Disputar uma Pessoa
O alívio que sinto não é uma fuga covarde da realidade, é um reencontro necessário e vital com a fonte que me sustenta.
A essência do caráter é revelada quando a pressão do dilema exige uma escolha entre o ego e o outro.
O nosso amor não é vinho, é a embriaguez que resta após todas as taças, uma sede que se renova no beijo e na permanência.
A sua paixão é a força da morte e a voracidade do Sheol, uma lei mais antiga que o tempo, que não aceita resgate ou suborno.
A palavra amor é um acordo social, uma forma de nomear quando afeto e compromisso se encontram. Mas como cada pessoa sente o mundo de um jeito único, o amor que alguém diz sentir nunca é exatamente igual ao meu. Ele nasce das experiências, das perdas, do corpo e das expectativas de cada um. E aí surge o dilema: nunca conseguirei saber se o amor do outro é parecido com o meu. A angústia vem dessa dúvida. Posso ser amado pelo nome “amor” mas talvez nunca pelo que realmente sou por dentro, pelo meu jeito único de sentir. Ninguém consegue amar uma cópia perfeita do meu sentimento. Só eu sei como meu amor existe dentro de mim.
O fardo da alma não é a matéria que nos pesa, mas o custo da teatralização de uma leveza que inexiste.
Há uma serenidade selvagem em entender que certas feridas da alma não precisam de testemunhas, apenas de silêncio para cicatrizar.
A exaustão transcende o físico: é a fadiga da alma que trava uma guerra invisível nas trincheiras da própria consciência.
Existe uma estética da resistência na alma que, sob a compressão do fardo, escolheu o florescimento em vez da ruptura.
A dor se torna eterna quando lhe negamos o ofício de parteira para o nascimento de uma versão superior de nós mesmos.
A oração não é uma chave que altera o destino, mas uma infusão de potência na espinha dorsal de quem precisa cumpri-lo.
O Escudo Divino não é forjado em metal, mas em uma Paz irrazoável que desarma a lógica do desespero.
Sou o sentinela e o prisioneiro de uma guerra que nunca cessa. No tribunal noturno da mente, cada lembrança esquecida retorna como testemunha hostil, expondo minhas feridas com uma precisão cruel. O silêncio, esse juiz disfarçado de paz, sentencia-me a reviver o que tentei enterrar. Quando os pensamentos se libertam, tornam-se lâminas: cortam sem aviso, rasgam o que o tempo tentou cicatrizar. A sombra, paciente, estende sua mão, prometendo descanso em troca da rendição. Mas há em mim uma centelha teimosa, um lampejo que recusa a dissolução. Assim sigo, numa vigília interminável, onde a lucidez é tanto escudo quanto lâmina. Cada instante é um duelo, e cada suspiro, um veredito suspenso entre a luz que sangra e a escuridão que observa.
