu sou mais uma Estrela
A brilhar no Infinito
Eu sou um Astro no Universo
E, mesmo que você
Pense o Inverso
Meus Versos são Escritos
Para ser lidos por Deus
E Ele Lê, tenho Certeza
Talvez, por isso
Você não enxergue a Beleza
Neles contida
É preciso saber
Enxergar muito além
das coisas que vão e vem
É preciso ver a Luz
Na Luz contida,
Que apesar de proeminente
Tem sempre o poder
de permanecer escondida
Para aqueles, cujos olhos
Só aprenderam a ver
As coisas
que vemos em vida.
Siga eu um dia, finalmente
Para o infinito
Para muito além das Estrelas
Para muito além do pensamento
Siga eu um dia, alegremente
Para algum lugar
Que Deus tenha me destinado
Longe deste confinamento
Onde me encontro
Há muito, qual desarvorado aprendiz
Que não leve recordação
De nenhum bem
Ou qualquer mal
Que fiz ou tenha feito
Siga eu numa noite chuvosa
Ou alguma manhã tardia
E aos que permanecerem
Que eu deixe a alegria
De saber que eu vou em paz
Mas que não permita Deus
Que eu vá
Sem antes ter certeza
De que as sementes por mim espalhadas
Farão deste Mundo
Em lugar melhor
Que aquele que um dia encontrei
Senão
Que eu não deixe nada.
Eu queria escrever um poema simples
Que falasse um pouquinho só
De coisas que a gente, normalmente
Tem deixado sempre de lado
Eu queria dizer coisas
Que te fizessem perceber
Ou que talvez me acordassem
E fizessem olhar
Pro ar
Pro Mar
Olhar para o Céu
Parar de olhar somente
Para as coisas que definitivamente
Não valem
Por mais que, de repente
Me calem
E que mais tarde
Olhando direito
Não convencem
Muito menos
Impressionam
Pois, na verdade
Nada me impressiona tanto
Quanto os raios do Sol
A fugir por detrás das nuvens
Irradiando Luz prateada
Eu queria só saber
Por que é que não consigo
Te convencer
Por que é que você
Olha, ouve... diz que pensa
Faz cara de paisagem
Mas nunca, porém
Entende nada
Continua vivendo ensimesmada
Parada, julgando o que não viu
Chorando o que não sentiu e nem viveu
Por que é que eu não consigo
Num simples poema simples
Fazer-te entender
As coisas que digo?
Eu tive um pensamento
Um sonho ou algo assim
Lá num canto da cabeça
Eu achei por um momento
Que nesta Estrada
Estrada que não tem fim
A gente precisa, sim
Caminhar para algum lado
Lado certo ou lado errado
Sempre juntos
Porém, separados
Pensamento talvez
Arcaico
Pouco preciso
Precioso
Pensamento talvez
divino, talvez laico
Que surge às vezes
intensos
Às vezes brando
Sempre surgem
Ou surgem de vez em quando
Eu tive um pensamento
Num cantinho da cabeça
Ou sonhei
Com a intensidade da alma
Alma que não se acalma
Alma singela
Que me diz coisas tão belas
Alma grande, talvez miuda
Alma tudo
Exceto muda.
Eu preciso ir buscar uma planta
Que alguns até chamam de flor
Entre tantas outras existentes
Sei que é esta e somente esta
Que agradará o meu amor
Vai fazê-la me olhar com carinho
E querer ficar perto de mim
E gostar de mim pra sempre
Como um dia prometeu
E apesar de eu gostar muito dela
Esqueceu-se quem sou eu
Porém, esta planta delicada
Chama-se dente-de-leão
Quando aberta o vento a carrega
E a espalha pra Terra do Adeus
Mas ela ainda está em botão
Isso me dá algum tempo, então
E eu preciso chegar até ela
Caminhando devagar
Sentindo paz no coração
Eu sei que acabou de brotar
Num lugar inquietante
Um pouco mais longe de além
Mais além do ponto mais distante
Que eu posso enxergar
Quando eu olho do Mirante
Esta flor está lá me esperando
Sei que eu vou chegar lá
Não sei quando
Tenho pressa, pois sei que nasceu
Lá na Terra dos ventos uivantes
E peço ao vento por favor
Tenha calma, me espera chegar
Não carregue este presente
Que eu agora estou indo buscar
Pra ofertar ao meu amor.
