Edgardo Xavier

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AMAR É CRESCER POR DENTRO

Contigo todas as palavras
São de renda ou de cristal
Contigo vestem-se de prata as manhãs
E as horas
Suspendem-se dos teus olhos
Imóveis
Como fotos do tempo

Sou a pedra em que te apoias
Acordo ao som do teu nome
E cego para tudo o que não seja
A luz que vem de ti

Cantam em mim as tuas alegrias
Soam cá dentro as tuas mágoas
Sou toque de ave-marias
Sou som de todas as águas
Sou o arrepio das folhas
Na bebedeira do vento
Amar é ser tudo isto
Amar é crescer por dentro

Sintra, 04/05/2007
Edgardo Xavier

Inserida por solitaria543

Paixão

Paixão é uma cascata de luz
No rio cego da noite
Um estrondo no ermo da nave gótica
A violência doce de um fim anunciado
O tudo e o nada
Do tempo que nos remete
Sem mapa
Para a certeza das galáxias

Sem ti sou uma pedra aos tombos
Na calçada
Umas vezes batida
Outras parada

Só nos teus olhos me faço ave
E voo sem destino
À gargalhada.

Mágoas

Inquieto
desço pela margem da tarde
para a lisura do teu colo
Piso as horas pelos caminhos do teu olhar
e mergulho no tempo
até que venhas e me beijes
com a verdade do teu riso

Nunca o tempo foi preciso
no parado das noites vazias
como então
Nunca antes a aurora
emudecera no limiar da luz
como no dia em que
te cobriste de indiferença
para ficando
sair

Navegavas pelas palavras
com rigor de pedra
à superfície do amor

Vontade

Despida de roupa
e de falsidade
quero a nudez pura
na plenitude da tua pele
acesa
Quero-te assim
iluminada e tensa
como quem pensa
que me pode perder
e só me tem a mim

Fala -me de ti


Fala-me de ti
com acentos de mar
e jeito de vento
Fala-me com a doçura dos beijos
queimando a minha pele
na ânsia do tormento
em que me gasto
expectante

As minhas palavras de amor
escreveste-as na areia
e perderam-se
as que me vieram de ti
ainda correm no meu sangue
como emocionada lava
ardente

Fala-me de ti
com o peso dos silêncios
Porque inúteis são todas as palavras
no arrepio de vontades e sedes
ou quando te recupero
das redes do amor
e te gasto
combustando-me
no teu fogo

Fala-me de ti.

Por coração uma pedra
e no corpo este vazio
Crescem a sede
e as mágoas
no parado deste frio

Se vens acordo
e esqueço
que o coração de pedra não sente
Volto a ser rio

É em ti que moro
e vivo
que visito os horizontes
águas
serras
montes
que trazes no teu olhar
Se tu és fogo
tempo
e luz
Eu sou o mar

Não leio palavras nos teus olhos
mas vejo com a sua luz
um tempo de céu
um paraíso
um mar que me seduz
Não leio palavras nos teus olhos
leio a prata dos silêncios
e o barulho dos sentidos

Corre-me no sangue
a tua voz ardente
som de terra
queimada
a golpes de tempo
Corre-me no corpo
a força do lume
aceso
na seda breve dos teus dedos
descuidados

Apolo

Vens do fundo desta noite
Como uma aurora vibrante
Trazes-me o sol e o tempo

Doces
Como mel a escorrer
Da memória

Vens do fundo desta noite
E do centro da glória
Lavar-me o olhar
De silêncios e deserto
Desperto
Sou a tua seara em flor
O teu azul do mar
O teu céu
Sou o Apolo que viaja
Nos teus olhos

Pelas Palavras

Navego pelas palavras
Rio calmo
Voz de sempre
E corro da foz à nascente
Para sentir-te

É no limite que acontece
a mudança
que me transforma
de homem em criança
Água
Vento
E onda que estremece

Sóis são os teus olhos
ao cair da noite
sóis são os sons
que ardem nos teus lábios
quando me segredas o nome

O sol?
Existe quando não estás

Ao Toque Breve

Ardo ao toque breve do teu dedo
E o mundo estremece
Vai e volta
Desaparece
No sangue ao rubro
Do meu mármore jacente
Sou o homem
O adolescente
Que traz a força de um raio
E se desfaz em lava
Incandescente
Que vê na tua boca
Uma porta do paraíso

Violeta


Pressiono-te com o olhar
Botão de nada e roxo
Na fofura do verde
Mudo-te a luz
Mato-te a sede
E espero
Desejo
Quero
Que sejas já amanhã
A certeza
A cor
O aroma
A beleza.
E tu, amor, tardas
Demoras
Pedes tempo para a perfeição.
Para abrir a camisa
Anil e lisa
Do teu coração.

Hoje é o dia
Da euforia
Da aclamação
E tu, Flor
Com F grande e todos os estames
Quero que me chames
Com o teu grito amarelo
Ai música linda
Ai violeta ainda
Sem paralelo

As Palavras

As palavras ganham asas
E é provável que voem
No azul, até ao infinito.
As palavras rasam a verdura
Dos prados e mergulham fundo
Em lamas espúrias.
Algumas, porém, anoitecem...
Como se uma ave
Me sangrasse na mão
Uma pedrada.

Sei


Sei-te noite dentro
forma quente no escuro
corpo indiferente e vazio
estátua do que procuro

Sei de linhas e de voltas
bocados de um outro fazer
da maciez dos recantos
aos roteiros do prazer

Toco e logo te quebras
como pedra que se fende
a golpes de marreta

solta-se o corpo em festa
não há fome como esta
nem fogo que nos derreta

Desejo

Quando nos descobrimos com sede
E nos bebemos
Quando famintos nos saciamos
Na lava que nos acende


Deixa que corram os sentidos
Nessa louca dança do viver
Deixa que o sangue também corra
Aos borbotões
Pelas nossas veias em festa
E antes que se acabe o que resta
Deste universo de sedes e corações
Ama-me outra vez.

Porque me olhas


Porque me olhas
Voo sem medo
Por lugares que não sei
Ouso a altura
Nos teus braços
Meus miradouros do mundo
Meus caminhos de ir e vir
Meus Sítios de estar e de ser
Cinza e labareda
Flor, pó e pedra
E esta fome de distância
Esta sede de chegar
Ao âmago de ti.

Onde queres o negro da noite
Estojo das mais belas estrelas?
E o meu olhar a arder
Como lembrança de outros voos?

Diz-me de que fonte é a água
e o céu que te apetecem.

É pele
carne
aroma
e sabe-me a ti
És tu
na interioridade
da memória
a viver neste corpo
sem amor
a própria história

Inserida por solitaria543

Mar de estrelas
infinito constelado
e eu contigo a meu lado
homem
e nú
sedento como areia
num deserto
E a tua água tão perto

Sentinela do Tempo


Sentinela do tempo,
Vigio o teu corpo
Adormecido
E aguardo por ti
À esquina da aurora
Plena de vida
Para partilhar

Mais que a boca
Beijam-me os teus olhos
Na lisura da manhã
Mais que o corpo
Afagam-me os teus dedos
Sob a coberta de lã
E sem palavras ardemos
Carne, sangue e beijos
Com sabor de hortelã

Entre Nós

Entre nós
Os silêncios
São palavras
Penduradas no olhar

Entre nós
O desejo
É o que vejo
À flor da tua pele suada

E sem palavras
Dizemos tudo
Sobre o mar do nosso fogo

Outra Pele

Sinto a luz da tarde
como outra pele
e saio de mim

O gosto é acre
no tempo das promessas
e o ar anil quando arde
no teu corpo
de seda e jasmim

Não leio palavras nos teus olhos
mas sei a prata dos silêncios
e o barulho dos sentidos

Sei que pelo amor
até as pedras
adoçam os gumes
e se moldam à mão
que lhes trava o voo
Pelo amor
sangram as escarpas
seixos e papoilas

Há vermelho nos trigais

Duelo



À carne expectante
anuncio o meu corpo
em trovoada de sentidos
Há dores
cheiros
gemidos
na tua terra queimada

Na promessa de redenção
crestam-se os lábios
E as chagas

É tempo amor
Sangra-me a sede mais feroz
e mistura a tua noite
ao meu veneno

Afecto

Recupero-te
na febre do tempo que arde
como a ternura
mansamente

Sou como pedra jacente
na melancolia dum lago
expectante

Na minha boca
a tua sede
Incendeia a madrugada

Ai tanto caminho andado


Ai tanto caminho andado
Tanto tempo
Tanto fado
Tanta pedra no meu prado
Tanta cinza
Nas minhas nuvens de Maio

Ai tanto caminho andado
Em silêncio
Em agonia
Antes de ter-te a meu lado
A partilhar o telhado
Na minha terra bravia

Ai tanto caminho andado
Na monda dos meus trigais
Sede de Agosto e papoilas
Água fresca
Céu aberto
Riso aceso
E a tua boca tão perto