Epígrafe de Livro
L A B O R E S
Cai a noite.
O dia entrega as armas.
Mais uma batalha vencida.
Volto pra casa-refúgio da guerreira,
onde sorvo, na solidão,
eterna companheira,
o néctar das flores
plantadas ao longo do caminho.
Flores que enganam espinhos,
oferecendo, mudas,
o perfume e o humano carinho
que o tempo abduziu.
Ligo o rádio.
Ouço a canção de quem partiu,
falando de lutas inglórias,
de ilusórias vitórias,
num contexto artificial.
Amanhã será mais um dia...
Um dia a menos na insana caminhada...
Um dia a mais em direção
ao fim da jornada...
E o Sol por testemunha
de mais uma empreitada...
Outro dia trazendo em seu bojo,
como um Cavalo de Tróia,
milhões de guerreiros que,
como eu, talvez sobrevivam, por eras,
ao tempo perdido em dolorosas quimeras.
C I D A D E
O Sol amanheceu a cidade.
A Vida respirou Liberdade.
A noite fria e escura, morreu.
Passo pelas ruas e paços,
buscando um ombro amigo,
um abraço...
em olhares que o horizonte perdeu.
A Vida me empurra pela cidade,
navego neste mar de ansiedade
atrás do tempo...
atrás das horas...
Mãos que se apertam e não se tocam,
olhos que se veem e não se olham,
ombros lado a lado, em solidão!
Não sei quem morreu de verdade...
se a noite, ou o dia-cidade...
Se o ar que respiro é, assaz, Liberdade...
Se o Sol que ilumina estas ruas desertas
de amor, compaixão,
aqueceu, afinal, algum solitário...
coração.
"Todo início tem um fim, mas devemos deixar espaço para que algo novo nasça no lugar daquilo que morreu" Entre nós dois (2011, p.13)
I L U S Ã O
Quero comer tudo o que vai me matar,
Quero beber tudo o que vai me afogar,
Quero ficar na chuva, no sol,
na escuridão da noite fria,
até desbotar!
Quero sair do meu corpo e flutuar,
no mar etéreo de tua visão.
Quero me libertar desta prisão.
Quero ser o outro lado do teu avesso,
Quero ser o começo de tua revolução.
Quero viver sem perdão
e morrer no fogo de tua paixão.
Quero tudo o que for proibido,
o Universo vertido em versos sofridos,
consumidos pelo desamor!
Quero ser a flor amanhecida
no cemitério da dor.
Quero pensar que encontrei teu amor...
o abraço invisível,
o beijo impossível,
a carícia irreal...
Quero ser adorno em teu funeral,
sem corpo, sem alma...
melodia serena, apenas...
som das estrelas...Ilusão final.
Ainda penso em você...mesmo estando longe em outro estado,ainda penso em você mesmo estando com outra pessoa,ainda penso em você em tudo que poderíamos mais deixamos de viver...
Esqueça tudo que já leu sobre anjos, eles não são bons como pensava, Baldrak sempre foi um assassino, é o seu estado natural e isso nunca mudará. (Dias Diogo, "Livro - Baldrak: A profecia dragão.")
Durante a fuga para Alexandria, Ardelly e Baldrak envolveram-se amorosamente, os dois dormiram juntos em uma tenda montada durante a noite no deserto, e se conheceram densamente (Dias Diogo, "Livro - Baldrak: A profecia dragão." 2017. Pág 123)
A VIDA SEM ARTES OU ARTISTAS É UM ERRO
A pessoa não precisa necessariamente amar a outra. Só atuar bem. Ser uma excelente atriz ou ator. Ser digna de concorrer ao Oscar. O problema é que às vezes um casal feliz de bons atores se apaixona, ou seja, quer ser feliz na vida real como na ficção. Aí muitas vezes não dá certo.
Amar e ser amado é algo quase da ordem do milagre. Vai acontecer no máximo duas ou três vezes na vida. Portanto, quer viver o menos triste possível? Não perca nunca a esperança de algum dia encontrar um amor recíproco. Todavia, enquanto ele não chega, seja o melhor ator ou atriz que você puder. A vida às vezes imita a arte. A arte é o melhor caminho para se construir novas possibilidades de vida. Seja artista. Arte é vida. A vida sem Artistas ou arte é um erro. Artistas não são pessoas falsas. A loucura deles não é doença, mas saúde interior.
A Internet não é uma fonte verdadeira e nem confiável de conhecimento.Quer saber mais, procure uma biblioteca.
Palavras de paixão saltam dos lábios
e se desmancham nas palmas das mãos
Onde a eternidade prometida por ambos
perdeu-se nas promessas que insistem
em permanecer, estar presente
em nossas vidas
Tremulando como bandeiras de paz e amor
fincada nos corações
como demarcação de território
Quando o sonho tóxico tornou-se real
como antídoto do ácido que explode
e arrebenta o cérebro
Acendem-se as velas e a luz das idéias
neutraliza as alucinações
registradas no livro da vida
Senti um arrepio subir pela minha espinha, o frio e o calor se misturar e encher o meu estômago de um choque térmico instantâneo pelo seu olhar: ela estava encarando a minha alma.
Encontro
Mal saíra do Hotel Meridien, onde seus amigos paulistas o convidaram para uma caipirinha. Quase uma da tarde. Nada demais, apenas o fato de ele não tomar caipirinha. Mas era uma amizade que vinha de longe, e não seriam algumas doses que iriam separá-los. Deglutira galhardamente três doses com alguns salgados e, após ouvir as indefectíveis piadas cuja validade havia expirado, despediu-se dos casais amigos e decidiu andar um pouco.
Colhido pelo bafo quente, olhou para a direita e viu o mar indecentemente azul, que em algum ponto lon¬gínquo engolia um céu de um azul mais claro, apenas manchado de algumas nuvens esparsas de algodão de um branco duvidoso. Andar um pouco pela Avenida Atlântica e olhar as beldades em uniformes de conquista não eram o ideal naquele momento. Tinha dei¬xado trabalho no escritório e, apesar de o celular não reclamar nenhuma atenção, no momento, sabia dis¬por de menos de meia hora antes de enfrentar o mundo além túnel.
Além do túnel, acaba a Cidade Maravilhosa, era o seu bordão predileto. As malditas doses haviam tor¬nado seu andar ligeiramente menos decidido que de costume. Na verdade, não sabia como matar a meia hora. Lá longe o Posto Seis e o Forte pareciam chamá-lo. Resistiu ao apelo e, muito a contragosto, decidiu andar um pouco pela Gustavo Sampaio. Um pouco de sombra, já que os prédios projetavam suas silhuetas no asfalto e lá também havia gente, muita gente andando sem muita pressa, com o ar tranquilo e um “xacomigo” zombeteiro estampado no rosto.
Relembrou a sessão de piadas. Achava que deveria haver algum dispositivo legal, ou pelo menos um acordo, que determinasse prazos além dos quais as anedotas seriam arquivadas e frequentariam somente as páginas das coletâneas ditas humorísticas. Ter de dar risadas ao ouvir pela centésima vez a mesma piada, ou variações sobre o mesmo tema, poderia ser perigoso para a paciência dos ouvintes, ou reverter em agressão física em detrimento de um contador desatualizado. Até que seria uma boa ideia colocar avisos nesse sentido. Ou, então, seguindo o exemplo das churrascarias rodízio, introduzir o cartão de dupla face, a verde autorizando a continuação e a vermelha decretando o final da sessão. Muito compli¬cado. Como fazer no caso de divergência? Decidir por maioria simples. Ou, devido à importância do assun¬to, haveria de ter a concordância de pelo menos dois terços dos ouvintes? Os desempates seriam decididos pelo voto de Minerva do criminoso, isto é, do conta¬dor. E se houvesse daltônicos na platéia?
Será que há exame médico para garçons de rodízio, eliminando os daltônicos?
Mas, na falta de regulamentação, como resistir à sanha do contador de “causos”? Não dar risada? Interromper? Contar a sua versão? Esses expedientes eram ainda piores. Olhar a paisagem do terraço, sim, e acompanhar a gargalhada dos outros foi a solução encontrada. Providencialmente. A regulamentação ficaria adiada, procrastinada, decidiu com uma risa¬dinha interior.
E tem aquela do português que chega em casa... E aquela outra da freira que... Ah, a melhor de todas, acabaram de me contar: o Joãozinho pergunta para a professora...
Afinal, era um bom passatempo, com a vantagem de observar fisionomias alegres. As reações eram muitas vezes mais engraçadas que as piadas.
Será que eles também conheciam TODAS aquelas anedotas, ou somente algumas?
Esbarrou num transeunte, balbuciou uma desculpa qualquer e teve direito a um bem humorado:
– Ô meu, olha só, estou na preferencial!
O peso pesado já estava se afastando e as ideias voltando a se agrupar depois da desordem causada pelo baque.
A ligeira dor de cabeça pedia uma parada numa farmácia. E farmácia era o que não faltava na rua.
Entrou e aguardou que a balconista o notasse. Entre ser notado e a pergunta:
– O que deseja? se passaram alguns intermináveis segundos.
– Duas passagens para Paris em classe executiva. E ante o misto de espanto e divertimento da moça, completou:
– Bom, já que não tem, qualquer coisa para a dor de cabeça. Poderia tomar aqui mesmo? Tomou o analgésico, agradeceu e, instantes mais tarde, estava de volta à calçada esburacada.
Olhou para o Leme Palace e resolveu voltar cami-nhando pela Atlântica.
Evitou o segundo esbarrão da meia hora de folga.
Em frações de segundos, os olhares se cruzaram. Era uma beldade, outonal, mas, apreciador de Vivaldi, as quatro estações são arrebatadoras, pensou.
O andar sinuoso, os pequenos sulcos rodeando os olhos, carimbos ainda piedosos no passaporte da vida, cabelos cortados Chanel, ombros e decote plena¬mente apresentáveis e não apenas um tributo pago ao calor daquele verão, pernas bonitas, e medidas ten¬dendo à exuberância. O rosto comum, tinha o olhar faiscante a valorizá-lo.
Naquele instante, o tempo parou, não o suficiente, porém, para que, da extrema timidez dele, brotasse algo mais inteligente do que um sorriso vagamente encorajador. “Pergunte algo, as horas, o caminho para algum lugar, o nome da rua, qualquer coisa”, rebelou-se dentro dele uma voz indignada por jamais ter sido ouvida no passado.
Continuou, como que petrificado, enquanto, sem deixar de olhá-lo, ela passou por ele longe o suficiente para não tocá-lo, e perto o bastante para deixa-lo sentir o perfume discreto que a envolvia.
Ele continuou imóvel e virou a cabeça, contemplando a desconhecida, que continuava andando, afastando-se aos poucos. Alguns passos depois, ela virou a cabeça e o olhar, mesmo àquela distância, lançou um convite mudo ou, pelo menos, assim pa-recia.
Sem reação, ele a acompanhou com o olhar. Ela deu mais alguns passos e novamente olhou para trás. A voz interior estava se desesperando. Ele mesmo não entendia o porquê da sua imobilidade. A desconhe¬cida estava se afastando cada vez mais, confundia-se no oceano de cabeças e, mesmo assim, pareceu-lhe que lá longe uma cabeça estava se virando uma última vez para trás.
Era um adeus. Sentiu que o que se afastava não era uma desconhecida. Era um pedaço de si mesmo, de uma juventude da qual não havia sabido desfrutar e agora lhe acenava de longe, mergulhada num misto de lembranças e saudade.
Não somos perfeitos o que nos fazem perfeitos são nossos erros do passado que são perdoados que nos fazem perfeitos
Um dia - para todos nós - o dinheiro se multiplica etc.; o amor nos encontra; a felicidade enfim chega... Mas se não houver sabedoria nem cuidados, o dinheiro muda de mãos; o amor se faz passageiro; e a felicidade se transmuta em apenas saudade.
Algumas pessoas no auge da sua arrogância e egoísmo nos fazem sentir apenas nota de rodapé nas páginas das suas vidas. Outras, ao contrário, nos fazem sentir a epígrafe que dá sustentação ao texto todo.
Prefácio ou primeira página
Não acreditei que ainda pudesse estar ali
Depois de perceber que já havia deixado ir
De que estava mais feliz longe
De que já lhe faziam feliz
Mas também quis desligar-se do mundo
De tudo, se perdendo totalmente
Procurou pelo fogo que arde sem se ver
Mas fogo não queimava mais
Não sei se vi
Ainda estava ali
Ouvi ruídos ensurdecedores
Do curto passado seu
Foi uma decida cada vez mais profunda
No desfiladeiro da alma
Quis me arranhar e tropeçar em cada pedra
Árvore, buraco...
Aumentei o barulho do ruído
Comecei a desistir de caminhar
Só rolei, pra mais fundo...
Então ouvi uma canção
Me chamando para levantar
Mas não para voltar
Sim para continuar
"A poesia é assim: surge na imaginação, passa pelas mãos para a tinta nos papéis e depois brota no livro, eternizando em vida."
Nos livros eu me acho
me traço, me encontro, me abraço
Descubro mais sobre mim
o que move esse tuntim
Aprendo quem há dentro deste denso ser
a humana que nada nesse extenso
Desvendo meus meus gostos
os coloco expostos
na biblioteca que em mim habita
e exorbita
Me transformo
Me altero
Assim como choro e sinto afeto
É uma viagem ao universo
tão vasto, tão belo
Me desfaço em confissões
Refaço minhas profissões
Me transbordo para um mundo
tenebroso e profundo
De vilão a mocinho
Princesa a índio
Livros são paraísos!
