Eunice Arruda

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Eunice Arruda (1939 - 2017) foi uma poeta brasileira que também foi diretora e primeira-secretária da União Brasileira de Escritores. Entre suas obras, se destacam "Os momentos" (1981) e "Há estações" (2003).

Fiapos nos dentes
o rosto todo amarelo
É tempo de manga

Noite estrelada
O céu - brilhando - se abaixa
Silenciosamente

Solidão no inverno
o velho aquece as mãos
com as próprias mãos

Noite outonal!
Minha avó contando histórias
Na varanda. Agora

À beira do lago
aliso o brilho da lua
com as mãos molhadas

No campo queimado
ainda uma leve fumaça
Tronco resistindo

Dentro da lagoa
uma diz "chove", outra diz "não":
conversa de rã.

Primavera. Chuva.
A moça de rosto molhado:
sombrinha furada.

Verão. Meio-dia
Na sombra de uma nuvem
o boi cochila

Extático vôo
Borboletas de asas abertas
Alfinetes nas costas

Dentro da lagoa
uma diz "chove", outra diz "não":
conversa de rã.

Sulco fundo de arado.
A terra aberta ferida
Eis a vida.

Outra dúvida

Não sei se é
amor

ou

minha vida que pede
socorro

Inserida por pensador

Quem escreve
é
um visitante

Chega nas horas da noite
e toma o lugar do
sono
Chega à mesa do almoço
come a minha fome

Escreve
o que eu nem supunha
Assina o meu nome

Inserida por pensador

Sentença

Convém nos
iniciarmos
cedo
As coisas são demoradas

E não é bom
colher os frutos
quando a boca não
conseguir mais
saboreá-los

Inserida por pensador

Propósito

Viver pouco mas
viver muito
Ser todo pensamento
Toda esperança
Toda alegria
ou angústia — mas ser

Nunca morrer
enquanto viver

Inserida por pensador

Predição

Fazer da
busca o
ideal

Rasgar o ventre de
todas as noites
para encontrar
aurora

O que não somos hoje
é o que há de nos
esmagar
amanhã

Inserida por pensador

O tempo

Os olhos se resguardam
sob as pálpebras
mas o tempo passa

Junto de nossos passos cautelosos
que ultrapassam mas retornam
sempre
o tempo caminha
Na superfície calma dos retratos
inscreve seu itinerário
e passeia com cautela em nosso rosto
fala pela boca das crianças
murmura no cansaço nossas mortes

Em vão
se preenchem as horas
O tempo carrega em seu rio nossas sementes
para um mar.

Inserida por pensador

pena

não mudamos

o tempo

escorreu
água entre
os dedos

pena

pássaros coloridos alcançam as nuvens
todos os dias
ficamos

Raízes.

Inserida por pensador