Depoimento para uma Garota que eu Amo
- Você é uma menininha.
- Perto de você eu consigo ser e você não sabe o prazer que isso me dá.
- Se sentir menina?
- Estar com um homem, eu só andei com moleques nos últimos anos !
Dê-me uma alavanca longa o suficiente e um suporte forte o suficiente que eu poderei sozinho movimentar do mundo.
A base de toda a Metafísica
E agora, cavalheiros, eu vos deixo uma palavra que fique nas vossas mentes e nas vossas memórias como princípio e também como fim de toda a metafísica. (Tal qual o professor aos estudantes ao encerrar o seu curso repleto).
Tendo estudado antigos e modernos, sistemas dos gregos e dos germânicos, tendo estudado e situado Kant, Fichte, Schelling e Hegel, situado a doutrina de Platão, e Sócrates superior a Platão, e outros ainda superiores a Sócrates buscando pesquisar e situar,
Tendo estudado bastante o divino Cristo, eu vejo hoje reminiscências daqueles sistemas grego e germânico, deparo todas as filosofias, templos e dogmas cristãos encontro, e mesmo sem chegar a Sócrates eu vejo com absoluta clareza, e sem chegar até o divino Cristo, eu vejo o puro amor do homem por seu camarada, a atração de um amigo pelo amigo, de uma mulher pelo marido e vice-versa quando bem conjugados, de filhos pelos pais, de uma cidade por outra, de uma terra por outra.
Eu fora obrigada a entrar no deserto para saber com horror que o deserto é vivo, para saber que uma barata é a vida. Havia recuado até saber que em mim a vida mais profunda é antes do humano – e para isso eu tivera a coragem diabólica de largar os sentimentos. Eu tivera que não dar valor humano à vida para poder entender a largueza, muito mais que humana, do Deus. Havia eu pedido a coisa mais perigosa e proibida? arriscando a minha alma, teria eu ousadamente exigido ver Deus?
E agora eu estava como diante Dele e não entendia – estava inutilmente de pé diante Dele, e era de novo diante do nada. A mim, como a todo o mundo, me fora dado tudo, mas eu quisera mais: quisera saber desse tudo. E vendera a minha alma para saber. Mas agora eu entendia que não a vendera ao demônio, mas muito mais perigosamente: a Deus. Que me deixara ver. Pois Ele sabia que eu não saberia ver o que visse: a explicação de um enigma é a repetição do enigma. O que És? e a resposta é: És. O que existes? e a resposta é: o que existes. Eu tinha a capacidade da pergunta, mas não a de ouvir a resposta.
Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro.
E quando você vai embora, eu quero que você volte mais uma vez. É que quando você volta, eu me lembro que as coisas nunca vão ser do jeito que eu queria, e aí eu tenho certeza que se for assim eu fico melhor sozinho. E quando você vai embora de novo, eu me lembro que eu prefiro te ter pelo menos por perto do que não te ter de jeito nenhum.
Uma vez me disseram que eu jamais amaria dum jeito que “desse certo”, caso contrário deixaria de escrever.
Mas se eu não prestava, eu fora tudo o que aquele homem tivera naquele momento. Pelo menos uma vez ele teria que amar, e sem ser a ninguém – através de alguém.
Eu choro contraída, como se alguém estivesse perfurando minha alma com uma lâmina enferrujada, choro como quem implora, pare, não posso mais suportar.
''E se eu ao menos fosse considerada uma aliada sua, mas não, eu era mais um elemento do exército oposto,aquela que estava mais perto e que podia receber seus golpes mais certeiros. Você nunca foi violento, mas como era cruel.''
Eu não vou te pedir nada. Não vou te cobrar aquilo que você não pode me dar. Mas uma coisa, eu exijo. Quando estiver comigo, seja todo você. Corpo e alma. Às vezes, mais alma. Às vezes, mais corpo. Mas, por favor, não me apareça pela metade.
Eu via muto bem que estavam em questão movimentos de uma subjetividade fácil, que acaba logo, assim que a exprimimos: gosto/não gosto: qual de nós não tem sua tábua interior de gostos, desgostos, indiferenças? Mas precisamente: sempre tive vontade de argumentar meus humores; não para justificá-los, menos ainda para preencher com minha individualidade a cena do texto, mas, ao contrário, para oferecê-la, estendê-la, essa individualidade, a uma ciência do sujeito, cujo nome pouco me importa, desde que ela alcance (o que ainda não está decidido) uma generalidade que não me reduza nem me esmague.
Eu só quero uma coisa: que baixe um disco-voador e me leve pra bem longe desta mesma ci-vi-li-za-ção de pessoas cinzentas.