Faxina na Alma Carlos Drumond de Andrade

Uma máxima admirável: nunca mais falar das coisas depois de elas já estarem feitas.

Contra quem cala não há castigo nem resposta.

Nada nos torna tão grandes como uma grande dor.

Há muita gente infeliz por não saber tolerar com resignação a sua própria insignificância.

Custa menos ao nosso amor-próprio caluniar a sorte do que acusar a nossa má conduta.

Com trabalho, inteligência e economia só é pobre quem não quer ser rico.

Para aplicar a pena de morte, a sociedade deveria ostentar a autoridade moral de não ter contribuído em nada para fabricar esse criminoso.

Todas as grandes personagens começaram por serem crianças, mas poucas se recordam disso.

A ideia de Deus é, confesso, o único erro que não posso perdoar ao homem.

É o comer que faz a fome.

Nada agrava mais a pobreza, que a mania de querer parecer rico.

Mais que as idéias, são os interesses que separam as pessoas.

As viagens dão uma grande abertura à mente: saímos do círculo de preconceitos do próprio país e não nos sentimos dispostos a assumir aqueles dos estrangeiros.

O pensamento, único tesouro que Deus põe fora do alcance de todo o poder e guarda como um elo secreto entre os infelizes e Ele próprio.

O nosso maior prazer neste mundo são os pensamentos agradáveis.

Os grandes erram sempre ao brincar com os seus inferiores. A brincadeira é um jogo, e um jogo pressupõe igualdade.

Aquele que conhece a arte de viver consigo próprio ignora o aborrecimento.

Feliz de quem recebeu do céu um pedaço de pão e não precisa de agradecer a ninguém além do próprio céu.

Achar em tudo desordem é prova de supina ignorância; descobrir ordem e sistema em tudo é demonstração de profundo saber.

Os velhos invejam a saúde e vigor dos moços, estes não invejam o juízo e a prudência dos velhos: uns conhecem o que perderam, os outros desconhecem o que lhes falta.