Eu sou o q sou Mesmo Caindo me Levanto Sempre
Ele me conta das meninas, eu conto dos caras. Eu acho engraçado quando ele fala "ah, enjoei, ela era meio sem assunto" e olha pra mim com saudade. Ele também ri quando eu digo "ah, ele não entendeu nada" e olho pra ele sabendo que ele também não entende, mas pelo menos não vai embora.
Já não me preocupo se eu não sei por que, às vezes o que eu vejo quase ninguém vê, eu sei que você sabe quase sem querer que eu quero o mesmo que você...
Arte é ilusão, pois eu não ajo
Fico ou Parto - com constante alegria
Meus pensamentos, embora céticos, são sagrados
Santa prece para o conhecimento ou puro fato.
Então enceno a esperança de que posso criar
Um mundo vivo em torno de meus olhos mortais
Um triste paraíso é o que imito
E anjos caídos cujas asas perdidas são suspiros.
Neste estado não mundano em que me movimento
Minha Fe e Esperança são diabólica moeda corrente
Em mundos falsificados, cunho pequenos donativos
Em torno de mim, e troco minha alma por amor.
Um Supermercado na Califórnia
Muito venho pensando em ti nesta noite, Walt Whitman,
enquanto caminho pela calçada sob as árvores, com uma incômoda
dor de cabeça e olhando a lua cheia.
Em meu faminto cansaço, e fazendo compras na imaginação, fui
ao supermercado de néon e frutas, sonhando com tuas listagens!
Que pêssegos e que penumbras! Famílias inteiras
nas compras da noite! Corredores cheios de maridos! Mulheres nos
abacates e bebês nos tomates! - e, você, Garcia Lorca,
que estava fazendo diante dos melões?
Te vi, Walt Whitman, sem filhos, velho comilão solitário,
apalpando as carnes do refrigerador e lançando olhares
aos jovens vendedores.
Te ouvi perguntar a eles todos: quem matou as costeletas
de porco? qual o preço das bananas? quem é meu Anjo, tu?
Vagueei por entre as prateleiras brilhantes de latas,
te seguindo e sendo seguido pelo detetive da casa, em minha
imaginação.
Percorremos os grandes corredores, juntos em nossa solitária
fantasia, provando alcachofras, pegando todas as delícias congeladas, sem passar pela caixa.
Para onde estamos indo, Walt Whitman? Dentro de uma hora
as portas se fecham. Qual o caminho que tua barba hoje aponta?
(Toco em teu livro e sonho com nossa odisséia no supermercado - e me sinto absurdo.)
Iremos caminhar a noite por todas essas ruas solitárias? As
árvores acrescentam sombras às sombras, luzes apagadas nas casas, ambos estaremos sozinhos.
Andando e sonhando com a América perdida de amor, passaremos
por automóveis azuis no estacionamento a caminho de nosso solitário refúgio?
Ah, querido pai, de barbas cinzas, velho e solitário professor
de coragem, que América te conheceu quando Caronte desistiu de
empurrar seu barco e desceu-te na margem enfumaçada e ficou
vendo o barco desaparecer nas negras águas do Letes?
Presença em Gales
Neblina fina que sobe o morro e descamba
rios de vento que alisam árvores.
De cada
nuvem que ondula explode e passa um mesmo giro fundo evapora
por cima de samambaias que prendem
a pedra verde em franja mansa
vista através da vidraça enquanto chove no vale
Bardo, ó ser, Visitacione, não fale
nada ou então diga somente o que esse homem já viu num vale em Álbion
um povo cuja ciência termina na coerência ecológica
das sábias relações terrestres
dez séculos de trama tecida de olhos bocas visíveis
pomares da linguagem da mente humanifesta
um cardo em simetria satânica uma planta eriçada
florindo no chão veloz sobre um centro
de leves margaridas irmãs angelicais como lampadas -
Além de Londres sua torre de espinhos suas cenas simétricas
de TV em cadeia & o Ser do Bardo barbado, onde lembrar
um dia como hoje no morro a nesga de carneiros balindo árvores
no ouvido do velho Blake & a velha calma de Words -
worth com os mudos pensamentos nela
nuvens no esqueleto dos arcos passando em Tintern Abbey -
Bardo Sem Nome do vasto assombro de tudo, rumor!
Uma só coisa, o vale se esticava tremendo, o vento
deitava em lençóis de musgo,
grande força redonda que afogava a neblina na água fina vermelha
dos riachos da encosta
cujas ramas se torciam caladas
calcadas em mistura granítica -
e erguia também do chão o Espaço Nébulo erguia o braço
das árvores e o capim do instante
mantinha erguidos os carneiros parados
alçava, numa onda solene, o dorso verde
Sólido pedaço no Céu, gota de vale,
toda a imensidão diminuta rolando em Llanthony Valley,
em toda a área da Inglaterra coesa, vale em vale, sob o risco
das doces toneladas do oceano do Céu
Céu que se equilibra num fiapo de grama
urro do morro vento lento e esse corpo
um Ser, um perto Algum, visão da encosta
cosendo em brilho e calma os equilíbrios fluindo,
um gesto vara o escuro céu-chão e são milhões de margaridas que o fazem,
é o gesto de uma Força Serena que induz o mato molhado
até a rama mais distante de neblina fina aspergida
na corola do morro -
Nenhuma imperfeição no morro em flor
Os vales respiram, céu e terra andam juntos
margaridas engolem polegadas de ar verduras vergam
átomos piscantes vegetam no capim em mandalas
manchas espalhadas ruminam com olhos de carneiro vazios
cavalos dançam na chuva quente
árvores ladeiam canais em rede viva nos campos
ermos paredões frutificam
seios de espinheiros desabrocham colinas
passam roceiros ermos cuspindo samambaias e ervas -
passar entrar cair rolando no oceano de sons, rajadas
cair no chão ó mãe ó grã-Mãe Úmida, jamais uma lesão em teu corpo!
Pare vendo de perto, nada é imperfeito no mato,
todaflor cada olhoflor um Buda, e a história se repete,
a alma multiforme ajoelha
perante botões quentes inquietos erectos, sinos
dobrados no caule trêmula antena,
& olhe vendo de dentro nos carneiros que espiam
paradamente respirando sob folhas e gotas -
Deito e misturo a barba no morro em pelo viscoso
cheirando ileso o chão-vagina provando
úmidas emanações violetas de penugem de cardo -
Um ser tão vasto, em tão vertiginoso equilíbrio, que seu sopro mais fino
afasta no assoalho dos olhos a flor mais quieta do vale
treme em rendas de águateias na lãcapim dos carneiros
suspende copas e raízes, pássaros na grande corrente
levando o mesmo peso na chuva, a força eclusa
gemendo chamando terra
coração, junção de espantos.
O grande mistério é o não-mistério
os sentidos correspondem aos ventos
o visível é visível
o vale em ondas anda com uma barba de chuva
átomos cinzentos desaguam na cabala do ar.
A mente está de pernas cruzadas
imóvel numa pedra e respira
está elástica no capim mole e respira
na beira de margaridas brancas na estrada.
O sopro do Céu desce ao umbigo,
minha própria simetria descamba, sopram samambaias rasgadas
cujas frondes me aspiram, sopra o mesmo agora
vento de Capel-Y-Ffn, sons de Aleph e Aum
na vegetação dos ossos
na massa de cartilagens-paisagens
crânios e colinas iguais numa só Álbion.
Que foi que eu vi? Detalhes. A
visão do grande Um pluriforme -
marcas de fumaça subindo
no calor silencioso da casa
marcas de uma noite que embarca
vazia de estrelas
porém ainda molhada de gestos no céu preto dos ventos.
Eu acho que Deus é uma projeção humana, é um desejo infinito que nós temos de adoração, e de algo que nos suspende com o sentido absoluto.
Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
(in O Guardador de Rebanhos)
Eu tenho pena das mulheres que correm o tempo todo atrás de se tornarem a melhor fruta de uma feira. Pra depois serem apalpadas e terem seus bagaços cuspidos.
Ninguém gosta de ser metido a besta ou a moralista. Eu também não gosto. No entanto, já não era a mesma coisa, nem em meu coração, nem em meu espírito. Quando uma antiga amizade não se refaz por completo, é na cabeça que a gente sente mais. Mas de que servem estas palavras? A coisa toda era muito mais complicada do que eu pude imaginar e jamais conseguirei explicá-la direito.
Maior parte das palavras que eu disse às pessoas eram as palavras que eu esperava ouvir de alguém...
Por esses longes todos eu passei, com pessoa minha no meu lado, a gente se querendo bem. O senhor sabe? Já tenteou sofrido o ar que é saudade? Diz-se que tem saudade de ideia e saudade de coração…
Lá estou eu em mais uma mesa com taças de vinho pela metade, risos pela metade, fumaças desenhando algo que quase formou uma imagem, restos de couvert e bolinhas inacabadas e nervosas de guardanapo.
Olho pro lado e sinto uma saudade imensa, doída, desesperançada e até cínica. Saudade de alguma coisa ou de alguém, não sei. Talvez de mim, de algum marido fabuloso que eu tive em alguma encarnação, do útero da minha mãe, do meu anjo da guarda que está de férias em Acapulco, do meu avô que embrulhava sempre meu aparelho de dentes em um guardanapo e depois esquecia e jogava no lixo achando que era resto de algum lanchinho, de algum amor verdadeiro que durou um segundo, de uma cena perfeita que meu inconsciente formou na infância e que eu me encarreguei de acreditar como sendo meu futuro.
Meus amigos me adoram e certamente chorariam se eu morresse. Mas será que eles sabem que eu penso sempre na morte? Será que eles sabem que aquela garota alí no canto da mesa, de decote, de bolsa da moda, rindo pra caramba, contando mais uma de suas aventuras vazias e descartáveis, acorda todos os dias pensando: o que eu realmente quero com essa vida? Como eu faço pra ser feliz?
Será que eles sabem que se eu estou morrendo de rir agora, daqui a pouco vou morrer de chorar? E vice-versa? E isso 24 horas por dia? E isso mesmo com terapia, mesmo com macumba, mesmo com espiritismo, mesmo com meditação, mesmo com o namoradinho da semana. Será que eles sabem o tanto que eu sofro e o tanto que eu não sofro a cada segundo?
Meus amigos me adoram. Mas sempre que podem, tiram sarro da minha cara. Sempre que podem, me transformam na chacotinha da mesa: Tati não sabe nadar, Tati não se droga, Tati não bebe, Tati expõe sua vida no site dela, Tati não arruma ninguém que a ame de verdade porque é louca, Tati assusta os caras, Tati é boba e se apaixona sempre, Tati não leva ninguém a sério, Tati explode por tudo, Tati fala demais, Tati fala palavrão, Tati reclama demais…
Minha melhor amiga me ama muito, mas ela adora que eu seja o erro em pessoa só para ela se sentir o acerto em pessoa. Meu melhor amigo me chamou de infeliz um dia e eu nunca mais consegui rir da infelicidade dele. Meu outro amigo me adora, muito, mas se pudesse, de verdade, ele trepava comigo a noite inteira e nem me ligava no dia seguinte. Meus amigos me amam, muito, mas nem o máximo de amor de uma pessoa chega perto do que deveria ser amor. Amor não significa mais amor. E eu, mais uma vez, olho para o lado morrendo de saudade dessa coisa que eu não sei o que é. Dessa coisa que talvez seja amor.
Sinto um nojo enorme e desesperador de todos os afetos em pílulas que posso ganhar. Fulano me acha a melhor companhia do mundo mas, pensando bem, ele pode desfilar com modelos por aí. Fulano pensa em mim todos os dias mas, pensando bem, ele tem que curtir a vida com seu carro novo. Fulano se diverte horrores comigo mas, pensando bem, ele também curte aquela tia tatuada que eu nem sei quem é e no fundo to pouco me lixando. Fulano passeou de mãos dadas comigo naquele fim de tarde que mereceu nossos aplausos, mas, quer saber? Viram ele dois dias depois de dormir na minha casa com outra numa festa. Fulano me apresentou para todos os amigos e encheu minha geladeira de comida mas, quer saber, putz, qualquer garotinha do bar dos pseudo-intelectuais malas também pode ser interessante ou, caso não seja, ao menos tem um buraco. Odeio todas as minhas pílulas, odeio todos os amores baratos, curtos e não amores que eu inventei só para pular uma semana sem dor. A cada semana sem dor que eu pulo, pareço acumular uma vida de dor. Preciso parar, preciso esperar. Mas a solidão dói e eu sigo inventando personagens. Odeio minha fraqueza em me enganar e mais ainda a dor que vem depois dos dias entorpecidos.
Eu invento amor, sim. E dói admitir isso. Mas é que não agüento mais não dar um rosto para a minha saudade. E não agüento mais os copos, as fumaças, os amigos, as intenções e as bolinhas de guardanapo pela metade. É tudo pela metade. Ao menos a minha fantasia é por inteiro. Enquanto dura.
No final bruto, seco e silencioso da melhor festa do mundo que nem começou, é sempre isso mesmo. Eu aqui tomando meu chá mate limão meio querendo chorar, meio querendo mentir sobre a vida até acreditar. Aí eu limpo a maquiagem com creme anti-sinais e percebo que não faz o menor sentido ser uma criança chorona preocupada com rugas. Aí eu me acho louca porque só tem duas coisas que eu realmente queria nesse mundo: um filho ou voltar a ser filha. E aí eu deito pra dormir e penso em sacanegem, mas também penso em coisas bonitinhas. E eu rezo pedindo a Deus que não espere mais eu ser legal para ser legal comigo, porque eu to esperando ele ser legal comigo para ser legal. Aí eu penso que ele já é legal comigo e que, talvez, eu já seja legal com ele. E que tá tudo bem. Mas se eu penso que tá tudo bem nesse segundo, isso só significa que vou pensar o oposto no segundo seguinte. E que eu escrevi “ele” sem maiúscula mesmo, porque amigo íntimo a gente não fica com essa coisa de endeusar. E eu queria que Ele fosse meu amigo íntimo, ou ao menos existisse. E quando vou ver, já dormi. Sozinha.
Alienação!
Eu só pediria licença para lembrar que os alienados são precisamente os que têm uma ideia fixa.
Tenho fome da extensão do tempo, e quero ser eu sem condições.
Não precisei correr atrás da vodka. A caipirinha de vinho não me fez chorar. Eu nunca esperei nada das doses de tequilas. Ainda bem que a cerveja nunca me traiu e aquele whisky me correspondeu. E eu ainda preferi ficar bêbada de amor, dá pra entender?
Eu desejo apenas conhecer os pensamentos de Deus... as coisas restantes são detalhes.
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