Fabio de Melo Acaso Deus Felicidade

Tendo a ser, mas pouco:
resta ainda um tempo
que me espera e reclama.

Uma coisa não é justa porque é lei, mas deve ser lei porque é justa.

O corpo é um caminho:
ponte, e neste efêmero abraço
busco transpor o abismo.

O vento é o tempo:
sopra varre levanta lambe
desfaz o que foi feito.

O meio mais eficaz de nos vingarmos dos nossos inimigos é fazendo-nos mais justos e virtuosos do que eles.

O temor da morte é a sentinela da vida.

A devoção encontra, para praticar uma má ação, razões que um simples homem jamais encontraria.

Um homem só está seguro daquilo que possui.

Quem não sabe nada, seja ele senhor ou príncipe, deve ser incluído no número das pessoas vulgares.

A vingança comprimida aumenta em violência e intensidade.

Sabei escusar o supérfluo, e não vos faltará o necessário.

O receio aumenta-nos os desgostos, tal como os desejos os prazeres.

Quem muito nos festeja, alguma coisa de nós deseja.

O poder é uma ação, e o princípio eletivo é o da discussão. Não há política possível com uma discussão permanente.

Não há escravidão pior que a dos vícios e das paixões.

Um homem desonrado é pior que um homem morto.

Um homem que ensina torna-se facilmente teimoso, pois exerce a profissão de um homem que nunca erra.

Fábula: A Raposa e a Cegonha

A Raposa convidou a Cegonha para jantar e lhe serviu sopa em um prato raso.

-Você não está gostando de minha sopa? - Perguntou, enquanto a cegonha bicava o líquido sem sucesso.

- Como posso gostar? - A Cegonha respondeu, vendo a Raposa lamber a sopa que lhe pareceu deliciosa.

Dias depois foi a vez da cegonha convidar a Raposa para comer na beira da Lagoa, serviu então a sopa num jarro largo embaixo e estreito em cima.

- Hummmm, deliciosa! - Exclamou a Cegonha, enfiando o comprido bico pelo gargalo - Você não acha?

A Raposa não achava nada nem podia achar, pois seu focinho não passava pelo gargalo estreito do jarro. Tentou mais uma ou duas vezes e se despediu de mau humor, achando que por algum motivo aquilo não era nada engraçado.

MORAL: às vezes recebemos na mesma moeda por tudo aquilo que fazemos.

O fraco ofendido desabafa maldizendo.

A ignorância que se conhece, se julga e se condena não é uma ignorância completa: para que o seja, é preciso que se ignore a si mesma.