Fase Ruim Fase Boa Fernando Pessoa
Fim de tarde. Dia banal, terça, quarta-feira. Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido frequente demais, até mesmo um pouco (ou muito) chato. Mas, que se há de fazer, se eu estava mesmo muito triste? Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois? E trabalho, amor, moradia? O que vai acontecer? Típico pensamento-nada-a-ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui: barquinho na correnteza, Deus dará. Essas coisas meio piegas, meio burras, eu vinha pensando naquele dia. Resolvi andar.
Tô tão só, Zézim. Tão eu-eu-comigo, porque o meu eu com a família é meio de raspão. Tá bom assim, não tenho mais medo nenhum de nenhuma emoção ou fantasia minha, sabe como? Os dias de solidão total na praia foram principalmente sadios.
As coisas têm que passar, os dias têm que mudar, os ares têm de ser novos e a vida continua, com ou sem qualquer um.
Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz...
Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.
Diz que me ama, mas suas atitudes só me provam o contrário. Não vou esperar você decidir se me quer ou não na sua vida. Tenho muita coisa aqui pra te oferecer, mas sabe o que é? Sou incompleta, também preciso receber. Portanto, não se assuste se um dia eu acordar com a capacidade de te olhar nos olhos, sorrir e dizer adeus.
E te imagino em poses e sorrisos, voz grave e cabelos desgrenhados, preso nas minhas fantasias mais loucas e movimentadas.
Não tenho tido muito tempo ultimamente mas penso tanto em você que na hora de dormir de vez em quando até sorrio.
Tenho medo de te ferir. Mas acho que precisamos 'falar seriamente'. Desculpe, mas acho que sim, sem fantasia, sem comicidade. Me pergunto sempre se você não teceu em volta de mim uma porção de coisas irreais - se você não está projetando em mim qualquer coisa como um príncipe encantado - esperando a minha volta como quem espera a salvação...
De alguma forma eu sabia que seria amor. Eu não sei, mas acho que a gente olha e pensa: “Quero pra mim”. Mas dá um frio na barriga, um tremor, um medo de depender de alguém, de sofrer, de escolher errado, de lutar por algo que não vale a pena. Porque o coração nem sempre é mocinho, as vezes ele também gosta de pregar peças, sei lá, talvez queira provar que também sabe ser vilão. Foi por isso que corri, tentei fugir, mas quando tem que ser, não adianta, será. E olha só, passei tanto tempo fugindo de um alguém que hoje sofro por não ser totalmente meu. Agora me diz, por quê?
E se eu mudasse meu destino num passe de mágica? (...) Estranho, mas é sempre como se houvesse por trás do livre-arbítrio um roteiro fixo, pré-determinado, que não pode ser violado.
Não vou dizer que é fácil e que nunca deu vontade de desistir, mas vale muito mais a pena continuar.
- Você tem um cigarro?
- Estou tentando parar de fumar.
- Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
- Você tem uma coisa nas mãos agora.
- Eu?
- Eu!
(Silêncio)
- Quando a noite chegar cedo e a neve cobrir as ruas, ficarei o dia inteiro na cama pensando em dormir com você.
- Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você.
- Vou te escrever carta e não te mandar.
- Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
- Com o tempo deveríamos voltar a nos encontrar
- O tempo não existe.
- O tempo existe sim, e devora!
- Mas dizem que linhas paralelas se encontram no infinito.
- O infinito não acaba. O infinito é nunca.
- Ou sempre..
(Silêncio)