Eu te Amo do Amanhecer ao Anoitecer
De vez em quando
Tudo que eu preciso
É respirar um pouco
Pode até parecer
uma ideia louca
Mas não é todo dia
Que a gente atenta
Nesses desalentos
Que nos atingem a alma
de forma tão costumeira
E a gente nem pensa
Em sair um pouco lá fora
Ou pelo menos abrir a janela
Inspirar o ar pelo nariz
Soltar pela boca
e acalmar-se
Pensar em tantas coisas que eu quis
e não aconteceram
Lembrar das coisas erradas que fiz
E simplesmente me perdoar
Jogar pra fora todo arrependimento
Juntamente com o ar
E olhar as coisas ruins
Indo embora; no vento da noite
Simples assim
A vida se renova
Com uma pequena porção
Pura e nova
desse presente da natureza
Simplesmente
Basta querer
Pois
De vez em quando
Todo mundo precisa atentar para o fato
Que o ato de respirar
É algo um pouco além de somente
Inalar e exalar o ar
Edson Ricardo Paiva
Pode ser
Que eu saia desta vida
de alma ainda pura
e com o corpo
Completamente quebrado
Se for assim
Creio eu
Que terei logrado
Morrer como queria
Portanto
Não me culpem
das expectativas malogradas
Criadas em meu redor
Cada um tem a própria vida
E não se pode viver duas
Eu sou responsável
Somente pelas minhas palavras
e não pelas suas
Cada um de nós
Vai criando seus próprios problemas
Na medida em que não atenta
Para os sinais tão claros
Às vezes gritantes
Com os quais o mundo acena
todo dia
Eu só faço aquilo que posso
Pra quem deseja um pouco mais
Eu só posso pedir
Que me deixe morrer em paz
Edson Ricardo Paiva
Pouco antes
de eu nascer
Enviei a Deus
uma prece
que dizia
"Me salva, não quero viver"
Porém
Nem tudo pode ser feito
do jeito que a gente queria
Então que se faça
o melhor que a gente possa
pois a maior graça
Que existe em tudo isso
é saber que existe um compromisso
um trato bilateral
e mesmo
Que eu conseguisse
Fazer meu melhor
e realmente melhorasse
tudo ao meu redor
Nada faria sentido
Quando a resposta que vem
lá do outro
Não fosse infinitamente
Maior
e melhor
Edson Ricardo Paiva
O Tempo prossegue passando
A vida está acontecendo todo dia
Que seja sempre entre eu e Deus
Com o tempo a vida ensina
Que por mais acompanhados pareçamos
Muitos de nós, haverão de caminhar sozinhos
Os filhos não são mais crianças
Mas ainda tem muito que aprender
E eu fico aqui, quieto
Tragam-me netos
Pra que eu ensine a eles
O que meu pai não quis
Ensinar a vocês
Assim como eu fui pra vocês
O que meu pai não foi pra mim
A vida é assim
A gente precisa passar adiante
Coisas boas
Pra que essa existência
Não seja esquecida
Como uma simples passagem
Eu não quero que a minha
Tenha sido à toa
O tempo corre todo dia
e um dia
A gente vai dizer adeus
O que eu fiz
Ou deixei de fazer
Não foi por vocês
Eu cumpri meu contrato com Deus
Eu errei e acertei
Mas confesso
Que na hora derradeira
Eu hei de dizer a mim mesmo
Que gostei.
Edson Ricardo Paiva
Se me perguntassem
Qual o melhor destino
A Humanidade deveria seguir
Eu não saberia responder
Pois não o há como saber
E eu jamais fui muito bom
Em dirigir nem mesmo a minha vida
Mas eu creio que o melhor rumo
Pra conduzir os caminhos do Mundo
Não seja este
Há quem diga que a melhor espada
Passa pelo malho do martelo,
Pela bigorna e pelo fogo
E que toda semente
Precisa morrer para germinar
Eu sei dizer somente
Que as pessoas que vivem neste mundo
Não são espada e nem semente
Depois de tanto errar na vida
Muita coisa foi aprendida
E hoje eu vejo as coisas
Muito mais claramente
E sei que o mundo precisa
de cada um de nós
Porém eu não tenho voz
Que possa gritar tão alto
E sei também
Que ninguém me perguntou
Infelizmente
Edson Ricardo Paiva
Se eu tiver que prestar contas
Que seja pra Deus
Se tiver que errar
Que seja na loteria
Se for pra acertar
Também
Se tiver que sentir saudade
Que seja da infância
Se tiver que ser difícil
Que sejam palavras cruzadas
das coisas que não entendo
Me basta o extrato bancário
Aliás
Se for pra me cobrar
Que seja o cartorário
Pois
Se eu tiver que pular
Que seja amarelinha
e se for pra rir
Que seja de mim mesmo
e se for pra me bater
Que seja a minha mãe
que teve anos de prática
e batia com muito amor
Mesmo quando doía
Aliás
Se é pra doer
Que seja na barriga
de tanto rir
Se for pra ter briga
Que seja na TV
Se for pra não me entender
Que sejam meus poemas
Se tiver que haver problemas
Que seja na linha telefônica
No dia em que o cartorário
Me telefonar cobrando
Se for pra eu não entender
Que seja o gato aqui de casa
E se for pra cortar
Que sejam as unhas
Se for pra me tirar água dos olhos
Que seja uma maçã bem verde
Pois
Se for pra exigir
Que sejam meus filhos
E se for pra fazer sacrifícios
Que seja no almoço de domingo
na casa da minha mãe
Numa mesa bem cheia de gente
Ela sempre põe um pouco mais
de comida no meu prato
e sempre foi muito exigente
Se eu tiver que voltar atrás
Que seja pra buscar a carteira
Que vivo esquecendo em casa
Se eu tiver que jogar
Que seja bolinha de gude
Se eu tiver uma atitude
Que seja uma vez só
Pois, se tiver que ser um saco
Que seja de batata frita
Mas
Se for pra morrer
Que seja de rir
E nesse momento de alegria
Que alguém tire um retrato
E, se eu tiver que dizer adeus
Que seja pra tristeza
Edson Ricardo Paiva
Eu creio somente
Naquilo que existe
E não nas coisas que eu vejo
Simplesmente porque eu
As veja
O mal muitas vezes me corteja
E me alveja com olhos perversos
Isso acontece
Muitas vezes ao dia
E ele age lentamente
Procuro desviar-me
Faço charme
e o deixo descontente e triste
Prefiro a companhia dos anjos
E se anjos não há
Eu os invento
E creio neles
Solicito-lhes proteção
Então
Passo a sentir no coração
A divina presença
Que sempre acompanha
Aqueles que, de alguma forma
Fogem às normas estabelecidas
Por aqueles que enxergam a vida
Como um jogo
Cuja regra é
Simplesmente vencer
Ignorando
Que todos nós caminhamos
lentamente
Ao derradeiro e eterno sepulcro
E no fim dessa caminhada
A gente deixa o que plantou
E quem somente quis colher
Se esqueceu
Que não há de levar
Nada.
Edson Ricardo Paiva
Se um dia me perguntassem
Se eu algum dia fui feliz
Eu responderia que não sei
Tentei, me virei, desisti
Creio eu que tal coisa
É um Estado de Espírito
E acho que quando eu nasci
Isso não estava no contrato
Não dá pra ser feliz aqui
Sabendo que existe
mais de um Brasil
E dentre esses muitos Brasis
Eu creio que nem eu
E nem a imensa maioria
Nasceu naquele em que quis
Fora isso
Esse lugar está em um mundo
Onde nem todo mundo
é realmente feliz
Não sei dizer ao certo
O nome completo que se dá a isso
Onde a fome é algo concreto
E cada um que tem
um compromisso
a honrar
é consigo mesmo
Mesmo assim, na medida do possível
Procuro não me sentir infeliz
E sou grato a todos
que caminham comigo
e compartilham suas vidas
Com este ser cheio de dúvidas
Que sou eu
Quando todo mundo for feliz
Então, eu também serei
Até lá
Não me façam perguntas
Cuja resposta
Eu não sei.
Edson Ricardo Paiva
Calma.
Eu não quero ser
Não pretendo ser
Não sou e não serei jamais
Alguém que muito mente
Como se vê, tão comumente
Eu quero ser somente
Alguém que espalhe sementes
Sempre de paz
Como pouca gente faz
O que eu queria ver
Era alguém sinta prazer
Em me ouvir
Quando eu disser o que digo
Não ligo pro ouro do mundo
Minha busca é
e sempre foi
Por algo que está mais profundo
E cujo brilho
Nada ofusca
Eu quero encontrar a calma
Que se esconde
Na escuridão dos sonhos
Na hora em que a alma se expande
e tudo se acalma
Este mundo não é assim
Tão grande
A ponto de esconder eternamente
Algo que não está perdido
A gente só não sabe
Ou pensa não saber
O lugar certo de procurar
Aquilo que cabe aqui, bem perto
Se não estiver agora
Será somente porque
Ainda não é a hora
Eu quero ser aquele
Que te ajuda a encontrar
Aquilo que comumente
A gente sente
Vontade de sentir
Sem saber bem ao certo o que é
Mas pressente ser melhor
Que essa dor que a gente sente
Tão comumente
Edson Ricardo Paiva
Um dia
Eu tentei escrever
Poesia
E quando o dia amanhecesse
ter em mãos um poema escrito
Um poema
Bonito, pra quem o lesse
Sem querer entrar no mérito
dia desses, eu queria
Escrever assim, do meu jeito
No pretérito imperfeito
ou no futuro do subjuntivo
Pra falar do Sol
ou do Céu encoberto,
Falar do futuro incerto
e das portas fechadas
ou, quiçá, falar das estrelas
que eu vejo na madrugada.
Eu deixei as janelas abertas
para vê-las
Iluminei meu quarto
à luz de velas
Brinquei com as sombras das mãos
nas paredes escuras
Pensei em todas as esperanças
Concretas e vãs
Que temos ou tivemos
Analisei cada uma
das conjecturas possíveis
Viajei pelas estrelas
e lugares
pra lá de inimagináveis
Adormeci, sonhei e acordei
e quando dei por mim
A vela se acabou,
o dia amanheceu
A noite chegou ao fim
e a inspiração
não tinha vindo
senão
Eu faria um poema lindo
e depois
eu o dedicaria
De mim
Para tudo mundo.
Edson Ricardo Paiva.
Meu endereço
é na rua do esquecimento
Porém, no momento
Eu sai à passeio
Viajei para o passado
estou de fieira na mão
No chão, meu pião vai rodando
ao meu lado estão diversos
dos melhores amigos
que me deu a vida
Estamos na hora do recreio
Estamos numa outra dimensão
Estamos
Sem nenhum centavo em nossos bolsos
e estamos felizes
Como nunca mais seremos
Temos um futuro ainda
No qual, eu garanto
Se a gente imaginasse
Como seria
Teríamos brincado
Um pouquinho mais
Naquele dia
Teríamos agradecido
com um brilho a mais nos olhares
a tia da merenda
a professora
e o Sol que brilhou tão forte
naquela tarde, tão linda
Que passou, que ficou no passado
Porém, em algum lugar
Ela ainda existe
Então eu volto pra casa
Num lugar chamado saudade
Porém, quando volto
Não me sinto mais assim
tão triste
A vida é pra frente
nisso ela consiste
Mas eu juro
Que sinto muita pena
daqueles que cresceram,
chegaram no futuro
e lá ficaram
Sem jamais se dar ao direito
de voltar a visitar
o seu eu-menino
Que se encontra sempre lá
brincando e rindo
naquele lugar onde as coisas
nunca eram e jamais foram
todo dia do mesmo jeito
da maneira que são agora
Edson Ricardo Paiva
Depois que eu olhei teu olhar
Percebi que algo mudou em mim
Notei também que a sua alma
Exala um cheiro de jasmim
Ou de alecrim
Só sei dizer que aquele olhar
Me despertou tamanha calma
Que há muito tempo eu não sentia
Se é que em algum dia o senti
Em horas iguais aquela
Tudo pára
Nada se move
Tem vidas em que a gente espera
Uma vida inteira
Por uma hora igual àquela
E quando acontece
É que percebe
Que não se preparou
Praquela hora
Que às vezes demora
duas ou três vidas
Pra que aconteça
E aquela emoção, há tanto contida
te paralisa de tal forma
Nessa hora
Que talvez seja somente o tempo
de soprar uma brisa
E aquele olhar foi-se embora
Agora
O jeito é esperar
Outra vida.
Edson Ricardo Paiva.
Meu lugar é
e sempre será
Aquele
onde eu estiver
Portanto
Procuro não precisar
nada além daquilo
que eu mesmo possa carregar
Meus olhos enxergam
muito perto
Mas
Tenho um coração tranqüilo
enquanto outros
São desertos
Agradeço sempre à vida
por cada graça recebida
e procuro aprender a lição
Que sempre vem contida
em cada verso
e saber
Que cada coisa tem seu tempo
e cada tempo o seu momento
Meu lugar é
e sempre será
onde eu estiver
e não aqueles
aonde o vento me leva
Procuro ter
Aquilo que eu plantar e colher
e sempre juntar e dividir
com tudo que o vento me trouxer
O segredo
é ficar perto daquilo
que faça sentir a alma leve
Tempo infinito
Vida breve.
Edson Ricardo Paiva
No lugar onde eu moro
O vento sopra de noite
Quero-quero canta de dia
Às vezes os papeis se invertem
E o vento sopra de dia
Quer-quero canta de noite
Horas há, também
Em que tudo se mistura
E o vento e o quero-quero
Sopram e cantam noite e dia
E ambos se divertem
em me ver
na dúvida mais pura
Abrindo a janela
e fechando as cortinas
Abrindo as cortinas
e fechando a janela
Centenas de vezes ao dia
e às vezes
Também de noite.
Edson Ricardo Paiva.
Enquanto o tempo passava
E enquanto eu aprendia
Ria da cara da sorte
Não sentia medo
Nem mesmo da morte
Um dia, então, me enganei
Abandonando aquele escudo
Por pensar que sabia de tudo
Saindo ao mundo
Sem nem mesmo um guarda-chuva
Cara fechada, coração vazio
Sem medo de perder
Por sentir, que tudo já estava perdido
Ontem, eu acordei com medo
e eu o sinto, ainda hoje:
Medo de quebrar cristal,
Medo de perder o que não tenho,
Medo de perder de novo
Tudo que estava perdido
Um novo medo a cada passo
Medo de escrever coisa boba
Medo de morrer num sonho
E não voltar nunca mais
Medo de perder sorrindo
Como naqueles jogos de gincana
A toalha de linho,
A luz na janela,
As xícaras de porcelana
E aquela esperança que eu tinha
Um medo que eu pensei
Que não ia sentir nunca mais
Medo da despedida
Onde a última alegria desta vida
Se vá
Sem nem mesmo olhar pra trás
Edson Ricardo Paiva
Perdido eu estive
E assim, perdido, vivia
Quando descobri você
Percebi
Que corações perdidos
Não vivem
ainda assim,
Eles sobrevivem
Portanto, quando pensei
Que finalmente
Havia me encontrado
E respirei e sorri
Crueldade do destino
Meu coração de menino
Se encontrava
Perdidamente apaixonado
Com vontade de pedir
Que me namore
Na sombra de uma árvore
e naquela sombra
Vou precisar
Que me permita que eu chore
Vou pedir também
Que não se afaste
Eu vou te contar
Sobre o tempo que perdi
Sobre o tempo que você
Nunca mais há de perder
Sobre a paz
E tudo que você
sempre me faz sentir
Falar do amor
Que Deus me deu pra dividir
Amor calado
Amor sem passado
Amor com futuro
Amor puro
Maduro igual ao vinho
Amor bonitinho
Que tanto preciso
Somar ao seu
Assim
Não haverei de querer
Mais nada
Nesse dia
Ficar ali
Te olhando
de mãos dadas
Me diz, meu Deus
O que é que eu preciso fazer
pra poder conquistar
O coração de uma fada
Edson Ricardo Paiva
Se a vida acabasse hoje
Eu juro que a deixaria
Um pouco triste
Pelas coisas
que não fiz ainda
Mas algo
Sempre há de ficar inacabado
E sem resumo
Se esta noite eu partisse
Diria que não fiz
Aquilo que eu tanto queria
Mas sereno
Por lembrar-me que disse
Se hoje
O Dedo de Deus
Apontasse pra mim
E dissesse
Que a hora do fim era agora
Eu iria embora um pouco triste
Porém, sem remorsos
Nenhum arrependimento
Sequer pelos muitos erros
Que eu cometi
Enquanto pensava acertar
E triste eu iria
Nos braços de uma isquemia
Uma hemorragia cerebral
Tanto faz, não faz mal
Na hora da partida
Qualquer despedida é igual
Creio ter feito
Menos o mal que o bem
Não deixaria ninguém
Que tenha sido
importante pra mim
Sem antes ter dito muitas vezes
Sobre a importância que tiveram
Nesta e em todas as outras vidas
Se minha vida acabasse hoje
Creio ter sido esta
A minha poética despedida.
Edson Ricardo Paiva
Eu gosto mesmo é de ser criança
Subir-me num pé de sonhos
Me arvorar no galho mais alto
E imaginar que esses anos passados
Foram só devaneios de infância
E que vou descer de lá
No meio de algum quintal que existe ainda
Pode ser naquela linda hora triste
Em que a mãe mandava ir tomar banho
E banhar-me de toda malícia
Dessa astúcia adquirida
Nas feridas que a vida trouxe
Enquanto a vida não tirou-me ainda
da mente essa doce lembrança
E de novo encher-me de sonhos
Criança nasce de novo, todo dia
E no dia que não mais for assim
Não é mais infância.
Criança deseja, sim
Ter aquilo que não tem
Mas, se não tiver, nem liga
Criança não é mulher e nem homem
Criança é criança
Come o que todos comem
Mas na hora de sonhar
Ninguém sonha melhor do que ela
Aquela briga boba pela vida
Ainda não lhe pertence
Tanto faz, quem vence ou quem vence
Pensa assim...e assim todos vencem
Criança tem paz, sorri para a vida
Não faz mal se a vida não sorri de volta
São tudo coisas da vida
E nada que a vida fizer
A convence a desistir de nada
Criança volta pra casa
Vencedora e satisfeita, todo dia
As dores de hoje
Não vão mais doer amanhã
Criança não tem
Cicatrizes na alma
Hoje, por maior seja
A calma com que eu desça
Do galho do pé de sonhos
Os velhos pés sentem dor
Pior é a dor de não saber
Se hoje o meu sonho maior
É o sonho de eu
Nunca mais subir lá
ou de lá
Nunca mais eu descer.
Edson Ricardo Paiva.
