Faz de Conta Qu eu Acredito
Mas ele nem estava lá. Hoje que minhas vontades loucas estão me guiando, ninguém quer saber.
Eu não sigo impulso porque penso demais, mas hoje, e só hoje, eu quero ser algo além dessa auto-opressão.
Eu sempre soube que príncipe encantado não existia. Não, sempre não. Na verdade, sou obrigada a confessar que já acreditei em contos de fadas. Principalmente, aqueles que minha mãe lia ao pé da minha cama, que hoje percebo, eram interpretados sem que ela me fitasse os olhos. Ela lia, e eu ali, ficava tentando imaginar as cenas, fantasiava, viajava, recriava, questionava, mas adormecia em paz. Afinal, sempre tinham finais felizes.
Pensando bem, acho que aquele momento também era muito importante para ela. Era o momento em que ela resgatava e fazia alguém acreditar no que ela acreditara um dia. Mas, se nossos olhos se cruzassem, eu, mesmo em minha pouca idade, perceberia o apelo em seu olhar pra que não levasse tudo aquilo tão a sério.
Não. Eu não estou desiludida. O tempo foi passando, e eu mesma pude criar, recriar e desmitificar meus próprios contos de fadas. Hoje, eu não espero mais um príncipe montado em seu cavalo branco, ou que me beije os lábios depois da bruxa má ter me feito comer uma maçã envenenada. Hoje não perco mais horas de sono a imaginar castelos, jardins suspensos, magias e encantamentos.
Hoje eu apenas quero alguém que me cale a boca com um beijo quando meu silêncio grita e se torna um abismo intransponível entre dois seres que se amam. Eu só quero alguém que compartilhe da minha vida, tente entender a minha alma inquieta, que sacie meu fogo quando estiver aceso, que o acenda quando estiver em brasa, que se deixe acender quando meu corpo se torna incendiário, e que fique assim, agarradinho a mim, até que meu coração volte ao compasso, e a minha respiração desacelere em um sono profundo, protegido pelo aconchego de um abraço que continua ali, bem ao alcance das minhas mãos.
Não precisa ser alguém que goste de tudo que eu gosto. Eu só quero alguém que sinta prazer em estar ao meu lado, simplesmente por estar ao meu lado. Seja na praia ou em uma cidade do interior, seja em uma boate ou em uma estrada deserta, seja no futebol ou naquele almoço de domingo na casa da avó. Porque amar é isso. É troca. E troca é renúncia. Não uma renúncia sofrida ou nociva, mas uma renúncia consciente e tranqüila, unicamente por saber que a pessoa amada está feliz. É isso aí. É isso que eu quero. Alguém que brinque, que vibre, que sorri da vida, que brigue, que perdoa, que me faça perdoar, que desorganize o meu mundo, mas não volte a reorganizá-lo somente no dia seguinte. É isso que eu quero. Alguém que não tenha medo de se apaixonar e que não se intimide com os ridículos do amor.
Não sou perfeita. Não tenho pretensão de o ser. Tenho em mim quase todas as qualidades do mundo, assim como quase todos os defeitos também, inclusive, a ingenuidade de querer ainda imaginar que tudo isso não se trata, da mesma forma, de um conto de fadas. É que de vez em quando eu me recuso a crescer, e está me fazendo falta aquela época em que eu acreditava que "eles se casaram e viveram felizes para sempre"!
Falsidade. Eu realmente espero que tudo isso me traga boas lições, porque não está sendo fácil ter que esconder meus motivos pra agir de tal forma com as pessoas.
Porque eu falo antes de pensar. Eu falo até sem sequer pensar. Eu penso falando. E se estou com você, aí, não penso duas vezes. Não penso em nada. Não quero mais nada.
Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar banda por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata
Trocando figurinha
Matando passarinho
Colecionando minhoca
Jogando muito botão
Rodopiando pião
Fazendo troca-troca
Ai, que saudades que eu tenho
Duma travessura
Um futebol de rua
Sair pulando muro
Olhando fechadura
E vendo mulher nua
Comendo fruta no pé
Chupando picolé
Pé-de-moleque, paçoca
E disputando troféu
Guerra de pipa no céu
Concurso de pipoca
"Quanto mais eu vivo, mais eu percebo o impacto da atitude na vida. Ela é mais importante que o passado, que a educação, que o dinheiro, que as circunstâncias, que os fracassos, que os sucessos, e do que as outras pessoas pensam, dizem, ou fazem. "
Era tudo mentira quando eu falava pra você só falar a verdade. Pra ser direto. Não. Mulher gosta de rodeios. Gosta de ser galanteada. E até de ouvir uma mentirinha de vez em quando. Fale que eu sou a mulher mais linda do mundo. Que eu sou mais bonita que a Gisele Bündchen. Fale que vai me amar pra sempre. Jure fidelidade eterna. Diga que eu sou a pessoa mais importante na sua vida. Minta como se estivesse dizendo a verdade.Eu não gosto tanto assim do escracho como eu dizia que gostava. No fundo – ainda que muito fundo – eu gosto de um pouco de romantismo. Quem fala que não gosta está mentindo. Despiste se quiser só meu corpo. Me mande flores, me leve pra jantar. Finja que gosta de mim mesmo que, no final das contas, só queira me levar pro motel. Finja que é meu, ainda que só por uma noite. Eu gosto desse conto de fadas imaginário que toda mulher cria na cabeça pra colorir a vida um pouco. Eu gosto de ouvir elogios exagerados. De receber mensagens bobas no celular. De receber e-mails no final da tarde e flores no meio do trabalho. Eu gosto de criar fantasias impossíveis. Se eu te chamar pra viajar comigo, não significa que você precisa ir. Minta que vai só pra não estragar a história. O que eu quero mesmo não é nenhuma viagem.Eu finjo que odeio o seu ciúme mas morro de rir por dentro. Acho lindo quando algum bonitão passa do meu lado e você vigia meu olhar com seus olhos. Acho lindo quando meu celular toca e você, despistadamente, tenta ver quem é. Acho lindo quando a gente sobe no elevador com algum vizinho gato e você me pergunta “quem é esse cara?” depois que ele desce no andar dele. Acho lindo que você não tem ciúmes dos meus amigos feios.Mas você se tornou tão previsível que perdeu o encanto. Você me conta que acha a vizinha “gostosa”, que acha aquela baranga da televisão “boazuda” e que acha minha amiga “muito boa”. Você conta que “quebrou o pau” na noite anterior. Que bebeu além da conta. Que seus amigos são todos galinhas. Essa sua mania de ser direto acabou com toda a poesia. Você se tornou meu homem-objeto e eu me tornei alguém que eu não sou. Inventei uma mulher-objeto pra te agradar. Invento que eu não gosto de você. Que eu não to nem aí pros seus desejos pelas outras mulheres e finjo que não ouço as coisas desnecessárias que você fala. Invento que eu não gosto do romance e da poesia da coisa.Mas, quer saber?! Eu gosto da meia-luz. Eu gosto das palavras que só insinuam. Eu gosto do jogo que eu sei jogar. Eu gosto de ser seduzida e não arrastada pelo cabelo. Eu gosto da sua mão segurando a minha e não só dela pelo meu corpo. Eu gosto de me sentir a Marilyn Monroe e não a loira do Tchan. Eu gosto de vinho tinto e não de cerveja na lata. Eu gosto de jazz e não de funk.Te peço: finja de bom moço. Mande mensagem. Mande flores. Mande no rumo da minha vida. Me pegue no colo. Dance comigo no supermercado. Coloque o meu CD favorito quando eu entrar no seu carro. Me chame de princesa. Me chame de linda. Me chame pra fazer parte da sua vida. Apareça de surpresa. Entre na minha vida sem eu perceber. Minta que eu sou a única mulher que você deseja. Minta que você mataria um dia de trabalho pra ficar à toa comigo em casa. Minta mesmo que eu não acredite em nada disso. E, se você resolver tornar tudo isso realidade, apenas seja. Eu não preciso saber que é verdade.
Amar como eu te amo, ninguém vai te amar;
Querer como eu te quero, só eu mesmo; podes crê!
Te dei prova desse amor,tu não podes te queixar;
Eu te peço, por favor; Se decida logo!
Estou cansada de esperar...
As cismas do destino
I
Recife. Ponte Buarque de Macedo.
Eu, indo em direção à casa do Agra,
Assombrado com a minha sombra magra,
Pensava no Destino, e tinha medo!
Na austera abóbada alta o fósforo alvo
Das estrelas luzia... O calçamento
Sáxeo, de asfalto rijo, atro e vidrento,
Copiava a polidez de um crânio calvo.
Lembro-me bem. A ponte era comprida,
E a minha sombra enorme enchia a ponte,
Como uma pele de rinoceronte
Estendida por toda a minha vida!
A noite fecundava o ovo dos vícios
Animais. Do carvão da treva imensa
Caía um ar danado de doença
Sobre a cara geral dos edifícios!
Tal uma horda feroz de cães famintos,
Atravessando uma estação deserta,
Uivava dentro do eu, com a boca aberta,
A matilha espantada dos instintos!
Era como se, na alma da cidade,
Profundamente lúbrica e revolta,
Mostrando as carnes, uma besta solta
Soltasse o berro da animalidade.
E aprofundando o raciocínio obscuro,
Eu vi, então, à luz de áureos reflexos,
O trabalho genésico dos sexos,
Fazendo à noite os homens do Futuro.
Livres de microscópios e escalpelos,
Dançavam, parodiando saraus cínicos,
Biliões de centrosomas apolínicos
Na câmara promíscua do vitellus.
Mas, a irritar-me os globos oculares,
Apregoando e alardeando a cor nojenta,
Fetos magros, ainda na placenta,
Estendiam-me as mãos rudimentares!
Mostravam-me o apriorismo incognoscível
Dessa fatalidade igualitária,
Que fez minha família originária
Do antro daquela fábrica terrível!
A corrente atmosférica mais forte
Zunia. E, na ígnea crosta do Cruzeiro,
Julgava eu ver o fúnebre candeeiro
Que há de me alumiar na hora da morte.
Ninguém compreendia o meu soluço,
Nem mesmo Deus! Da roupa pelas brechas,
O vento bravo me atirava flechas
E aplicações hiemais de gelo russo.
A vingança dos mundos astronômicos
Enviava à terra extraordinária faca,
Posta em rija adesão de goma laca
Sobre os meus elementos anatômicos.
Ah! Com certeza, Deus me castigava!
Por toda a parte, como um réu confesso,
Havia um juiz que lia o meu processo
E uma forca especial que me esperava!
Mas o vento cessara por instantes
Ou, pelo menos, o ignis sapiens do Orco
Abafava-me o peito arqueado e porco
Num núcleo de substâncias abrasantes.
É bem possível que eu um dia cegue.
No ardor desta letal tórrida zona,
A cor do sangue é a cor que me impressiona
E a que mais neste mundo me persegue!
Essa obsessão cromática me abate.
Não sei por que me vêm sempre à lembrança
O estômago esfaqueado de uma criança
E um pedaço de víscera escarlate.
Quisera qualquer coisa provisória
Que a minha cerebral caverna entrasse,
E até ao fim, cortasse e recortasse
A faculdade aziaga da memória.
Na ascensão barométrica da calma,
Eu bem sabia, ansiado e contrafeito,
Que uma população doente do peito
Tossia sem remédio na minh'alma!
E o cuspo que essa hereditária tosse
Golfava, à guisa de ácido resíduo,
Não era o cuspo só de um indivíduo
Minado pela tísica precoce.
Não! Não era o meu cuspo, com certeza
Era a expectoração pútrida e crassa
Dos brônquios pulmonares de uma raça
Que violou as leis da Natureza!
Era antes uma tosse úbiqua, estranha,
Igual ao ruído de um calhau redondo
Arremessado no apogeu do estrondo,
Pelos fundibulários da montanha!
E a saliva daqueles infelizes
Inchava, em minha boca, de tal arte,
Que eu, para não cuspir por toda a parte,
Ia engolindo, aos poucos, a hemoptísis!
Na alta alucinação de minhas cismas
O microcosmos líquido da gota
Tinha a abundância de uma artéria rota,
Arrebentada pelos aneurismas.
Chegou-me o estado máximo da mágoa!
Duas, três, quatro, cinco, seis e sete
Vezes que eu me furei com um canivete,
A hemoglobina vinha cheia de água!
Cuspo, cujas caudais meus beiços regam,
Sob a forma de mínimas camândulas,
Benditas sejam todas essas glândulas,
Que, quotidianamente, te segregam!
Escarrar de um abismo noutro abismo,
Mandando ao Céu o fumo de um cigarro,
Há mais filosofia neste escarro
Do que em toda a moral do Cristianismo!
Porque, se no orbe oval que os meus pés tocam
Eu não deixasse o meu cuspo carrasco,
Jamais exprimiria o acérrimo asco
Que os canalhas do mundo me provocam!
II
Foi no horror dessa noite tão funérea
Que eu descobri, maior talvez que Vinci,
Com a força visualística do lince,
A falta de unidade na matéria!
Os esqueletos desarticulados,
Livres do acre fedor das carnes mortas,
Rodopiavam, com as brancas tíbias tortas,
Numa dança de números quebrados!
Todas as divindades malfazejas,
Siva e Arimã, os duendes, o In e os trasgos,
Imitando o barulho dos engasgos,
Davam pancadas no adro das igrejas.
Nessa hora de monólogos sublimes,
A companhia dos ladrões da noite,
Buscando uma taverna que os acoite,
Vai pela escuridão pensando crimes.
Perpetravam-se os actos mais funestos,
E o luar, da cor de um doente de icterícia,
Iluminava, a rir, sem pudicícia,
A camisa vermelha dos incestos.
Ninguém, de certo, estava ali, a espiar-me,
Mas um lampião, lembrava ante o meu rosto,
Um sugestionador olho, ali posto
De propósito, para hipnotizar-me!
Em tudo, então, meus olhos distinguiram
Da miniatura singular de uma aspa,
À anatomia mínima da caspa,
Embriões de mundos que não progrediram!
Pois quem não vê aí, em qualquer rua,
Com a fina nitidez de um claro jorro,
Na paciência budista do cachorro
A alma embrionária que não continua?!
Ser cachorro! Ganir incompreendidos
Verbos! Querer dizer-nos que não finge,
E a palavra embrulhar-se no laringe,
Escapando-se apenas em latidos!
Despir a putrescível forma tosca,
Na atra dissolução que tudo inverte,
Deixar cair sobre a barriga inerte
O apetite necrófago da mosca!
A alma dos animais! Pego-a, distingo-a,
Acho-a nesse interior duelo secreto
Entre a ânsia de um vocábulo completo
E uma expressão que não chegou à língua!
Surpreendo-a em quatriliões de corpos vivos,
Nos antiperistálticos abalos
Que produzem nos bois e nos cavalos
A contracção dos gritos instintivos!
Tempo viria, em que, daquele horrendo
Caos de corpos orgânicos disformes
Rebentariam cérebros enormes,
Como bolhas febris de água, fervendo!
Nessa época que os sábios não ensinam,
A pedra dura, os montes argilosos
Criariam feixes de cordões nervosos
E o neuroplasma dos que raciocinam!
Almas pigméias! Deus subjuga-as, cinge-as
À imperfeição! Mas vem o Tempo, e vence-O,
E o meu sonho crescia no silêncio,
Maior que as epopéias carolíngias!
Era a revolta trágica dos tipos
Ontogênicos mais elementares,
Desde os foraminíferos dos mares
À grei liliputiana dos pólipos.
Todos os personagens da tragédia,
Cansados de viver na paz de Buda,
Pareciam pedir com a boca muda
A ganglionária célula intermédia.
A planta que a canícula ígnea torra,
E as coisas inorgânicas mais nulas
Apregoavam encéfalos, medulas
Na alegria guerreira da desforra!
Os protistas e o obscuro acervo rijo
Dos espongiários e dos infusórios
Recebiam com os seus órgãos sensórios
O triunfo emocional do regozijo!
E apesar de já ser assim tão tarde,
Aquela humanidade parasita,
Como um bicho inferior, berrava, aflita,
No meu temperamento de covarde!
Mas, refletindo, a sós, sobre o meu caso,
Vi que, igual a um amniota subterrâneo,
Jazia atravessada no meu crânio
A intercessão fatídica do atraso!
A hipótese genial do microzima
Me estrangulava o pensamento guapo,
E eu me encolhia todo como um sapo
Que tem um peso incômodo por cima!
Nas agonias do delirium-tremens,
Os bêbedos alvares que me olhavam,
Com os copos cheios esterilizavam
A substância prolífica dos semens!
Enterram as mãos dentro das goelas,
E sacudidos de um tremor indômito
Expeliam, na dor forte do vômito,
Um conjunto de gosmas amarelas.
Iam depois dormir nos lupanares
Onde, na glória da concupiscência,
Depositavam quase sem consciência
As derradeiras forças musculares.
Fabricavam destarte os blastodermas,
Em cujo repugnante receptáculo
Minha perscrutação via o espetáculo
De uma progênie idiota de palermas.
Prostituição ou outro qualquer nome,
Por tua causa, embora o homem te aceite,
É que as mulheres ruins ficam sem leite
E os meninos sem pai morrem de fome!
Por que há de haver aqui tantos enterros?
Lá no "Engenho" também, a morte é ingrata...
Há o malvado carbúnculo que mata
A sociedade infante dos bezerros!
Quantas moças que o túmulo reclama!
E após a podridão de tantas moças,
Os porcos esponjando-se nas poças
Da virgindade reduzida à lama!
Morte, ponto final da última cena,
Forma difusa da matéria embele,
Minha filosofia te repele,
Meu raciocínio enorme te condena!
Diante de ti, nas catedrais mais ricas,
Rolam sem eficácia os amuletos,
Oh! Senhora dos nossos esqueletos
E das caveiras diárias que fabricas!
E eu desejava ter, numa ânsia rara,
Ao pensar nas pessoas que perdera,
A inconsciência das máscaras de cera
Que a gente prega, com um cordão, na cara!
Era um sonho ladrão de submergir-me
Na vida universal, e, em tudo imerso,
Fazer da parte abstracta do Universo,
Minha morada equilibrada e firme!
Nisto, pior que o remorso do assassino,
Reboou, tal qual, num fundo de caverna,
Numa impressionadora voz interna,
O eco particular do meu Destino:
III
"Homem! por mais que a Idéia desintegres,
Nessas perquisições que não têm pausa,
Jamais, magro homem, saberás a causa
De todos os fenômenos alegres!
Em vão, com a bronca enxada árdega, sondas
A estéril terra, e a hialina lâmpada oca,
Trazes, por perscrutar (oh! ciência louca!)
O conteúdo das lágrimas hediondas.
Negro e sem fim é esse em que te mergulhas
Lugar do Cosmos, onde a dor infrene
É feita como é feito o querosene
Nos recôncavos úmidos das hulhas!
Porque, para que a Dor perscrutes, fora
Mister que, não como és, em síntese, antes
Fosses, a reflectir teus semelhantes,
A própria humanidade sofredora!
A universal complexidade é que Ela
Compreende. E se, por vezes, se divide,
Mesmo ainda assim, seu todo não reside
No quociente isolado da parcela!
Ah! Como o ar imortal a Dor não finda!
Das papilas nervosas que há nos tatos
Veio e vai desde os tempos mais transatos
Para outros tempos que hão de vir ainda!
Como o machucamento das insônias
Te estraga, quando toda a estuada Idéia
Dás ao sôfrego estudo da ninféia
E de outras plantas dicotiledôneas!
A diáfana água alvíssima e a hórrida áscua
Que da ígnea flama bruta, estriada, espirra;
A formação molecular da mirra,
O cordeiro simbólico da Páscoa;
As rebeladas cóleras que rugem
No homem civilizado, e a ele se prendem
Como às pulseiras que os mascates vendem
A aderência teimosa da ferrugem;
O orbe feraz que bastos tojos acres
Produz; a rebelião que, na batalha,
Deixa os homens deitados, sem mortalha,
Na sangueira concreta dos massacres;
Os sanguinolentíssimos chicotes
Da hemorragia; as nódoas mais espessas,
O achatamento ignóbil das cabeças,
Que ainda degrada os povos hotentotes;
O Amor e a Fome, a fera ultriz que o fojo
Entra, à espera que a mansa vítima o entre,
— Tudo que gera no materno ventre
A causa fisiológica do nojo;
As pálpebras inchadas na vigília,
As aves moças que perderam a asa,
O fogão apagado de uma casa,
Onde morreu o chefe da família;
O trem particular que um corpo arrasta
Sinistramente pela via-férrea,
A cristalização da massa térrea,
O tecido da roupa que se gasta;
A água arbitrária que hiulcos caules grossos
Carrega e come; as negras formas feias
Dos aracnídeos e das centopéias,
O fogo-fátuo que ilumina os ossos;
As projecções flamívomas que ofuscam,
Como uma pincelada rembrandtesca,
A sensação que uma coalhada fresca
Transmite às mãos nervosas dos que a buscam;
O antagonismo de Tifon e Osíris,
O homem grande oprimindo o homem pequeno,
A lua falsa de um parasseleno,
A mentira mateórica do arco-íris;
Os terremotos que, abalando os solos,
Lembram paióis de pólvora explodindo,
A rotação dos fluidos produzindo
A depressão geológica dos pólos;
O instinto de procriar, a ânsia legítima
Da alma, afrontando ovante aziagos riscos,
O juramento dos guerreiros priscos
Metendo as mãos nas glândulas da vítima;
As diferenciações que o psicoplasma
Humano sofre na mania mística,
A pesada opressão característica
Dos dez minutos de um acesso de asma;
E, (conquanto contra isto ódios regougues)
A utilidade fúnebre da corda
Que arrasta a rês, depois que a rês engorda,
A morte desgraçada dos açougues...
Tudo isto que o terráqueo abismo encerra
Forma a complicação desse barulho
Travado entre o dragão do humano orgulho
E as forças inorgânicas da terra!
Por descobrir tudo isso, embalde cansas!
Ignoto é o gérmen dessa força ativa
Que engendra, em cada célula passiva,
A heterogeneidade das mudanças!
Poeta, feto malsão, criado com os sucos
De um leite mau, carnívoro asqueroso,
Gerado no atavismo monstruoso
Da alma desordenada dos malucos;
Última das criaturas inferiores
Governada por átomos mesquinhos,
Teu pé mata a uberdade dos caminhos
E esteriliza os ventres geradores!
O áspero mal que a tudo, em torno, trazes,
Análogo é ao que, negro e a seu turno,
Traz o ávido filóstomo noturno,
Ao sangue dos mamíferos vorazes!
Ah! Por mais que, com o espírito, trabalhes
A perfeição dos seres existentes,
Hás de mostrar a cárie dos teus dentes
Na anatomia horrenda dos detalhes!
O Espaço — esta abstração spenceriana
Que abrange as relações de coexistência
É só! Não tem nenhuma dependência
Com as vértebras mortais da espécie humana!
As radiantes elipses que as estrelas
Traçam, e ao espectador falsas se antolham
São verdades de luz que os homens olham
Sem poder, no entretanto, compreendê-las.
Em vão, com a mão corrupta, outro éter pedes
Que essa mão, de esqueléticas falanges,
Dentro dessa água que com a vista abranges,
Também prova o princípio de Arquimedes!
A fadiga feroz que te esbordoa
Há de deixar-te essa medonha marca,
Que, nos corpos inchados de anasarca,
Deixam os dedos de qualquer pessoa!
Nem terás no trabalho que tiveste
A misericordiosa toalha amiga,
Que afaga os homens doentes de bexiga
E enxuga, à noite, as pústulas da peste!
Quando chegar depois a hora tranqüila,
Tu serás arrastado, na carreira,
Como um cepo inconsciente de madeira
Na evolução orgânica da argila!
Um dia comparado com um milênio
Seja, pois, o teu último Evangelho...
E a evolução do novo para o velho
E do homogêneo para o heterogêneo!
Adeus! Fica-te aí, com o abdômen largo
A apodrecer!. .. És poeira, e embalde vibras!
O corvo que comer as tuas fibras
Há de achar nelas um sabor amargo!"
IV
Calou-se a voz. A noite era funesta.
E os queixos, a exibir trismos danados,
Eu puxava os cabelos desgrenhados
Como o Rei Lear, no meio da floresta!
Maldizia, com apóstrofes veementes,
No estentorde mil línguas insurrectas,
O convencionalismo das Pandectas
E os textos maus dos códigos recentes!
Minha imaginação atormentada
Paria absurdos... Como diabos juntos,
Perseguiam-me os olhos dos defuntos
Com a carne da esclerótica esverdeada.
Secara a clorofila das lavouras.
Igual aos sostenidos de uma endeixa,
Vinha me às cordas glóticas a queixa
Das coletividades sofredoras.
O mundo resignava-se invertido
Nas forças principais do seu trabalho...
A gravidade era um princípio falho,
A análise espectral tinha mentido!
O Estado, a Associação, os Municípios
Eram mortos. De todo aquele mundo
Restava um mecanismo moribundo
E uma teleologia sem princípios.
Eu queria correr, ir para o inferno,
Para que, da psique no oculto jogo,
Morressem sufocadas pelo fogo
Todas as impressões do mundo externo!
Mas a Terra negava-me o equilíbrio...
Na Natureza, uma mulher de luto
Cantava, espiando as árvores sem fruto,
A canção prostituta do ludíbrio!
Eu, viva e tremeluzente como os instantes, acendo-me e me apago, acendo e apago, acendo e apago. Só que aquilo que capto em mim tem, quando está sendo agora transposto em escrita, o desespero das palavras ocuparem mais instantes que um relance de olhar. Mais que um instante, quero seu fluxo.
Sou eu aquela pessoa que busca desbravar horizontes,
Cansada da mesmice, cansada da hipocrisia das pessoas,
Sinto falta da sinceridade sentida e não falada!
Uma palavra pode ser pronunciada por qualquer um,
Mas a demonstração de um sentimento é dolorosa e restrita aos que verdadeiramente não o sentem.
Prefiro a distância à proximidade enganosa,
Prefiro o frio, ao calor artificial.
Aprendo com a certeza do sim ou do não, sem dispensar sentimentos
O fortalecimento do ser é encontrado em suas dificuldades.
Sem pausas a vida se encarrega das lições dolorosas e a felicidade muitas vezes sem grande percepção passa despercebida.
A quem dedicar sentimentos sinceros?
A única pessoa merecedora é a que entende você. Que sabe como você se sente a cada meia palavra falada.
Sou digna em falar e aprovo sem medo que essa pessoa que você procura não existe.
Doce ilusão se pensou que um dia tinha a encontrado, nesse mundo de faz de conta a lei da selva ainda predomina e tudo isso não passa de experiências para o fortalecimento pessoal
Eu agradeço cada pessoa que tentou me derrubar e destruir , cada pessoa que me humilhou e cobiçou o que me pertence.
Agradeço a cada olhar traçoeiro,a cada palavra grosseira, agradeço a cada humilhação , a cada mentira...
Eu agradeço todas as calúnias e a todos os caluniadores , a todos os que querem e gostam de me ver sofrer por qualquer motivo...
Porque somente assim é que me fortaleci mais com a justiça de DEUS !
Eu queria tanto conhecer alguém. Talvez o tempo traga uma pessoa, uma pessoa especial. Talvez eu resolva isso aos poucos, sem sentir. Depois de resolver a mim mesmo.
Eu nunca quis cantar. Eu só queria ficar tocando guitarra no fundo do palco.
Você está me comparando a Deus? Quero dizer, isso é bom, mas só para você saber, eu nunca criei uma árvore.
