Eu te Amo do Amanhecer ao Anoitecer
arraigada
Nada que eu fizesse antes...
Nem flores, nem diamantes,
Nada que eu desse...
Primavera ou paraíso,
Nada que eu prometesse...
Paixão ou amor,
Nada que eu cantasse...
A emoção de olhar e querer,
Nada que me encantasse...
Tempestade ou lágrima,
Nada que eu morresse...
Nada que me matasse
Como o silencio indiferente
Nada que me dizimasse
Como se jubilasse
Diante da presença vil
Do estafeta de perfil marginal,
Nada lhe faria ver a luz do dia
Arraigada nas trevas do que lhe saciasse
Procurando a felicidade, como um ancião
Procura os óculos, que está na sua face...
REFLEXO
Eu quero esquecer o passado
Mas tenho medo
Eu quero esquecer o medo
Mas tem o passado
Eu quero esquecer o sorriso
Vermelho do palhaço
Mas tem o espelho
Eu quero esquecer o vampiro
Mas não tem reflexo no espelho
Eu quero esquecer que sou fraco
Mas tenho meus complexos
sou fraco, caio de joelhos
Eu quero esquecer a lua
mas tem a janela como uma moldura
Tem o lago prateado com a sua candura
tem o seu reflexo
Tem o lobisomem que resistiu ao folclore...
.Tem a estrofe de um soneto feito uma tocaia
Tem a lembrança de tua saia
Ao vento tem este querer imenso...
STRAUSS
Daqui a pouco talvez eu esqueça,
Depois dessa noite,
Depois da lua minguante,
Depois de todas as luas,
Se a magia de tudo
Ainda mantiver suspensas as estrelas,
Todos os satélites,
Se ainda existir magia...
Talvez algum dia eu esqueça,
Se eu cair e bater a cabeça,
Quem sabe uma amnésia aconteça,
Se o mundo explodir talvez eu desapareça
E comigo a lembrança da tua boca pedindo,
Das tuas mãos pegando
Das tuas pernas valsando... valsando...valsando...
Nenhum movimento
Eu não quero o meu nome
Em nenhuma rua,
Eu não quero ir a lua ou a marte,
Eu não quero ir a nenhuma parte,
Não quero fazer nenhuma revolução,
Não quero fazer parte
De nenhum movimento,
Não quero saber de sem terra,
Apartheid, klu, klux, klan...
Eu não quero saber de greve,
Da queda da bolsa, do islã,
Ou do afã de qualquer religião ou mito
Maomé já foi pra montanha,
Jesus Cristo mostrou seu amor
E os filhos de Gandhi não ficarão órfãos
John deu a chance que a paz pedia...
E eu só quero fazer poesia...
Tadeu Memória
PASSARADA
Bem te vi cantou teu nome...
Eu sempre quis te amar,
Quando vem manhã na serra,
Bem te vi me faz lembrar,
Que o amor engana,
Já que canta bem te vi,
E voa para bem longe...
Quando chove no sertão,
A passarada se agita,
Mil pardais no mangueiral,
Juriti foge pra serra,
Anuns a lamuriar
na caatinga espessa,
Corrupião na mangueira
Furando manga jasmim,
Sanhaçu voa de par,
Querendo fruta madura,
E a candura do algodão,
Clareando pela tarde,
Do teu sorriso e ternura,
Lembra-me felicidade...
CARAMBOLA
Eu sempre fui assim...
Assim se eu fosse um bicho
Eu seria um cachorro perdido,
Se eu fosse vegetação eu seria carrapicho
Se eu fosse uma estrela
Eu estaria tão longe
Eu sempre fui assim
Então se eu fosse um desejo
Eu olharia a montanha
A derramar-se no rio em larvas e ouro
Se eu fosse um morcego na caramboleira
Vendo o vale de ponta cabeça
O ocaso seria o nascente
E quando o sol se perdesse
Atrás da carambola
O que eu faria com o com a ponte,
Com a fonte e com o horizonte...
Eu tenho versos nos dedos
e um poema no coração
mulheres despidas na mente
sol a pino na caatinga
rimas de despedidas
feridas abertas
é minha sina
penso que sou poeta...
ah, mas se eu sonhei demais
não foi só culpa minha
seu corpo fomentou a minha fantasia
e se eu quis ser feliz perdoa
nunca mais vou sonhar assim,
nunca mais vou querer ser feliz
nunca mais vou pensar
que a vida pode ser boa
COLÍRIO
madrugada é uma estrada tão distante pro passado,
sono é estágio pra morte,
eu tenho sorte,
eu tenho o olhar
num outro trópico, num outro signo ...
meu verso é um mendigo,
indigno de jornais ou revistas...
eu quero entender sargitario
e entender por que qualquer otário
pensa que é o “bicho”
cancer e capricórnio não são mais que carrapichos
não sei dizer te amo, todos sabem disso
queria entender Cristo, todos sabem...
queria durar tanto quanto Matusalém,
queria pertencer a tribo de Araquém ,
a madrugada ´´e uma estrada tão solitária
meus lábios suplicam ósculos
meus olhos suplicam óculos
tua figura é um colírio pros meus olhos
como deixar de ser poeta???
Deixa eu te mostrar meu verso
Porque sou poeta
e toda lágrima ou sorriso eu escrevo
Deixa eu mostrar meu universo
Feitos de manhãs e madrugadas
As namoradas que eu pensei que tinha
Só me trouxeram desertos
As namoradas que eu jamais terei
De longe eu as amo
As namoradas sem amores são todas minhas
Quando perco uma destas namoradas
Pra alguém eu me alegro
Porque elas perderam um amor ausente
Mas terão paixão por perto
Nada mais que eu diga
mudará nossos destinos
nada mais que eu faça
mudará o sentimento
meu melhor momento
é me sentir bem pequenino
tua ausência é o meu maior tormento
Já fui feliz um dia
ou pensei que era
mundo de fantasia,
mundo de quimeras
agora sigo aflito nessa ansiedade
só o instante da tua presença traz felicidade
Quando eu cheguei a ser eu mesmo
eu ainda era uma caixinha de surpresa
dentro de outras dez caixas maiores...
