Eu Queria Saber Coisas que Rima com Lais
Um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.
Eu creio que a senhora sonha talvez demais. Sonhará uns amores de romance, quase impossíveis? Digo-lhe que faz mal, que é melhor, muito melhor contentar-se com a realidade; se ela não é brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir.
Um leitor perspicaz, como eu suponho que há de ser o leitor deste livro, dispensa que eu lhe conte os muitos planos que ele teceu, diversos e contraditórios, como é de razão em análogas situações.
É aqui que eu quisera possuir tudo o que a filosofia tem dito e redito do livre arbítrio, a fim de o negar ainda uma vez, antes de cair onde ele perde a mesma aparência de realidade; acabaria esta página por outra maneira. Mas não posso; digo só que não pude reter a cabeça nem os olhos, e vi as duas damas, com os braços cingidos a cintura uma da outra, vagarosas e visivelmente queridas.
Diferença de vocações: o casal Aguiar morre por filhos, eu nunca pensei neles, nem lhes sinto a falta, apesar de só. Alguns há que os quiseram, que os tiveram e não souberam guardá-los.
Não é sem freqüência que, à tarde, chegando à janela, eu vejo um casalzinho de brotos que vem namorar sobre a pequenina ponte de balaustrada branca que há no parque. Ela é uma menina de uns 13 anos, o corpo elástico metido nuns blue jeans e num suéter folgadão, os cabelos puxados para trás num rabinho-de-cavalo que está sempre a balançar para todos os lados; ele, um garoto de, no máximo, 16, esguio, com pastas de cabelo a lhe tombar sobre a testa e um ar de quem descobriu a fórmula da vida. Uma coisa eu lhes asseguro: eles são lindos, e ficam montados, um em frente ao outro, no corrimão da colunata, os joelhos a se tocarem, os rostos a se buscarem a todo momento para pequenos segredos, pequenos carinhos, pequenos beijos. São, na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no parque, incluindo velhas árvores que por ali espapaçam sua verde sombra; e as momices e brincadeiras que se fazem dariam para escrever todo um tratado sobre a arqueologia do amor, pois têm uma tal ancestralidade que nunca se há de saber a quantos milênios remontam.
Eu os observo por um minuto apenas para não perturbar-lhes os jogos de mão e misteriosos brinquedos mímicos com que se entretêm, pois suspeito de que sabem de tudo o que se passa à sua volta. Às vezes, para descansar da posição, encaixam-se os pescoços e repousam os rostos um sobre o ombro do outro, como dois cavalinhos carinhosos, e eu vejo então os olhos da menina percorrerem vagarosamente as coisas em torno, numa aceitação dos homens, das coisas e da natureza, enquanto os do rapaz mantêm-se fixos, como a perscrutar desígnios. Depois voltam à posição inicial e se olham nos olhos, e ela afasta com a mão os cabelos de sobre a fronte do namorado, para vê-lo melhor e sente-se que eles se amam e dão suspiros de cortar o coração. De repente o menino parte para uma brutalidade qualquer, torce-lhe o pulso até ela dizer-lhe o que ele quer ouvir, e ela agarra-o pelos cabelos, e termina tudo, quando não há passantes, num longo e meticuloso beijo.
Que será, pergunto-me eu em vão, dessas duas crianças que tão cedo começam a praticar os ritos do amor? Prosseguirão se amando, ou de súbito, na sua jovem incontinência, procurarão o contato de outras bocas, de outras mãos, de outros ombros? Quem sabe se amanhã quando eu chegar à janela, não verei um rapazinho moreno em lugar do louro ou uma menina com a cabeleira solta em lugar dessa com os cabelos presos?
E se prosseguirem se amando, pergunto-me novamente em vão, será que um dia se casarão e serão felizes? Quando, satisfeita a sua jovem sexualidade, se olharem nos olhos, será que correrão um para o outro e se darão um grande abraço de ternura? Ou será que se desviarão o olhar, para pensar cada um consigo mesmo que ele não era exatamente aquilo que ela pensava e ela era menos bonita ou inteligente do que ele a tinha imaginado?
É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado... Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste, mas fria, desse estranho baile de desencontros, em que freqüentemente aquela que devia ser daquele acaba por bailar com outro porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela sem que ela o soubesse, suas mãos sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e não se reconheceram.
E é então que esqueço de tudo e vou olhar nos olhos de minha bem-amada como se nunca a tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me crucifico neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse dano; e gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos mirando muito além das estrelas.
TRÊS RESPOSTAS EM FACE DE DEUS!
Sim, vós sois (eu deveria ajoelhar dizendo os vossos nomes!)
E sem vós quem se mataria no presságio de alguma madrugada?
À vossa mesa irei murchando para que o vosso vinho vá bebendo
De minha poesia farei música para que não mais vos firam os seus acentos dolorosos
Livres as mãos e serei Tântalo - mas o suplício da sede vós o vereis apenas nos meus olhos
Que adormeceram nas visões das auroras geladas onde o sol de sangue não caminha…
E vós!... (Oh, o fervor de dizer os vossos nomes angustiados!)
Deixai correr o vosso sangue eterno sobre as minhas lágrimas de ouro!
Vós sois o espírito, a alma, a inteligência das coisas criadas
E a vós eu não rirei - rir é atormentar a tragédia interior que ama o silêncio
Convosco e contra vós eu vagarei em todos os desertos
E a mesma águia se alimentará das nossas entranhas tormentosas.
E vós, serenos anjos... (eu deveria morrer dizendo os vossos nomesl)
Vós cujos pequenos seios se iluminavam misteriosamente à minha presença silenciosa!
Vossa lembrança é como a vida que não abandona o espírito no sono
Vós fostes para mim o grande encontro…
E vós também, ó árvores de desejo! Vós, a jetatura de Deus enlouquecido
Vós sereis o demônio em todas as idades.
Menininha do meu coração
eu só quero você
a três palmos do chão.
Menininha não cresça mais não,
fique pequenininha
na minha canção,
senhorinha levada
batendo palminha
fingindo assustada do bicho-papão...
Menininha que graça é você
uma coisinha assim
começando a viver..."
FEIJOADA À MINHA MODA
Amiga Helena Sangirardi
Conforme um dia eu prometi
Onde, confesso que esqueci
E embora - perdoe - tão tarde
(Melhor do que nunca!) este poeta
Segundo manda a boa ética
Envia-lhe a receita (poética)
De sua feijoada completa.
Em atenção ao adiantado
Da hora em que abrimos o olho
O feijão deve, já catado
Nos esperar, feliz, de molho.
E a cozinheira, por respeito
À nossa mestria na arte
Já deve ter tacado peito
E preparado e posto à parte
Os elementos componentes
De um saboroso refogado
Tais: cebolas, tomates, dentes
De alho - e o que mais for azado
Tudo picado desde cedo
De feição a sempre evitar
Qualquer contato mais... vulgar
Às nossas nobres mãos de aedo
Enquanto nós, a dar uns toques
No que não nos seja a contento
Vigiaremos o cozimento
Tomando o nosso uísque on the rocks.
Uma vez cozido o feijão
(Umas quatro horas, fogo médio)
Nós, bocejando o nosso tédio
Nos chegaremos ao fogão
E em elegante curvatura:
Um pé adiante e o braço às costas
Provaremos a rica negrura
Por onde devem boiar postas
De carne-seca suculenta
Gordos paios, nédio toucinho
(Nunca orelhas de bacorinho
Que a tornam em excesso opulenta!)
E - atenção! - segredo modesto
Mas meu, no tocante à feijoada:
Uma língua fresca pelada
Posta a cozer com todo o resto.
Feito o quê, retire-se caroço
Bastante, que bem amassado
Junta-se ao belo refogado
De modo a ter-se um molho grosso
Que vai de volta ao caldeirão
No qual o poeta, em bom agouro
Deve esparzir folhas de louro
Com um gesto clássico e pagão.
Inútil dizer que, entrementes
Em chama à parte desta liça
Devem fritar, todas contentes
Lindas rodelas de lingüiça
Enquanto ao lado, em fogo brando
Desmilingüindo-se de gozo
Deve também se estar fritando
O torresminho delicioso
Em cuja gordura, de resto
(Melhor gordura nunca houve!)
Deve depois frigir a couve
Picada, em fogo alegre e presto.
Uma farofa? - tem seus dias...
Porém que seja na manteiga!
A laranja gelada, em fatias
(Seleta ou da Bahia) - e chega.
Só na última cozedura
Para levar à mesa, deixa-se
Cair um pouco da gordura
Da lingüiça na iguaria - e mexa-se.
Que prazer mais um corpo pede
Após comido um tal feijão?
- Evidentemente uma rede
E um gato para passar a mão...
Dever cumprido. Nunca é vã
A palavra de um poeta... - jamais!
Abraça-a, em Brillat-Savarin
O seu Vinicius de Moraes.
Eu ficarei só, como os veleiros nos portos silenciosos. [...] E todas as lamentações do mar, do vento, das aves, do céu, das estrelas, serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Menininha do meu coração
Eu só quero você
A três palmos do chão
Menininha não cresça mais não
Fique pequenininha na minha canção
Senhorinha levada
Batendo palminha
Fingindo assustada
Do bicho-papão.
Menininha, que graça é você
Uma coisinha assim
Começando a viver
Fique assim, meu amor
Sem crescer
Porque o mundo é ruim, é ruim e você
Vai sofrer de repente
Uma desilusão
Porque a vida é somente
Teu bicho-papão.
Fique assim, fique assim
Sempre assim
E se lembre de mim
Pelas coisas que eu dei
Também não se esqueça de mim
Quando você souber enfim
De tudo o que eu amei.
Cantar nunca foi natural pra mim, dos passarinhos eu sou o pardal.
Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta.
Eu nunca pude entender, Ilustríssimo Senhor, de onde originou-se o fato de que tudo aquilo que dos meus estudos achei conveniente publicar, para agradar ou servir aos outros, tenha encontrado em muitas pessoas uma certa animosidade em diminuir, defraudar e desprezar aquele pouco valor que, se não pela obra, ao menos pela minha intenção, eu esperava merecer.
Tua voz...
Tudo mudou depois que eu ouvi a tua voz pela primeira vez,
Nunca foi o meu forte ser pela metade, me importo com o que faz bem,
Então, se um estiver completando o outro em todas as esferas de sentimentos e da vida eu não vou me incomodar com o imaginário pra sempre.
Não precisa ser amor
Não precisa ser amor, para dizer eu te amo, para permanecer ao lado, mesmo tudo desmoronando.
Não precisa ser amor, para andar de mãos dadas.
Não precisa ser amor, para elogiar e sorrir mais ao lado da pessoa querida.
Não precisa ser amor, basta cuidar, querer bem, dar e transmitir segurança.
Não precisa ser amor, para passar tempo de qualidade e sem brigas
Não precisa ser amor, para fazer uma surpresa, um agrado repentino, inesperado
Não precisa ser amor, para passar um tempo abraçados, ou falando com os olhos sem a boca dizer nada.
Não precisa ser amor, para rir da piada sem graça, se portar de maneira jocosa ou perder de propósito para gerar risadas mais altas.
Não precisa ser amor, para ser mais amável, para aprender mais com outro, ou fingir que não sabe.
Não precisa ser amor, para encher de alegria a vida do outro quando há tristeza em sua volta.
Não precisa ser amor, basta viver assim, são atitudes que falam mais alto, que a frase eu te amo.
O que esse texto nos fala?
primeiro, que você pode estar amando e não sabe.
Que as atitudes importam mais que as palavras.
E se você estiver em um relacionamento e acha que não ama, não precisa ser amor, basta agir assim.
um silêncio que nos ensina
Eu tive uma vizinha que não conheci.
Me alegrava o jeito que ela cantava.
Ouvindo os louvores que vinha do andar de cima.
Havia ritmo e uma voz que expressava alegria.
certo tempo depois, os louvores começaram a ser interrompidos .
Mais ou menos sempre por volta do mesmo horário.
Discussões ocupavam o espaço das melodias.
E depois de um tempo, já não se ouvia louvores em nenhuma parte do dia.
O tom de voz crescia, e uma alternância entre sussurros e gritaria acontecia.
até que um dia, o silêncio completo anuncia, que no andar de cima já não morava mais a vizinha.
A história que comove leitores em sua maioria.
é mais comum do que se imagina.
não se pode fazer nada por ela.
mas a maior lição que se aprende, é cuidar dos nossos próprios relacionamentos
Depois que se perde, sempre aumenta a percepção do valor que se tinha.
Ser paciente e agradecido, elogiar mais que do tecer críticas, são ingredientes de uma receita
Que quando bem feita, faz permanecer a alegria.
Eu destruidor de mim
O maior vilão da vida de um homem, é ele mesmo.
Somos induzidos a encontrar culpados, quando na verdade, nossas ações e reações são o fator determinante.
Quem dera fôssemos estimulados para autoconhecimento, descobririámos o motivo de tanta sabotagem.
Porque tamanha indecisão, porque das mesmas escolhas erradas, qual razão da procrastinação contumaz.
Vislumbramos o certo, e cedemos para mais cômodo, confortável.
A luta do gostoso versus saudável, do entretenimento e a educação, mesmo fazendo boa escolha, nunca é tarefa fácil.
Mesmo que quebremos o ciclo em uma área, nos mantemos presos em outras.
Como é difícil sair do lumping, furar a bolha, talvez a falta de um alvo bem definido atrapalhe, sem propósito, busca-se o ter, não o ser.
Cavamos nossas covas com a boca, arranjamos problemas que desejamos evitar.
Sem trazer a luz o começo, em nossa familia de origem, é impossível remediar o que precede o futuro.
Fazemos, do nosso jeito, aquilo que um dia aprendemos, não o que foi ensinado, mas nossa percepção sobre aquilo.
Demonstração de amor, noção de certo ou errado, valores, comportamentos e a capacidade de avaliar pessoas, sim julgamos com filtros adquiridos na infância.
Chamamos de evolução, a missão de colocar em pratica um novo aprendizado, abandonando antiga forma aprendida.
Só consegue quem se enxerga, a maioria de nós não, e por isso muitos nem se dão conta do problema
Estamos sempre jogando contra, somos sempre parte do problema, na maioria das vezes o criador deles.
Não basta saber, não basta concordar com o texto, se não buscarmos o autoconhecimento, continuaremos algozes de nós mesmos.