Depoimento para Mim Mesmo
O que os outros recebem de mim reflete-se então de volta para mim, e forma a atmosfera do que se chama: eu.
Obrigado por teres tirado um tempo do teu dia para pensar em mim e te colocares a escolher um presente, ainda que simples, só para me agradar. Você me faz sentir especial.
Quando eu olho no seu olho, eu sou você e você é eu. Se você tiver medo de mim é porque você tem medo de você.
Para mim, atuar é a forma mais lógica para as neuroses das pessoas se manifestarem, nesta grande necessidade que todos temos de nos expressar.
Tudo que sei é que você quis partir, eu quis partir você, tirar você de mim.
Demorei pra esquecer, demorei pra encontrar um lugar onde você não me machucasse mais.
Ai de mim, é este o meu desgosto: introduziram, mentindo, prémio e castigo no fundo das coisas - e, agora, também no fundo de vossas almas, ó virtuosos.
O melhor de mim pode ser o pior para você, e vice-versa.
Mais importante que as virtudes, são as preferências.
Mas agora tudo parece falso em mim, tudo parece de faz-de-conta, por isso estou te escrevendo em vez de telefonar, optei por escrever porque minhas palavras escritas seguem do jeito que sempre foram. (...) Impossível continuar vivendo sem autenticidade. (...) Eu estou igual, com a diferença de que meus olhos estão abertos. (...) Só me interessa a verdade, só me interessa a vida, me interessa o meu sorriso (...) É com o rosto que a gente abraça as pessoas (...) Quero ser vista, quero me ver, mas no passado, quero retroceder de novo, quero que o tempo volte pra trás, não para ser mais jovem, mas para ser mais sábia.
Navegar é preciso; viver não é preciso.
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Quero acolher com generosidade o que em mim se manifesta de forma incorreta. Não vou pedir permissão aos outros para desenvolver a mim mesma, mando no meu corpo e em tudo o que ele confina, coração incluído, consciência incluída.
Talvez eu esteja com receio de ter ido longe demais desta vez e esteja preparando a minha defesa, caso alguma coisa não saia como esperado. O que eu espero? Não espero nada, espero tudo, estou à deriva nessa aventura. Eu queria cristalizar esse momento da minha vida, mas estou em alta velocidade, e não sei se quero ir adiante, só que eu não tenho opção. Acho que é isso. Eu tinha opções, agora não tenho. Não consigo parar esse trem."
Eu nunca amei aquele cara, Lopes. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada.
Tenho que ter paciência para não me perder dentro de mim: vivo me perdendo de vista. Preciso de paciência porque sou vários caminhos, inclusive o fatal beco sem saída. Sou um homem que escolheu o silêncio grande. Criar um ser que me contraponha é dentro do silêncio.
Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão.
Fico tão cansada às vezes, e digo pra mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. E fumo, e fico horas sem pensar absolutamente nada: (...)
Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de rigidez, mas não sei se você concorda, as coisas por natureza já são tão duras para mim que não me acho no direito de endurecê-las ainda mais.