Dinheiro por Chico Xavier

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O enredo da minha vida se baseia na intensidade.

A noite é como um mar negro que banha o céu, fazendo flosflorecer astros sem luz.

Mágoas

Inquieto
desço pela margem da tarde
para a lisura do teu colo
Piso as horas pelos caminhos do teu olhar
e mergulho no tempo
até que venhas e me beijes
com a verdade do teu riso

Nunca o tempo foi preciso
no parado das noites vazias
como então
Nunca antes a aurora
emudecera no limiar da luz
como no dia em que
te cobriste de indiferença
para ficando
sair

Navegavas pelas palavras
com rigor de pedra
à superfície do amor

Fala -me de ti


Fala-me de ti
com acentos de mar
e jeito de vento
Fala-me com a doçura dos beijos
queimando a minha pele
na ânsia do tormento
em que me gasto
expectante

As minhas palavras de amor
escreveste-as na areia
e perderam-se
as que me vieram de ti
ainda correm no meu sangue
como emocionada lava
ardente

Fala-me de ti
com o peso dos silêncios
Porque inúteis são todas as palavras
no arrepio de vontades e sedes
ou quando te recupero
das redes do amor
e te gasto
combustando-me
no teu fogo

Fala-me de ti.

O futuro é obscuro
Viva o claro - o agora.

Sonhar, simplesmente viver
Viver, simplesmente sonhar
Sonhei a saudade sozinha de ontem
vivi a vida vivendo hoje.

Sonhei

Olhos negros como a noite
Olhos penetrantes e agateados
Boca pequena
Boca suave e doce

Pele clara como o sol
Pele fina e sedosa
Gestos simples e objetivos
Gestos sábios e coletivos

Essa é a mulher que eu pretendo ter
Essa é a pessoa com quem eu pretendo viver
Esse é o ser que eu pretendo dizer:

"Você é a mulher do meu sonho
Sem você eu era tristonho
Com você eu fico zonho".

Corre-me no sangue
a tua voz ardente
som de terra
queimada
a golpes de tempo
Corre-me no corpo
a força do lume
aceso
na seda breve dos teus dedos
descuidados

Pelas Palavras

Navego pelas palavras
Rio calmo
Voz de sempre
E corro da foz à nascente
Para sentir-te

É no limite que acontece
a mudança
que me transforma
de homem em criança
Água
Vento
E onda que estremece

Sóis são os teus olhos
ao cair da noite
sóis são os sons
que ardem nos teus lábios
quando me segredas o nome

O sol?
Existe quando não estás

Ao Toque Breve

Ardo ao toque breve do teu dedo
E o mundo estremece
Vai e volta
Desaparece
No sangue ao rubro
Do meu mármore jacente
Sou o homem
O adolescente
Que traz a força de um raio
E se desfaz em lava
Incandescente
Que vê na tua boca
Uma porta do paraíso

Violeta


Pressiono-te com o olhar
Botão de nada e roxo
Na fofura do verde
Mudo-te a luz
Mato-te a sede
E espero
Desejo
Quero
Que sejas já amanhã
A certeza
A cor
O aroma
A beleza.
E tu, amor, tardas
Demoras
Pedes tempo para a perfeição.
Para abrir a camisa
Anil e lisa
Do teu coração.

Hoje é o dia
Da euforia
Da aclamação
E tu, Flor
Com F grande e todos os estames
Quero que me chames
Com o teu grito amarelo
Ai música linda
Ai violeta ainda
Sem paralelo

As Palavras

As palavras ganham asas
E é provável que voem
No azul, até ao infinito.
As palavras rasam a verdura
Dos prados e mergulham fundo
Em lamas espúrias.
Algumas, porém, anoitecem...
Como se uma ave
Me sangrasse na mão
Uma pedrada.

Sei


Sei-te noite dentro
forma quente no escuro
corpo indiferente e vazio
estátua do que procuro

Sei de linhas e de voltas
bocados de um outro fazer
da maciez dos recantos
aos roteiros do prazer

Toco e logo te quebras
como pedra que se fende
a golpes de marreta

solta-se o corpo em festa
não há fome como esta
nem fogo que nos derreta

Desejo

Quando nos descobrimos com sede
E nos bebemos
Quando famintos nos saciamos
Na lava que nos acende


Deixa que corram os sentidos
Nessa louca dança do viver
Deixa que o sangue também corra
Aos borbotões
Pelas nossas veias em festa
E antes que se acabe o que resta
Deste universo de sedes e corações
Ama-me outra vez.

Porque me olhas


Porque me olhas
Voo sem medo
Por lugares que não sei
Ouso a altura
Nos teus braços
Meus miradouros do mundo
Meus caminhos de ir e vir
Meus Sítios de estar e de ser
Cinza e labareda
Flor, pó e pedra
E esta fome de distância
Esta sede de chegar
Ao âmago de ti.

Onde queres o negro da noite
Estojo das mais belas estrelas?
E o meu olhar a arder
Como lembrança de outros voos?

Diz-me de que fonte é a água
e o céu que te apetecem.

Não quero guerra nem paz
nem saber se há céu, mar,
terra, flores, ar
passarinhos, outros bichinhos.

Não vou lembrar de safados
de honestos, dos modestos,
dos cometas dos planetas
dos continentes
de idiomas diferentes
hoje eu quero o vazio
o nu.
que importa o vento
o frio ou o calor
quero o nada.
Nem sonhos
menos ainda realizações
nem fastio me atrai.
candura, ardil
frescura ou secura
tanto faz,
não quero.
Eu não quero existir
sentir.
Não estou a fugir
só não quero
nem fingir.
Me dispo de tudo,
esvazio.

Que importa a poluição
a má intenção
que interessa a solidariedade
o rancor, o amor?
Fico parada, sem pensamento
nem que seja por um momento
não quero saber de nada.

Sentinela do Tempo


Sentinela do tempo,
Vigio o teu corpo
Adormecido
E aguardo por ti
À esquina da aurora
Plena de vida
Para partilhar

Mais que a boca
Beijam-me os teus olhos
Na lisura da manhã
Mais que o corpo
Afagam-me os teus dedos
Sob a coberta de lã
E sem palavras ardemos
Carne, sangue e beijos
Com sabor de hortelã

Outra Pele

Sinto a luz da tarde
como outra pele
e saio de mim

O gosto é acre
no tempo das promessas
e o ar anil quando arde
no teu corpo
de seda e jasmim

Não leio palavras nos teus olhos
mas sei a prata dos silêncios
e o barulho dos sentidos

Sei que pelo amor
até as pedras
adoçam os gumes
e se moldam à mão
que lhes trava o voo
Pelo amor
sangram as escarpas
seixos e papoilas

Há vermelho nos trigais

Ai tanto caminho andado


Ai tanto caminho andado
Tanto tempo
Tanto fado
Tanta pedra no meu prado
Tanta cinza
Nas minhas nuvens de Maio

Ai tanto caminho andado
Em silêncio
Em agonia
Antes de ter-te a meu lado
A partilhar o telhado
Na minha terra bravia

Ai tanto caminho andado
Na monda dos meus trigais
Sede de Agosto e papoilas
Água fresca
Céu aberto
Riso aceso
E a tua boca tão perto

Sou aquela que
Busca os sonhos perdidos.
Recruta novas lembranças,
Exercita a arte de viver
em paz em meio ao caos.

Sou aquela que
busca um caminho diferente
Porque já há muitos
remando conforme as marés.