Disputar uma Pessoa
Há milhares de flores diferentes nesse mundo, mas não acho que haja alguém capaz de decidir se uma peônia é mais bela que uma campânula.
(Maomao)
Ser pai é mais que um destino traçado; é uma missão tecida nos fios invisíveis do tempo. Não se trata apenas de perpetuar a vida, mas de adentrar as profundezas da própria alma, onde os mistérios da existência se entrelaçam com os laços do amor. Os filhos, esses seres que nos atravessam, não precisam necessariamente brotar de nossa carne, mas devem cruzar o nosso caminho, tocando-nos e sendo tocados por nós. É quando o belo se revela, quando o inesperado se concretiza, e almas destinadas a não ser acabam se tornando.
A paternidade é um processo singular, forjado no calor das alegrias e no frio das dificuldades. Reconhecido, sim, mas quase sempre silencioso, escondido nos gestos simples e nas palavras não ditas. Em cada uma das suas ações, os pais, com o seu jeito finito de ser Deus, nos revelam o Divino que se faz homem. Semelhante a Ele nas tangentes da vida, por vezes invisível aos olhos, mas sempre presente, sustentando nosso mundo.
Talvez o maior pecado dos pais seja a ausência, essa escolha silenciosa de prover o bem-estar que, paradoxalmente, impõe a distância. E assim, de herói a vilão, transita o pai a cada repreensão, a cada tentativa de moldar o caráter, sem perceber que, em sua finitude, é reflexo de algo maior.
No entanto, é justamente nesse dilema que reside a grandeza da paternidade. Pois ser pai é caminhar na corda bamba entre a presença e a ausência, entre o querer proteger e o precisar deixar ir. É viver no eterno dilema de dar o melhor de si, mesmo sabendo que o melhor nem sempre é suficiente. Divergir, e por vezes reconhecer que o ideal nem sempre é o necessário. Mas, acima de tudo, é aprender que a grandeza de ser pai não está na perfeição, mas no amor que, mesmo imperfeito, é capaz de construir pontes onde só havia abismos e de transformar o vazio em plenitude.
E assim, na vastidão desse papel, o pai descobre que ser grande é dissernir entre o estar perto e se fazer próximo, saber que, mesmo na ausência física, sua essência perdura, enraizada no coração e nas ações daqueles que, passaram e se eternizaram por ele.
Aqueles que podem fazem. Os que não podem ensinam. E os que não podem nem uma coisa nem outra, administram.
Impostos: das duas únicas certezas da vida, a única para a qual se pode obter uma prorrogação automática.
O Brasil é como uma mulher mal vestida, mal amada e mal comida. Precisamos baixar, em vez de decretos econômicos, um decreto afetivo em relação ao Brasil.
É duro para alguém bater-se com uma sociedade dominante, mas é ainda mais duro ter de postular uma que não existe.
A gramática é a arte de arredar as dificuldades de uma língua; mas é preciso que a alavanca não seja mais pesada do que o fardo.
A verdade tem de ser passada de contrabando; é preciso difundi-la por partes, uma gota de cada vez, para as pessoas se habituarem, e não de uma vez só.
Não é possível que exista uma moral científica; mas também não é possível que haja uma ciência imoral.
A solidão é uma doença, eis o que ela é; tornamo-nos sozinhos da mesma maneira que ficamos impotentes.
